terça-feira, 10 de abril de 2012

O Quarto




Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.



Aos que andam por ai sem a direção do tempo e que magoam o vento com soberbas intrujices, venho ao largo pensar que não há como se demorar em perceber que a vida reflete os sons que brota da verve do mais ingênuo ser, quando em ocasião a ação tece suas subjetividades, falando por quereres que o mundo o entenda como um ser que pertence a todas as dores do humano. O que sinto ao me referir ao tempo em que vivo, e assim me viro como posso, vai muito além das convenções, haja vista o fato de que muitos homens sobrevivem em cidades infectas e cheias de corruptas mentes e tem poucos amigos e dormem em camas indolentes e fingem acreditarem que as chamas do fogo dos astros não são eternas, mas quando clamadas em adoração, são como a eternidade batendo a porta de deuses e adeuses. Tenho cá poucos amigos e me relaciono como os ingleses a sua parte; quando muito, estou entregue a devaneios poéticos e nestes dias minha vida tem sido considerada um trago só, repleta de tédio, por não ter com quem conversar sobre os seus acontecimentos habituais. No mais, venho bebendo muito e me sinto triste, desconfortavelmente, demasiadamente triste, frio e silencioso, mesmo quando sozinho vivemos as fantasias que nos perturbam a lucidez. E estando a definhar, sinto-me profundamente insultado, visto que sou um homem de arte e estudos, dono de outros ares, membro de outras eras. Agora já, perto de sentir os ímpetos do romantismo, me acho debilitado e profundamente angustiado, amargurado por assim dizer com tudo que se possa dar um nome ou ocupar-se de um sentido largo; logo eu que jurei nunca mais sentir nada, nem por amigos, nem por amantes, nem por qualquer coisa que o valha. Cá estou eu, franciscano como sempre fui, a viver do poético som dos espaços em um simples quarto de acenos soturnos em boas e bem vindas passagens. Aqui se finda a paz neste quarto de belas brasiléias, onde jazem amores e desejos que pisam a terra com passos de encantados e que por hora adormecem os afagos sonoros da saudade. Aqui se finda a saudade do eterno retorno, profundamente triste, talvez seja esta vida dourada que levo a beira dos dias, talvez seja esta verve cheia de infinitos, rancorosa e repleta de desassossegos, agora que decido me entranhar em orações e silêncios ao passo que me refreio ao descambo dos dias quando talvez precise mesmo é de uma longa viagem para que ao gosto dos românticos, possa me refestelar de um banho por dentro.


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