quarta-feira, 29 de maio de 2013

Caros Amigos, Colegas, Professores!

Caros Amigos, Colegas, Professores!


Gostaria de dividir com todos vocês a publicação do texto "O Ofício do Arqueólogo: O Currículo em Tempos de Subjetividade e Crise" pela Revista da UNICAMP, fruto de uma conferencia proferida nesta Universidade em meados deste ano.  É com grande satisfação que comunico o lançamento dos Anais da I Semana de Arqueologia da Unicamp - "Arqueologia e Poder", publicado como edição especial da Revista de Arqueologia Pública (ISSN 2237-8294), publicação esta vinculada ao Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/NEPAM/UNICAMP).

O acesso aos textos que foram apresentados durante o evento, divididos em seções temáticas, pode ser feito por meio do link: http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/

Agradeço mais uma vez a todos e desejo  uma ótima leitura a todos!

Gênesis Naum de Farias
Universidade Estadual do Piauí - UESPI
São Raimundo Nonato

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O Adeus às Armas



Núcleo de Estudos Foucaultiano© Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxuesco® -Prof.º da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.

 


Num dia de Primavera, onde se inventam paixões e se enviam flores aos amores tardios, o ancião Alcestes Saladino se despede dos seus segredos ao descrever seus retratos mais íntimos numa saudade tão densa que o fazia definhar como um cego perdido no mundo que criou para si ao recordar-se dos anos que se perderam no estro com tantas incertezas. O cenário parecia um idílio romântico, onde toda fortuna parecia recortada por tantas angústias que nem se apercebia que o dia dava lugar à noite que chagava com tanta pressa, anunciando o brilho de outras estrelas naquele céu de almirante. Estava decidido a fechar-se no silêncio de si e entregar-se às preces para seguir o ritmo dos ciclos litúrgicos, através de retiros espirituais. Em comunhão, entregou-se aos pensamentos na esperança de encontrar conforto às suas desilusões clamando aos céus: vocatus atque non vocatus, Deus aderit (Chamado ou não, Deus estará presente). Era um começo de noite e passava sua vida a limpo perguntando-lhe pelos desencontros do arrebol e suas eternas despedidas. Ele entendia suas mágoas como uma troça de fim de festa. Tardiamente, percebia que não conseguiria se perdoar, por ter se fechado durante muito tempo no orgulho de si, em proposições de um delírio gutural que fazia do instante um caso sem reverso. Saladino tinha mania de cantarolar versos de toda gente e aos poucos foi se acostumando a solfejar alguns que lhe insurgia na memória, mas continuou sua desdita na ânsia de falar do seu eu em pensamentos longos, que naquele início de noite duraria uma eternidade. Dizia-se Poeta e como tal, tinha que sucumbir ao sofrer. O momento era de lembranças esquecidas, quando de repente se recordou de um lamento errante. Era um lindo poema nunca antes composto, feito um banquete de alegria que se perdeu com o vazio da sina: “Tu, único sol, vem! Sem ti as flores murcham, vem! Sem ti o mundo não é senão pó e cinza. Este banquete, esta alegria, sem ti são totalmente vazios, vem!”. A seqüência de imagens sonoras não parou por aí e outros versos bateram-lhe as portas da percepção. Um destes foi rapidamente lembrado e retirado da lavra de um português muito antigo que disse em prece da casualidade que toda saudade era uma pedra no cais. Mas aquele velho mouro não conseguia calar a mente que fervilhava em constipações ancestrais. Retorcendo-se em seus próprios sentimentos, dizia para si da saudade lírica das noites de boêmia, pois nestas madrugadas fora amado e amou platonicamente a Flor do Lácio, quando na distância do cais, a saudade se fazia temerária, o amor engravidava sua mente; até que um dia “O teu amor veio até meu coração e partiu feliz. Depois retornou, vestiu a veste do amor, mas mais uma vez foi-se embora. Timidamente lhe supliquei que ficasse comigo ao menos por alguns dias. Ele se sentou junto a mim e se esqueceu de partir e enfim, partiu...”. Alcestes Saladino não era de embromo, e suas referências sentimentais se perdiam no silêncio daquele espaço estrelado onde mãos e pinceladas magras, traçavam o vazio da devoção. Queria que o curso da noite desalinhasse seu último exílio na ausência de cores sem a presença de sons nem palavras. Agora entendia a experiência de Santo Agostinho em suas Confissões: “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei. / Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-te! / Estavas comigo e eu não estava contigo. / Eu tenho sede e fome de ti. / Tu me tocaste e ardi no desejo de tua paz... / E nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em ti”. Ele parou um instante e refletiu mais uma vez sobre as afirmações que lhe saíam da alma e, feito um transeunte, retomou seu discurso, silenciado pela imponência da comunhão vivida em outros tempos, quando a linha austera da vida lhe cobrava alguma coisa daquele cenário. A conclusão daquela proclamação contorcia tanto aquele velho mouro que a certo momento disse para si: ─ O amor me matou e hoje sou uma personagem que já nasceu desse teatro tétrico, construído para as tragédias do labor do concreto, retratado no funéreo silêncio de emoções estáticas... ─ O langor daquela frase calou-o por um instante, e novamente fez renascer as virtudes nobres de um cavaleiro melancólico que se lamentava ao se referir à sombra nociva que se tornou com o passar dos dias, calado pelo desdém do sentimento que insistia vivo. Afinal, refez projetos, mudou seus feitos, compreendeu os erros da juventude e encontrou um jeito próprio de enfeitar as noites do seu bem. Já não havia nenhuma possibilidade de se tornar o homem que foi em outros tempos: amável, amante, sincero, correto, atencioso, amoroso, gentil e generoso. Resolve então pensar no consolo dos livros, amigos tão fiéis. Era o retorno à essência do que mais gostava de fazer: ler e sonhar com as estrelas, feito um Decifrador de Acasos. Era um desfecho avassalador para se viver ao longo de uma Primavera: “(...) conduzir-me sem ideias, sem interesse, no meio do desencadear de interesses confessados e inconfessáveis. Sou uma espécie de imposto mínimo, e por isso nem sou malandro, nem mendigo, nem um homem como qualquer, porque não quero mais do que isso”. ─ Ao troar daquela cena, parou de descrever-se por alguns instantes e, depois de um longo período, contemplou aquele brado tardio, com o olhar de quem vê e não enxerga, parado para o poente, até perceber que a noite pairava nos meandros e sua triste figura esperava apenas o conforto daquelas inquietas existências. Naquele instante de solidão, falou a Deus e entrou novamente em comunhão, silenciado pelo Infinito, ao perceber que aquele era o seu tempo de transcendência... Sua displicência foi tanta que se perdeu no sinuoso verso que à memória soprava-lhe: “Amo-te tanto Jarina, / Nesta distante insensatez / Onde a alma canta as ternuras / Da solidão da paisagem/ Na imensidade fugidia do silêncio / Ao embriagar das despedidas...”.

 

domingo, 5 de maio de 2013

A Redenção do Instante Com Deus


 
 
Núcleo de Estudos Foucaultiano© Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxuesco® - Prof.º da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.


 
Hoje acordei de um sonho que me colocou frente a frente com os reais sentidos da transformação. Era a idéia de um desfecho sonolento que aos poucos ia se refazendo em lembranças de um período vivido, cheio de grandes afirmações e projetos. Era a própria vida que transcorria em imagens nem sempre levada a sério pelo que se queria. Afinal, Deus havia sido esquecido, ficando apenas na concepção da forma sem nunca ser lembrado como criação. O amor é a criação de tudo. A forma é o resultado de toda criação. Ficar somente no estágio da forma é simplesmente sentir que a criação deu lugar apenas aos meandros de uma estética disforme, vazia, sem projetos, sem sonhos, sem desfecho, sem pureza, sem acordos de perdão.

O homem quase sempre vive preso ao som funéreo que a modernidade lhe impõe como parte de um delírio gutural que ao fechar-se em si, nos processos de individualização, deixa de perceber a grandeza manifestada pela motivação que nasce própria de um aceno de comunhão que só pode vir de Deus. Abandonar-se sem Deus é o mesmo que definhar por entre mundos de subjetividade que quase sempre só leva os indivíduos ao abandono de pessoas queridas, ao abandono de coisas idealizadas e projetos espirituais que por si só deixam de refletir a motivação que nos é própria, quando se busca na espiritualidade ou por meio dela, as grandes conquistas que se deixaram perdidas em algum canto da existência.

Ao tentar dormir, pensando em tudo que perdi, acordei lembrando que o outro (individuo) nunca quer somente matéria, nem quando a mesma se torna coisa ou se coisifica, porém o que se quer é o que de melhor o outro tem; ou seja, o brilho, o encanto, a motivação, as palavras de conforto e todo o brilho poético de algo que ficou para trás porque fora deixado de lado na ânsia de se encontrar com o nada de tudo. Agora era perceptível que as perdas se davam por entre aquelas reflexões. Foi impactante pensar que o melhor de tudo fora esquecido em função de um orgulho sem sentido que não me levou a lugar nenhum.

Voltar-se aos princípios da criação era o que de mais importante se poderia fazer a partir daquele instante. Nada mudaria no outro, mas no si de cada um quando em estado de maturidade, tudo e todos se colocariam no seu devido lugar. Era hora de voltar a Deus com a mesma comunhão dos primeiros instantes para reformular anseios e projetos perdidos, quando o mais importante já havia se perdido, o amor pela vida e o amor pelas coisas mais simples e importantes que a vida podia oferecer. Tudo estava por se ressignificar no limbo das existências.

Era hora de começar de novo a ser grande, influente, motivador, e em comunhão, traçar novos planos para este futuro incerto, pois de incertezas já se tinha vivido metade da própria vida. É hora de se conjugar outros planos. O amor que se perdeu se perdeu: as coisas que se perderam no curso da história precisavam ser novamente conquistadas. Os anseios de mudanças, a poesia de outros tempos, a alegria de outras conquistas, o amor e sua criação mais fluente, o brilho e seu apogeu mais tardio. Era hora de viver novamente tudo com a mesma alegria de outros tempos.

Porém ao acordar envolto em tantas lembranças percebi que poderia mudar e, mudar para se melhorar. Primeiro, era preciso viver em comunhão sem tantas ausências, sem tantas atribulações, sem tantas preocupações com o presente. O Segundo passo seria viver e voltar à comunhão com o Deus da transfiguração que é a própria criação, para depois seguir o curso da própria história sem titubear em tristezas tão sem sentidos. Era chegado o momento de voltar-se aos pensamentos grandiosos, cheios de poesia, sem se deixar levar por ideias estáticas e vazias. Era hora de replanejar o próprio mundo que renascia vivo, e por meio da comunhão, voltar a acreditar que somos indivíduos plenos de nossas insanidades, mas se recheados por dentro, pela espiritualidade que vem dos céus, a vida poderia ser mais digna de se viver no arrebol de cada cotidiano.

No final desta reflexão, já acordado e plenamente consciente dos pensamentos que burilavam minha alma, me conscientizei de que era preciso se fortalecer na fé de que os outros indivíduos não querem nossas tristezas nem nossos pesadelos, antes eles querem o que de melhor podemos lhes oferecer em grandes instantes de alegria e convicção. A convicção de que tudo que nos é mais importante cativa o outro para nos aceitar como realmente somos. Não há mais lugar para tristezas sem sentido, nem para interpolações sem grandezas.

A poesia habita aí neste lugar de sossego, se colocando no mundo pela perfeição que exaltamos ao exalarmos o que de melhor Deus nos fez ver nas ações do cotidiano. Que destas reflexões renasça o Poeta que ficou esquecido no passado, para daí fazer-se reconciliado com a própria vida, já agora cheia de encantos e pronta para entender que Deus hoje fez morado em seu coração.

O tempo da mudança e da esperança ressurgiu. É hora de reconfigurar os pedaços que ficaram das coisas que do passado serviram para obstruir os projetos maiores que a vida tem a nos oferecer. Por isto, neste dia de grandes descobertas é preciso reviver grandes projetos para dar lugar aos anseios de Deus em nossas vidas. Fiquem todos na santa luz que brilha a partir deste novo dia que nasce com os primeiros raios do sol. Que este dia floresça no coração de quem vos escreve e para quem vos escreve. Fiquemos em paz e que esta mesma paz ilumine os nossos dias...
 

Petrolina, Pernambuco. 25 de Abril de 2013.