terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Família Naum de Farias


Família Naum de Farias



(...) No livro do Armeiro-mor dos Farias, João Du Cros deixa registrado a história desta família tida como uma das mais antigas de Portugal, pertencente ao Morgado de Faria, termo que caracterizava a Vila de Barcelos, no sopé do monte da Franqueira, em cujo cimo se ergueu o Castelo dos Faria. Há registro que mostra a origem desta família no enleio toponímico de perspectiva geográfica, por isso a insígnia que os representa se projetou em outras famílias nos princípios do Reino de Portugal, tendo a condição geográfica como elemento de fundação. Do monte da Franqueira se veem ainda as ruínas do castelo medieval que abrigou em tempos remotos Cavaleiros Templários, oriundos da Igreja Romana, que defendeu Gonçalo Nunes de Faria, em tempos de guerra contra Pedro Rodrigues Sarmiento, adiantado de Galiza, que o tinha sitiado, em tempos de El-Rei Dom Fernando. Tudo isto ocorreu quando Nuno Gonçalves de Faria presenciou a morte do pai, que estava prisioneiro dos Castelhanos, por não conseguir persuadi-lo a se entregar. Foi Nuno Gonçalves de Faria, progenitor desta família, sendo ele o Alcaide do Castelo de Faria. A descendência deste herói é das mais ilustres, visto que seu sangue misturou-se às principais Famílias Portuguesas. (...) Deste contexto de linhagem se instituiu o Morgado de Agrela, em Barcelos e, entre 1355 e 1423, nasce o Fidalgo Joaquim Naum de Farias, filho de um Prior Franciscano, que em anos tardios, mandou nomear o vínculo que os instituiriam como família descendente, diretamente, do Cônego da Sé de Braga, Dom Gonçalo Anes de Faria. No livro do Armeiro-mor João Du Cros, encontra-se a insígnia dos Naum com águia romana ostentando o símbolo Ômega, representado ali numa perspectiva de significado invertido para caracterizar o infinito, distinguindo-se, assim, da linhagem dos Farias, que tem nas armas a representação do elmo de ouro.  De amarelo ouro e asas bem abertas, uma águia ilumina o símbolo de uma família afortunada pelos tons do infinito quando a luz das cores deste Ex-Líbris dá o sentido perfeito desta mística. Este Brasão identifica a estirpe de uma lendária família de homens de Ciência e Arte que, ao longo dos séculos contribuíram para consolidar o espírito democrático de Fraternidade Carbonária. (...) As Armas dos Naum são compostas por um escudo representado pelo símbolo Omega, caracterizando o infinito. Timbre: Uma águia romana, armada em dourado, posto de frente, tendo nas garras um quadro com letra romana e laços que representam a unidade.
         




terça-feira, 16 de outubro de 2012

O Professor como Intelectual Transformador


 
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Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias

Poeta Bruxulesco® - Professor da Universidade Estadual

do Piauí – UESPI. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.


 

 
“Sou Professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de esquerda ou de direita (...)” 

Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia, 1996.


Às vezes, quando penso nas pedras que profetizei encontrar no meu caminho ao longo da difícil carreira do Magistério, faço-me refletir sempre o dia a que é dedicado o Dia do Professor. Nestas reflexões, muitas vezes tenho incomodado o Pensador Paulo Freire lá no seu leito de paz. Porém, o mesmo me faz esperançoso no sujeito do Educador que sou, pois sabendo não ser tempo de otimismo, nem de discursos panfletários, proclamados para oprimir ainda mais os marginalizados pela sanha dos poderosos, administradores da esfera pública, me ponho firme na certeza de que somos agentes de grandes e significativas mudanças, quando o cenário nos faz pensar nos recursos destinados pelas mais variadas instituições ou pelos mais variados órgãos da mesma esfera, que não se ocupam em diminuir as distancias entre os excluídos. Mas isso diz pouco, se não estamos em tempos de otimismo é preciso ser esperançoso no que tange as raízes dos problemas vivenciados pelos Mestres do Saber em suas escolas desaparelhadas, com seus salários atrasados, sendo administrados politicamente por uma máquina administrativa atrelada a uma ideologia egocêntrica, centrada no descaso.  Neste Quinze de Outubro comemora-se o Dia do Professor e, com ele a triste desilusão de sabermos que não temos nada para comemorar devido à relativa e trágica morosidade de nossas estruturas de ensino, quer quando pensamos nas políticas para a Educação, proposto para muitos Municípios deste país da diversidade, quer quando pensamos no volume de recursos destinados a mesma Educação que acabam na vala profunda da corrupção.

A revolução que nos é proposto nestes tempos de Pós-modernidade se fundamenta numa orgânica tentativa de nos fazermos vigilantes, em tentarmos com o labor intelectual minar os estados de consolidação de poder, em prol da unidade e da eterna busca por uma identidade profissional, para que consigamos empreender o sonho do educar como uma proposta a mais diante do amplo embate social em que se encerra o trabalho docente para transmitir de forma crítica o conhecimento a que é proposto como fomento em sua ementa, no empenho para formar uma mentalidade de sociedade que seja capaz de quebrar as antigas estruturas dos paradigmas tradicionais da escola que queremos. Hoje, há certa urgência em transformar as escolas públicas em centros de referência e formação cultural, pelos professores e gestores, para promover seminários, discussões e para integrar a comunidade em torno do projeto político pedagógico da escola. É uma das soluções hoje pensadas para criar forças, produzir resultados e equilibrar a relação de poder existente entre os formadores de opinião, a comunidade, o poder público e suas secretarias.

Desta forma, os Educadores precisarão de uma unidade capaz de fortalecer os laços com os espaços formativos no empenho freqüente de compreensão da própria formação como um mecanismo de luta. De outra forma nunca conseguiremos levar a causa da Educação Pública ao palco da vida das pessoas, para que as mesmas possam julgar o trabalho e a importância do Docente como causa e efeito de uma sociedade justa, forte e moralmente nobre.

Bertolt Brecht dizia que pensar é transformar; por este motivo se faz urgente pensarmos em transformar nossos espaços formativos em espaços de organização do pensamento e do conhecimento, preparando-os para a ampla defesa do capital cultural que emana da própria sociedade, não se permitindo que o mesmo seja imposto pela indústria cultural nem pelos organismos de manipulação tidos como espaços de mediação de saberes coletivos derivados da imprensa midiática. Esta defesa institucional em torno das questões de Educação favorece a um amplo empenho do próprio professor como intelectual na defesa desta por meio do debate político como uma prática discursiva, empreendido pelo próprio Educador quando de suas incertezas frente ao decadente cenário imposto pelas políticas reais de formação.

Só nos resta esperançar e, nesta esperança descobrir uma forma de diálogo com a sociedade para unificarmos os anseios de todos os Profissionais da Educação em torno de um amplo projeto que processe outra imagem ao Pindorama Brasil. É interessante lembrar que vivemos numa era de extremos, em tempos de guerra e de crise moral, onde não há espaço para valores sociais porque o horror ético e as crises morais afetam qualquer um que ostente o pensamento da mudança, mas este é o cenário propício para entoarmos a canção dos excluídos, porque se não o fizermos, veremos novamente revoluções burguesas nos moldes das francesas, inglesas ou americanas que legaram para a humanidade todo o sofrimento do infecto termo quando lutas de classe passaram a disputar espaço no formidável empreendimento da escravização do homem pelo homem, em seus interesses e suas formas de exclusão social, mudando a tônica do termo e da causa diante do projeto maior de emancipação da sociedade como projeto de humanidade.

Nossa revolução deve ser pacífica. Primeiro mudamos a ordem dos nossos próprios pensamentos e passamos a agir como sujeitos históricos, daí unificaremos a luta coletiva entorno das questões primordiais tidas como de urgentíssima grandeza, ao utilizarmos o nosso trabalho de formação cultural como ferramenta para depormos a transitória jornada de todo e qualquer utilitarismo fisiologista e assistencialista premente como norma entre os órgãos deliberadores dos bens de produção.

Às vezes, ao ler as Obras que Paulo Freire escreveu sobre a humanidade penso na contemporaneidade dos seus sonhos e no péssimo usufruto de sua literatura quando exposta para agradar ou enganar, quando usada para salvar ou para matar ou até mesmo quando proferida para fingir ou arrotar valores vazios. Porém, reitero o meu pensar ao seu sonhar e acalmo os meus demônios pessoais refletindo uma vinheta de um mestre do romantismo chamado La Rochefoulcault: “não deveríamos nos surpreender, a não ser pelo poder de ser ainda surpreendidos”.

Por isso somos sinestésicos e producentes em nossa própria energia quando como educadores, nos formamos para orientamos novas aprendizagens; onde produzimos analogias e, em suma, somos a imagem que o homem da modernidade em crise de representação é: Homens que precisam pensar para transformar, na ânsia de vencermos desafios maiores para ressignicarmos nossas bases de unidade e de luta profissional sob novos padrões; entendendo-os como uma nova forma de agenciamento entre a realidade e a ideologia, para produzirmos a literalidade e o sentido que procuramos na difícil arte de ensinar. Portanto, Proletariado Uniu-vos!

domingo, 9 de setembro de 2012

O Ofício do Arqueólogo


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Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias

Poeta Bruxulesco® - Professor da Universidade Federal

do Vale do São Francisco– UNIVASF. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.


 

 

 

Entre o onírico e o real, o passado é um fantasma que assusta, reacende princípios, exalta valores, se fecha ou se fortalece, mas continua no passado como um problema, para o presente pensar o futuro. Isso ocorre com a trabalhosa profissão do Arqueólogo. Ele carrega nos ombros a matéria da existência, e nesta busca por uma razão esclarecedora suas observações podem redefinir mundos, forjar verdades, fortalecer identidades ou até subjugar homens. Esta questão é pertinente! O que o passado ainda nos reserva? O que ainda precisamos aprender com ele para enfrentarmos o futuro e impor nosso próprio tempo?

É bom pensar na hipótese do Arqueólogo Walter Neves quando se debatia com o problema do Povoamento Americano: “De onde teria vindo Luzia? Seria ela remanescente de um povo extinto, que ocupou a América há milhares e milhares de anos e acabou dizimado em guerras e catástrofes naturais?” Hoje a Universidade de Manchester, na Inglaterra, endossa o trabalho do nobre brasileiro que se habilitou a estudar a descoberta de 1975 e que atende pela máxima: “o crânio de Luzia é o mais antigo fóssil já encontrado nas Américas”. Se a ciência tem razão, eis uma questão a se descobrir!

Mas o que esse exemplo tem haver com o Ofício do Arqueólogo? Às vezes gosto de pensar a Arqueologia como a ciência da mentira, da impostação, dos feudos diplomáticos, das comiserações, das conveniências... E penso nos serviços prestados por esta ciência para uma humanidade desde sempre desumana, raquítica, pobre, despossuída de beleza e com valores arcaicos e cheios de perversas certezas.

É quando me volto ao trabalho do profissional da Arqueologia e vejo as singularidades nas parcerias com outras disciplinas dentro do discurso da Ciência Moderna e quero ressignificar meus conceitos para voltar a acreditar que a mesma sempre foi entendida como a “ciência que estuda os restos matérias dos povos do passado”. Atualmente, essa é uma área de mercado que vem conhecendo muitas modificações e ganhando novos métodos e amplos objetos de estudo, podendo propor outras formas de empreendimento laboral, frente às demandas regionais e ecológicas, jurídicas e culturais.

A Arqueologia ao longo do tempo ampliou conceitos e propôs rupturas, mas nunca perdeu de vista o estatuto do conhecimento que a leva a se preocupar com o estudo das antigas culturas da humanidade. Atrelado a isto, é nominalmente taxada de “velha”, “antiga”, “arcaica” e outros arquétipos mais. No geral, os arqueólogos limitam o entendimento a percebê-la como disciplina a partir do exato instante em que se passou a explicar procedimentos em detrimento apenas de colecionar objetos.

Então, a Arqueologia é definida na maioria das vezes como o “estudo sistemático dos restos materiais da vida humana já desaparecida” (isso quando a definição parte da necessidade do estudo de antiguidades); quando o seu estatuto passa a se preocupar com comportamentos, ela é enfática: “É a reconstrução da vida dos povos antigos”.

Há também os que a consideram uma subdisciplina; os que se preocupam apenas com as culturas humanas; os que se cercam das manifestações materiais das ditas culturas; os que vendem suas almas ao dinheiro ou os que se filiam ao “contrato” (câncer para o ensino formal e intelectual). Enfim, há gosto para tudo nesta ciência, porém o importante é nunca perder de vista que se deve ter algum tipo de comprometimento com a seriedade científica.

Veja que mesmo havendo apenas a preocupação com o utensílio como elemento cronológico, esse estudante ou estudioso da área, curioso ou qualquer que seja o termo, deverá pensá-lo como objeto de estudo, quer seja estético ou prático; seu instrumento de trabalho (o pensamento, a lucidez, o compromisso, a missão) deverá atentar-se sempre para o fato de que há naquele objeto mais que pensamento; há valores de uma cultura que precisa do presente para gerir novas culturas e tornar as fronteiras do conhecimento menos amargurante para quem precisa desses valores para se reencontrar com suas incertezas históricas no futuro.

Portanto, o estudo é ainda mais sério; passa por investidas intelectuais significativas como ser um estudante que gosta de ler, por exemplo, ─; ler para conhecer, ler para ter um posicionamento, ler para melhor se informar, ler para ser em detrimento do ter somente, como causa e efeito do possuir como poder de uso e desuso para usufruto dos saberes.

Como vinha pensando, a Arqueologia Moderna se bricola com outras disciplinas. Trabalha sempre com o horizonte conceitual de que precisa estabelecer cronologias, datar objetos, descrever costumes, escrever histórias... Para tanto, precisa se certificar de outros saberes para chegar a resultados como datações que precedem ora da Física (carbono 14), ora da Geologia (técnicas geológicas), ora da Paleontologia (restos faunísticos), ora da Sociologia, Geografia, Demografia, Economia e Ciências Públicas ─; quando o que se quer for reconstruir formas de vida para pensar a sustentabilidade ou o contrário.

E o resultado disso uma Enciclopédia disse-me outro dia: “Na atualidade, os arqueólogos dedicam sua atenção aos materiais recentes e investigam os resíduos e os depósitos urbanos, originando a denominada Arqueologia Industrial”.

É visível que o Ofício do Arqueólogo não é fácil, visto que há uma demasiada preocupação em salvaguardar princípios, preconceitos, relações de poderes e conflitos pessoais que destroem relações e até sonhos muito antigos. Tudo isso aplicando etapas. O Pesquisador Argentino Andrés Zarankin (2002, p. 27) afirma: “Como arqueólogos, criamos um discurso sobre o passado traduzindo objetos em discursos. Para isso os articulamos de modo que essas características do passado tenham coerência e sentidos para nós. Trabalhamos com coisas mortas que ressignificamos continuamente e fazemo-las contemporâneas, para depois matá-las ao congelá-las num discurso estático sobre o passado (...)”.

É como estudar por decapagem, mas o trabalho é reconfortante; requer vontade, transcendência, paixão, romantismo, coragem para “matar leões todos os dias”. Ou seja, superar diferenças, olhar para frente, conviver e unir inteligência com prudência para se ambientar ao “Mundo Perdido”, que por sinal foi o primeiro grande romance de aventuras arqueológicas de Arthur Conan Doyle ─ criador do Sherlock Holmes ─ a primeira influência romanesca dos grandes exploradores. A Arqueologia é isso, “um museu de grandes novidades”.

 

domingo, 26 de agosto de 2012

Os Desafios da Educação na Sociedade da Informação


Gênesis Naum de Farias¹*

Enos André de Farias²*

Flávia Alves Teixeira³*


¹*Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.

²*Professor de História da Rede Pública do Estado e Pernambuco.

³*Professora de Língua Portuguesa da Rede Pública do Estado e Pernambuco.

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Forma de citar
 

FARIAS, Gênesis Naum de. FARIAS, Enos André de. TEIXEIRA, Flávia Alves. Os Desafios da Educação na Sociedade da Informação. São Raimundo Nonato/PI: Diário Bruxulesco, 2012. 

 

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Muito se fala, atualmente, sobre a nova sociedade que se estrutura para o século XXI e para os séculos seguintes. Aqui assumimos o compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica, que trazem consigo a necessidade de repensarmos de forma profunda a estrutura de nossas instituições de ensino. Para isso, a abordagem imediata que se faz neste inicio de milênio propõe resultados para um período muito singular: as simultâneas revoluções tecnológicas e o acesso massificado à informação. A seguir, são analisados os efeitos desses fatores nas instituições de ensino, tendo como reflexo as questões que se colocam na ordem dos novos currículos para uma sociedade do conhecimento como razão pedagógica.

A discussão deste ensaio crítico assume o compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica, se propondo a compreender os enunciados teóricos que documentam os diferentes olhares que estruturam nossas instituições de ensino, preocupando-se em pensar os desafios significativos para a contemporaneidade através dos novos rumos que a educação enfrentará no século XXI, tendo como eixos centrais o domínio técnico numa época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Daí a importância de se repensar o lugar da escola, o lugar do educador e o lugar do fazer pedagógico. Para que se alcance esse objetivo é preciso tornar claro para todos os educadores quais são os pressupostos epistemológicos que fundamentam suas crenças a respeito da Educação.

Primeiro, torna-se importante pensar quem são os agentes sociais de mudança que compõe o cenário da Educação no Brasil, e que papel exerce nos ditames desta educação quando os interesses nacionais são colocados e confrontados com o cenário internacional. O Brasil possui um lugar de destaque como componente do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), despontado já como a 6ª economia mundial, enfrentando o desafio de avançar internamente sob uma situação real que já dispõe de dados colocados por pesquisas relacionadas ao ensino e pesquisa como atividades que reconhecem na qualidade a necessidade de avançar com relevância significativa.

É provável o reconhecimento em torno do esforço de avançar pela reestruturação, expansão e consolidação dos Institutos de Ensino, das Universidades, das políticas de formação continuada para a Educação Básica, repensando salário, carreira e promoção docente, porém as reações práticas a esses avanços na realidade sócio-política dos ambientes educacionais têm demonstrado objetivamente que Educação não é a prioridade significativa para o país. Que futuro se pretende como identidade de Nação, um país que trata com descaso e atitude descompromissada à situação da sua Educação? “(...) Seremos no futuro um país miserável com uma economia caminhando para despontar na lista dos primeiros mundos, porém donos de uma nação listada por semianalfabetos que afirma numericamente que avançou, criou possibilidades de aumento no número de vagas abertas para qualificar discentes através de números que não condizem com a realidade qualitativa de um forte compromisso com o futuro. Esse contexto resvala na questão de quem faz diretamente os procedimentos técnicos para se financiar e gerir as políticas públicas de Educação. (Manifesto dos Educadores da UNIVASF em prol de políticas de Educação de Qualidade, 2011).

No geral, o que se percebe publicamente é a influencia de economistas que supervalorizam e quantificam dados propostos como políticas educacionais, definindo as metas de projeção, em detrimento da posição política dos educadores quando são deixados de lado no intuito de pensarem conjuntamente os valores para melhorar o cotidiano nas escolas, através de políticas de inclusão e qualificação. Lacan enfatiza: “(...) Só é ensino verdadeiro aquele que consegue despertar uma insistência naqueles que escutam, este desejo de saber que só pode surgir quando eles próprios tomarem a medida da ignorância como tal – naquilo em que ela é, como tal, fecunda – e isto também vale para aquele que ensina”. (1985. p.260). Portanto, falar de Educação é basicamente trabalhar com o conhecimento.

Vivemos uma época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Conceitos como sociedade do conhecimento, economia do conhecimento, gestão do conhecimento e sociedade aprendente são amplamente utilizados para caracterizar a sociedade do século XXI como uma sociedade relativa à informação. Contudo, a educação nacional está em crise porque não se preocupa com as prioridades que servem para elevar a autoestima e ampliar as aprendizagens a um patamar que dê formação e conhecimento suficiente a toda a população para enfrentar as dificuldades oriundas da inserção dos novos saberes em uma globalidade de acontecimentos que atende pelas novas tecnologias inserida no mundo real.

O homem necessita de informações para poder sobreviver num mundo gerenciado por tecnologias que a cada novo dia se renova, se aperfeiçoa. Então, como podemos formar homens críticos para enfrentar esse novo padrão de vida? Desde a Revolução Industrial, na Inglaterra, que o ser humano passou a disputar com máquinas um lugar no mercado de trabalho. Estamos na chamada era da revolução tecnológica, onde a máquina se modernizou, foi aperfeiçoada e começa a assumir o lugar de milhares de homens no mercado produtivo. Com isso, os conceitos de Educação tiveram que mudar.

 Dilemas são enfrentados todos os dias no ambiente das salas de aula e, um dos mais complexos é o fato do educador muitas vezes não dominar uma prática discursiva coerente com seus anseios políticos, que lhe dê motivação para enfrentar problemas básicos como: pouca familiaridade com o ambiente escolar; falta de prática pedagógica e contato insuficiente com as diversas modalidades de ensino. O processo educativo só se transforma em prática consciente quando o educador reflete sobre suas concepções e é capaz de justificá-las para a comunidade em que está inserido.

É preciso superar essa prática comum que impera em muitas de nossas instituições de ensino. O fato é que muitas vezes o discurso oficial só cobra o compromisso de quem educa ou está na função de educador, fazendo dos paradigmas emergentes, que envolvem esses educadores, os maiores responsáveis pela não transformação do contexto real da sala de aula, porém é preciso atentar-se ao preceito que diz que quando um esquema cognitivo torna-se inadequado para dar sentido ao mundo, ele é substituído por outro.

Portanto, o novo perfil pensado para o educador do milênio atende por alguns enunciados técnicos que perfazem a lógica cultural da Educação pelo educador. São eles: a) boa formação: buscar permanentemente a qualificação; b) uso das novas tecnologias: utilizá-las como recurso a favor dos conteúdos; c) utilizar-se das novas didáticas: buscando um jeito novo de ensinar cada disciplina; d) trabalhar em equipe e trocar ideias; e) planejar e avaliar sempre observando as reorientações do trabalho pedagógico); f) postura profissional: voltada para o protagonismo social. Esse é o paradigma do professor - pesquisador que se atem as habilidades e competências e as colocam a serviço da lógica educativa como um elemento de profissionalização dos saberes no ofício docente. (MARTINS; MOÇO, 2010).

Essa tendência lança as bases econômico-pedagógicas para uma renovação produtiva que não se atem a repetir as concepções analíticas e tecnicistas dos anos sessenta e oitenta, mas quer traçar outros cenários para a própria formação da Educação Básica. O estudo das competências fez de Philippe Perrenoud, o autor nessa área mais lido por parte dos indicadores nacionais. Para ele, a noção de competência se equipara a capacidade de utilizar saberes para agir em diversas situações, onde, desde nosso nascimento, trazemos em alguns processos de maturação elementos que serão desenvolvidos em forma de aprendizagens ao longo das fases da vida, preparadas para adaptarem-se às diferentes situações que a própria vida os permitir.

Ainda na década de 1970, uma nova pedagogia tornou-se realidade no Brasil: A Educação Tecnicista. Essa nova tendência pedagógica tinha como objetivo formar os estudantes brasileiros para o trabalho nas indústrias e no comércio. Escolas Técnicas foram criadas, uma nova proposta pedagógica foi inserida e o antigo segundo grau foi dividido em estudos gerais, para formar estudantes que enfrentariam o vestibular e cursos profissionalizantes, a exemplo de técnico em contabilidade e agronomia, para aqueles que enfrentariam o mercado de trabalho. Essa tendência no Brasil, com o fim de regime militar, também foi extinta, pois o retorno da democracia e o avanço cada vez maior das tecnologias requeriam alunos preparados psicologicamente e didaticamente para viver em sociedade e para o mercado de trabalho, permitindo a participação efetiva em três esferas: o setor produtivo, a sociedade civil e os processos políticos.

Nisto, é importante lembrar que o discurso emancipatório da modernidade tardia se baseia na apropriação conceitual de dois pilares: a) a vigência da sociedade do trabalho; b) a justificativa da existência do ser social como um sujeito consciente de sua individualidade, mas que não se priva do convívio em sociedade. Por isso, este projeto de emancipação humana fracassou, por se concentrar apenas no processo técnico, tendo como resultado final a degradação social. As novas competências, lançadas pelos teóricos para enfrentarem a situação exposta, exige da sociedade do conhecimento, informação e constante aprimoramento.

A partir de 1996, com a aprovação da Lei Nº 9.394/96 a Lei de Diretrizes da Educação Nacional, novas mudanças foram inseridas no contexto educacional brasileiro. E, precisamente, o que em nossos tempos se modificou foi a definição do nosso lugar no mundo, que na contemporaneidade não é mais conceituado com a noção de que fisicamente pertencemos a um país, mas sim que o trabalho em torno do qual se processa a informação acessível a todos se modificou e tomou outros contornos dando uma nova cara as alteridades que compõe o cenário político do trabalho manual pelo intelectual. Essa é a melhor definição do capital cultural processando informação para definir o global pelo capital social.

Para que o cidadão possa assumir o papel de agente de mudança nesse novo patamar social, o desenvolvimento das competências se dá pela compreensão de valores sociais e morais oriundos da nossa socialização num mundo cada dia mais competitivo, perverso e extremamente estressante, envolto numa combinação política e cultural que nos leva a diferentes situações. O conhecimento, nesse mundo de informação, tornou-se importante para nosso crescimento, mas somente o conhecimento técnico não pode mudar nossas vidas. Precisamos moldar nossos conhecimentos com novas aprendizagens, nos preparando para enfrentarmos diferentes situações na escola da vida. É preciso formar professores para a docência que, conseqüentemente dê contornos distintos à identidade profissional e às práticas desafiadoras dos professores, ampliando o desenho dos projetos que desejam formar para si e para o mundo, através da Educação.

Por que não se reformulam os currículos das escolas e se formata em seu lugar uma proposta mais crítica e elaborada para corroborar com os anseios da realidade em sala de aula buscando ampliar os horizontes conceituais que atentem para o profícuo dialogo entre teoria e prática? A ideia principal não é ruim, nem nova. Os Pilares da Educação para o novo milênio se mostram favoráveis ao contínuo aperfeiçoamento dos quatro eixos norteadores e fundamentais para a formação: aprender a fazer, ser, conviver e aprender a apreender para efetivar um ensino que venha sanar a dívida que o sistema educacional tem com nossas próprias incertezas históricas. (UNESCO, 2002. – In: Relatório “Educação, um tesouro a descobrir”).

Diante do exposto, percebe-se que os Desafios da Educação para o Século XXI, direcionados pela escola no campo ou na zona urbana, em suas linhas mais gerais, deverão enfrentar as incertezas desses territórios sociais para trazer a realidade para dentro da sala de aula, dando outro sentido para o fazer intelectual pelo trabalho racional. 

Paulo Freire (2002) chama atenção para a necessidade de se pensar o papel da escola em uma sociedade em transformação, e diz que é preciso conhecer a realidade para oferecer o estudo dos conteúdos específicos, historicamente constituídos, sócio culturalmente compartilhado, buscando compreendê-los para possibilitar ao aluno a compreensão do mundo em que vive através do processo de humanização que constitui o ser humano na sua plenitude, transformando sua vida e colocando os conhecimentos a serviço da construção de uma realidade melhor, mais justa, solidária e plena.        

Freire também pensa no papel do professor como sujeito histórico de transformação e afirma ser necessário acreditar na possibilidade de mudança, sendo de fundamental importância que este sujeito seja portador da esperança para assumir sua condição histórica de transformação da realidade escolar, articulado a realidade social mais ampla. Ser um sujeito transformador é estar em permanente construção para se tornar aprendiz e mediar a realidade enfrentada pelo aluno diante do conhecimento que se processa no amplo despertar pela busca do próprio conhecimento, favorecendo as aprendizagens simbólicas que dão os rumos ao percurso de construção do ensinar para aprender, propondo-se como mediador de novas aprendizagens.

 

Referências 

ALARCÃO, Izabel. Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. – Rio de Janeiro: GRAAL, 1985.

BRZEZINSKI, Iria. “Políticas Educacionais: Diretrizes Curriculares para Formação de Profissionais da Educação Básica”. In: ANAIS do 22º ENEPe. – Salvador, 2002. Discurso proferido na Mesa Redonda “Formação de Professores”.

DOLORS, Jacques. et al. Educação – um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. – São Paulo: Cortez; Brasília/DF: MEC: UNESCO, 2002.

FARIAS, Enos André de. “Nosso papel para que tenhamos uma escola reflexiva”.  In: Diário da Região. – Juazeiro/BA, 2005. p.02.

FREIRE, Paulo. A Educação como Pratica da Liberdade. – Petrópolis: Vozes, 2002. 

______ . Professores reflexivos em uma Escola Reflexiva. – Porto Alegre: ARTMED, 2002. 

GIROUX, Henry A. Os Professores Como Intelectuais. – Porto Alegre: ARTMED, 2002. 

______. Cruzando as Fronteiras do Discurso Educacional: novas políticas em educação. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. 

MARTINS, Ana Rita; MOÇO, Anderson. “O novo perfil do professor”. In: Revista Nova Escola - São Paulo: Outubro de 2010. p.47/53. Disponível em www.ne.org.br.

PERRENOUD, Philippe. A Prática Reflexiva no Ofício de Professor: Profissionalização e Razão Pedagógica. – Porto Alegre: Artmed, 2002. 

SETUBAL, Maria Alice. “A qualidade da Educação é proporcional à qualificação dos professores”. In: Revista Nova Escola – São Paulo: Abril, 2011. p. 34/38. Nota de Entrevista.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Núcleo de Estudos Foucaultiano: Incentivando a Pesquisa e o Debate na Universidade




Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias

Poeta Bruxulesco® - Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.

E-mail: nucleofoucaultiano@gmail.com



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Instituição de Fomento: Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
Palavras-Chave: Formação de Professores; Práticas Pedagógicas; Subjetivação; Identidade; Tecnologias de Si.
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Introdução



A prática docente tem levantado muitas inquietações quando o fazer pedagógico clama por mais reflexões. A proposta deste Núcleo de Estudos e Pesquisas Aplicadas tem por objetivo a compreensão da obra do filósofo Michel Foucault com vistas ao aprimoramento do espaço do debate na Universidade, tendo como referencial os pressupostos teóricos empreendidos pelo contexto que envolve os processos de desterritorialização em sua dinâmica de pluralidade junto à pesquisa educacional e a formação dos estudantes das Licenciaturas nos Campis da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, de modo a entender e fortalecer as estratégias de ensino-aprendizagem com vistas a uma melhor compreensão dos sentidos da Educação na Contemporaneidade.

Por isso há sempre mais uma necessidade corrente de se discutir e repensar a formação como um processo de subjetividade, que transita historicamente pelos espaços simbólicos da construção do conhecimento, onde se percebe a indispensável necessidade na compreensão de temas relevantes à própria formação acadêmica quando da relevância de questões outras relacionadas a problemática da Educação e sua relação com as práticas pedagógicas na sociedade, fazendo-se urgente elaborar diretrizes de ação, pesquisa e reflexão, para fortalecer o objeto de estudos pelas indagações que surgem no campo da pesquisa educacional para estreitar a relação direta existente no fazer pedagógico, dentro e fora da escola, postulando a aquisição de novos saberes que sirvam para ampliar a relação entre teoria e prática.

O objetivo deste trabalho de extensão universitária é privilegiar a aquisição de mais saberes, vinculando-os às realidades sociais, tentando reconhecer nos conteúdos tramados pelo objeto dos encontros e dos debates a serem estudados o foco que auxilie uma maior adequação nos espaços formativos de uma formação crítica, levando a comunidade acadêmica à compreensão da realidade. Pretende-se com este Núcleo de Estudos, fomentar discussões, investigar as problemáticas diversas que compõem o meio educacional; estudar a diversidade cultural, analisar os componentes sociais e escrever novos cenários para a questão da pesquisa educacional. Com este horizonte conceitual o Núcleo de Estudos Foucaultiano tem se debruçado sobre o universo do filósofo Michel Foucault e sua importância para o contexto global resguardada pela influência dominante do controle e da vigilância no pensamento institucional na contemporaneidade, onde se insere a sociedade do conhecimento e os indivíduos que a ela recorre para aprimorar a territorialidade cultural através dos diversos serviços estendidos ao homem como ferramenta de poder.

Assim sendo, considera-se de maior relevância a leitura em grupo, a discussão de temáticas e a criação de fóruns permanentes de reflexões ligadas à área educacional, tendo o pensamento de Michel Foucault como elemento de contextualização. Neste contexto é pensado um evento semestral, com eixos definidos pelas questões de pesquisa que se colocam no cenário educacional, que se denomina Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade ─; evento este ligado aos anseios do Núcleo de Estudos que ganha outros significados cotidianamente diante das necessidades de uma Formação que leve os estudantes a uma inserção mais ampla e que atenda a um sentido de continuidade através dos meios que propagam os saberes acadêmicos entre os estudantes e os profissionais da área da Educação.

Estes eventos, de cunho científico, se propagaram como um espaço de fomento reflexivo ligado às problemáticas mais urgentes na Educação da Região onde está situada a cidade São Raimundo Nonato (PI), vindo a atender as novas diretrizes compostas de ações como Pesquisa, Ensino e Extensão, tendo como objeto de indagações às questões multiculturais e as novas formas de se produzir conhecimento, dentro e fora da Universidade, postulando à aquisição de novos conceitos.

 O intuito quer privilegiar a aquisição dos vários saberes, e de um saber vinculado às realidades científicas através dos diversos olhares de propagação dos saberes da ciência educacional, tentando reconhecer nos conteúdos da Formação Contextualizada o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade. Pretende-se com isto, organizar discussões que atendam as problemáticas investigativas nas diversas áreas do conhecimento onde se colocam os diversos contextos que compõem o meio científico; bem como estudar a diversidade cultural, analisar os componentes sociais e escrever novos cenários para a questão da pesquisa de campo, como metodologia.



A PROBLEMÁTICA


A realização deste Núcleo de Estudos segue a premissa de que a realidade tem que ser investigada constantemente, visando percorrer os caminhos que levam a emancipação do pensamento humano como verdadeira transformação dos espaços onde ele esta inserido, quer seja no ambiente escolar, acadêmico, quer seja no seio da sociedade em espaços não-formais de Educação.     Valendo-se do contínuo estudo metodológico, será preciso trabalhar o campo simbólico da educação como um território de possibilidades, onde a investigação científica produz novas aprendizagens. Nestas condições, a pesquisa e o debate são as ferramentas de estudos para que os sujeitos (professor, aluno e pesquisadores) viabilizem as relações intersubjetivas para melhor efetuar os objetivos do conhecimento a ser investigado, destinando-se a realizar-se pelos membros do núcleo.



CAMINHOS A SEREM PERCORRIDOS


            Para se obter resultados satisfatórios, procura-se na congruência do ensino e da pesquisa em sala de aula desenvolver uma metodologia dialogada tendo como eixo central os enfoques que trazem questões que envolvem a realidade educacional em permanente diálogo, com o objetivo de intensificar a formação e ampliar a noção coletiva da cultura escolar e da leitura no âmbito acadêmico, onde se insere a problemática.          A metodologia empregada compreende os saberes docentes para melhor trabalhar a realidade educacional. A pesquisa-participante tem garantindo a inserção de estudantes, professores e pesquisadores no universo da leitura dirigida e dos debates com o intuito de uma produção crítica, com vistas para o aprimoramento cultural e social da comunidade acadêmica na Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Campus Ariston Dias Lima em São Raimundo Nonato/PI.

 As temáticas mais urgentes também são alvo da proposta pensada por estudantes e pesquisadores, tais como: Indústria Cultural; Política Cultural; Pensamento Complexo; Teoria e Prática em Educação; Perspectivas Filosóficas na Educação; Epistemologias da Educação; Campos Estruturais da Pesquisa; O Lugar da Pesquisa; Os Sujeitos da Pesquisa; Sistematização e Análise; Observações de Campo e Estudo Dirigidos das Obras de Michel Foucault.



REFERENCIAL TEÓRICO


            O Núcleo de Estudos em questão pretende se debruçar sobre o pensamento multicultural do filósofo Michel Foucault por entender que os processos de formalização dos conceitos passam pela construção dos saberes, evidenciando-se a utilização do poder formalizador da prática da investigação epistematológica como ação de ressignificação do fazer pedagógico.

            Este núcleo de estudos e pesquisa aplicada esta filiado à concepção intersubjetiva do campo simbólico da educação onde se insere questões de conhecimento e produção de saberes atendendo ao olhar das epistemes que trabalham com as ideias do intervencionismo simbólico, derivando da invenção do cotidiano como elemento formador de opinião. A intenção inicial é, portanto, filiar-se ao movimento de ressignificação crescente ao campo das abordagens qualitativas de investigação da realidade.

            O exposto implica uma pergunta necessária: O que significa estudar os sentidos da educação contemporânea se é na escola que estão alocados quase todas as enfermidades porque passa a sociedade? As experiências de leitura de mundo acerca da Educação não podem se fechar nos conceitos do formal, informal, não-formal. Ao se ampliar esses contextos curriculares é possível perceber a relevância entre o que se concebe como espaço e a subjetividade que emana dele nas propostas de integração curricular, pois o que se considera silenciosamente como espaço de subjetividade é o elemento que amplia os procedimentos que alinham concepções e disposições físicas e arquitetônicas no espaço escolar. (VIÑAO; ESCOLANO, 2001).

Este espaço de múltiplas relações tem de ser analisado como um constructo cultural que expressa e reflete, para além de sua materialidade, determinados discursos. No quadro das modernas teorias da percepção, o espaço-escola é, além disso, um mediador cultural em relação à gênese e formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores, ou seja, um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiências e aprendizagem. Mais ainda, a arquitetura escolar pode ser considerada, inclusive, como uma forma silenciosa de ensino. (VIÑAO; ESCOLANO, 2001).

Zygmunt Bauman vai dizer que só há possibilidade de um novo mundo no próprio homem. O Sociólogo afirma que “É preciso acreditar no potencial humano para que um outro mundo seja possível”. (BAUMAN, 2009. p.14).

O mesmo Bauman sentencia:



Em tempos líquidos para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira, é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não esta funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo... (2009, p.15).



Nesse sentido, Edgar Morin vai propor que os erros mentais sejam também percebidos como erros intelectuais, pois tudo ou quase tudo deve proceder pelas incertezas históricas. Estas dão relevância às cegueiras do conhecimento e apresentam outras realidades simbólicas. (MORIN, 2001).

A relação das coisas com os espaços e, isto, relacionado com os problemas do ser humano em sua condição existencial, em si, já aparece como um processo de subjetivação e, portanto, de aprendizagens metacognitivas. O elemento arquitetônico, por exemplo, é um elemento participante do processo educativo, e isto reflete no educador quando não consegue perceber esse contexto como um importante fator de subjetividade.

Na afirmação de Guatarri:



O alcance dos espaços construídos vai então bem além de suas estruturas visíveis e funcionais são essencialmente máquinas, máquinas de sentido, de sensação, máquinas abstratas (...), máquinas portadoras de universos incorporais que não são, todavia, universais, mas que podem trabalhar tanto no sentido de um esmagamento uniformizador quando no de uma re-singularização libertadora da subjetividade individual e coletiva. (2000, p.158).



Tendo em vista que um dos aspectos que caracteriza a subjetividade é sua relação com o instituído, Certeau (1995) problematiza essa relação, ao afirmar que as instituições têm-se mostrado incapazes de abrigar grupos que se permitem certas singularidades. Segundo este autor, a ocupação e a expulsão dessas iniciativas para o território da marginalização atestam, enfim, “um apagamento histórico da diversidade no cotidiano, pois: Em si mesmas, as instituições obedecem ao duplo jogo: se sua fachada é de organismos públicos, o poder que nelas reside sufoca os que não se articulam de forma intelectual... (CERTEAU, 1995. p.25).



CONSIDERAÇÕES FINAIS


            Durante o desenvolvimento dos trabalhos em equipe, pretende-se obter resultados que satisfaça as questões de pesquisa que surgirem em relação aos objetivos propostos, buscando o aprimoramento dos aspectos metodológicos vivenciados pela cultura educacional, a fim de possibilitar uma melhor compreensão do hiper-texto da realidade educacional, através do pensamento do filósofo francês, Michel Foucault. Por isso é extremamente urgente trabalhar as dimensões pedagógicas das fronteiras que se impõe ao discurso educacional; quer sejam elas propostas pelos saberes pedagógicos em sua dimensão transversal.



REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS



ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: Imagens e Auto-Imagens. – Petrópolis: Vozes, 2000.

BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuições para uma psicanálise do conhecimento. – Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

BAUDRILARD, Jean. Simulacros e Simulações. – São Paulo: Forense, 1979.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

______. “A Utopia Possível na Sociedade Líquida”. In: Revista Cult, 2009. Ano12, Nº 138. P.14/18. Nota de Entrevista.

______. O mal-estar da Pós-modernidade. – Rio de janeiro: Zahar, 1998.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: I Artes de Fazer. –Petrópolis: Vozes, 1994.

______.“Acultura Plural”. In: A Cultura na Sociedade. – Campinas: Papirus, 1995. (Coleção Travessia do Século).

DELEUZE, Gilles; PARNET, Clarice. Diálogos. – São Paulo: Escuta 1998.

FOUCAULT, Michel. Microfíca do Poder. – Rio de Janeiro: Graal, 1979.

______. Arqueologia do Saber. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1979.

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GIROUX, Henry A. Os Professores Como Intelectuais. – Porto Alegre: ARTMED, 2002.

______. Cruzando as fronteiras do discurso educacional: novas políticas em educação. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma. – São Paulo: Editora 34, 2000.

GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolíticas: Cartografias do Desejo. –Petrópolis: Vozes, 1996.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. – Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

MORIN, Edgar; CIURANA, Emílio-Roger; MOTTA, Raúl Domingo. Educar na Era Planetária. – São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2003.

MORIN, Edgar. Os Sete saberes Necessários à Educação do Futuro. – São Paulo: Cortez, 2001.

VIÑAO FRAGO, Antonio; ESCOLANO, Agustín. Currículo, Espaço e Subjetividade a arquitetura como programa. – Rio de Janeiro: DPA, 2001.






















quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ensaio Sobre A Cegueira



Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias

Poeta Bruxulesco® - Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.



Às vezes penso que sou um chato de galocha, penso que sou o que as pessoas queriam ser e não tem coragem de assumir que podem ser. Esse pensamento pode ser também fruto de um olhar egocêntrico, mas a verdade é que não temos mais paciência para ouvir as queixas que o outro tem do mundo. É quando reflito, para que serve o outro em sua relação com o “eu” e o contrário dessa condição? Parece que vivemos numa Babel, ou num ensaio sob um manto de cegueira. Quero acreditar que somos o que somos porque precisamos nominar tudo e todos, mas o problema é que uns em detrimento de outros, classificam em demasia sem pensar que este “outro” precisa falar do seu eu - lírico. E vejamos que sem esta relação de troca não há socialização nem integração, nem interação, nem solidão, nem paixão.
Agora o efêmero é moda e tudo é velho ─; os amigos são uns chatos, não há lugar para a sincera troca de subjetividade nem para um aceno de grandeza porque o singular é sempre mais importante que o todo, isto porque é mais fácil de digerir, é mais fácil de descartar... É mais interessante fingir que o “nada” de tudo, inclusive dos acontecimentos, tem o sentido que a ele empregamos. Eu gosto de pensar que somos maiores que as circunstancias. Prefiro já agora pensar que sou um eu desencontrado que muitas vezes é interpretado como o ser que se coloca no centro ─; talvez o meu “eu” só esteja querendo falar dos males que lhe afligem a alma, porém quando procura o colo dos amigos na distância, só encontra a indiferença, mas como tudo na vida passa, sei que o instante também passa e o que hoje se propõem com muita sinceridade já agora passa a se colocar com mais indiferença. Decido a partir de então, não quer ter amigos, afinal o que vou falar a eles se não tenho o que lhes falar quando me pedem que silencie o instante. É quando penso que cresci ouvindo os sons da indiferença porque já nasci velho e não há lugar para queixas nem para simbioses.
Quer saber a razão das diferenças entre os indivíduos? A resposta pode muito bem está contida numa frase de um amigo, que outrora me sentenciava que para se ter um inimigo, basta ajudar um amigo! Eu não sei por que, mas acabo de terminar de ler o livro “O Pequeno Príncipe” e como sou um leitor especial costumo descobrir onde o autor coloca o ápice da narrativa e, para a minha curiosidade veja o que Saint-Exupéry nos diz numa conversa entre uma raposa e um pequeno príncipe perdido em suas andanças: “(...) E voltou, então à raposa: ─ Adeus... – disse o principezinho a raposa. ─ Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. ─ Os homens esquecem essa verdade. ─ disse ainda a raposa. ─ Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa ...”.
A pequena narrativa de Exupéry reflete todas as diferenças do ser humano, porque este já não se preocupa em cativar nada nem ninguém; mas não se deve cobrar nada além do respeito mútuo e também não se deve contar isto para se prevalecer. Nós seres humanos nem conhecemos um ao outro, nem somos amigos suficientemente do outro que nos é indiferente, mas precisamos lembrar que somos autores de uma formidável articulação de sinceridade que por hora se quer esquecer, mesmo quando não quer mais narrações subjetivas nem acenos de comoção ou mágoas a quem lhe for de direito; mesmo assim o homem não deve esquecer que ele é parte daquilo que cativas. 
Quem sabe se a palavra generosidade não resumisse tudo e ampliasse o sentido real do que podemos chamar de humildade, quando o que queremos é apenas falar para calar angústias muito intimas e antigas. Quem somos ou o que somos para julgar o comportamento dos outros? 
Sinto-me hoje, como a própria encarnação do personagem Rei Lear; velho e cansado para trocas sinceras, quando infindas classificações e absurdas categorizações me levam a vertigens profundas. Isso realmente é uma história que só poderia acontecer nos bastidores de uma cegueira profunda se não tivesse um fundo de verdade. Cegueira esta que por acaso só acontece quando fingimos que a relação do eu com o outro não passa de um projeto de interesses mútuos. 
São as histórias de cada um que reelaboram o mundo, por isso precisamos continuar acreditando no homem e em suas infindas possibilidades de maturação. Esta é a minha história, quase sempre cheia de mágoas e rancores, porém continuo sem acreditar na máxima que diz: “ajude um amigo e adquira um inimigo”. Quero sim, me libertar de certas cegueiras para me entregar a outros acenos de paz e me fazer um homem novo, onde a fraterna sensação de amizade entre os pares da sociedade humana venha servir para uma maior compreensão de minhas incertezas históricas e, de forma mais branda, quero esquecer que sou um personagem trágico que tem o fracasso como matéria. Quanto ao futuro, espero que toda humanidade passe um dia a se preocupar com o volume infinito de injustiças que assolam suas vidas, neste tétrico teatro chamado Planeta Terra.






terça-feira, 26 de junho de 2012

Núcleo de Estudos Foucaultiano

       

Linha de Pesquisa: Ensino, Formação de Professores e Práticas Pedagógicas.


RESUMO:Este Núcleo de Estudos e Pesquisas Aplicadas tem por objetivo a compreensão da obra do filósofo Michel Foucault com vistas ao aprimoramento do espaço do debate na Universidade, tendo como referencial os pressupostos teóricos empreendidos pelo contexto que envolve os processos de desterritorialização em sua dinâmica de pluralidade junto à pesquisa educacional e a formação dos estudantes das Licenciaturas nos Campis da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, de modo a entender e fortalecer as estratégias de ensino-aprendizagem com vistas a uma melhor compreensão dos sentidos da educação na contemporaneidade.

Palavras-Chave:Formação de Professores; Práticas Pedagógicas; Subjetivação; Identidade; Tecnologias de Si.


1. OBJETIVO GERAL

Criar um ambiente de encontro e discussões, onde se tenha como pressupostos conhecer o pensamento da sociedade através das condições sócio-educacionais, onde se ampliem as investigações da realidade educacional, através da democratização do acesso aos meios formativos; a proposta do Núcleo pretende trabalhar a ampliação dos horizontes da pesquisa e da aplicabilidade de métodos e técnicas pela extensão universitária, tendo o pensamento foucaultiano como matéria de leitura e investigação, ao tempo em queapresentará os diferentes olhares epistemológicos sobre os estudos da educação e do ensino como construção da cidadania por meio do entendimento interdisciplinar e transversal, bem como os discursos relevantes a produção cultural proposto pelas fronteiras do discurso educacional, bem como os conflitos existentes entre tais olhares.

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Compreender enunciados teóricos relevantes ao ensino e as ciências como fator formativo;
  • Reconhecer os principais pressupostos teóricos através dos estudos epistemológicos;
  • Refletir sobre a relação das práticas investigativas como ação curricular que se atenha a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na Formação.
  • Propiciar o trabalho em grupo para socializar o conhecimento, analisar metodologias, investigar a Formação Continuada e verificar o desenvolvimento das aprendizagens por meio da socialização das ações que geram o conhecimento.

3. PÚBLICO-ALVO

Alunos, Professores e Pesquisadores que queiram trabalhar a produção científica e cultural como forma de melhorar a ambiência na comunidade acadêmica.

4. CAMINHO A SER PERCORRIDO

Para se obter resultados satisfatórios, procuraremos desenvolver o Núcleo de Estudos Foucaultiano, dialogado com a realidade, através de visitas expositivas, encontros e estudos dialogados, com o objetivo de intensificar a formação e ampliar a noção coletiva da cultura escolar e da leitura no âmbito acadêmico, onde se insere a problemática.

A metodologia a ser utilizada para compreender melhor a realidade educacional será através da pesquisa-participante, garantindo a inserção de estudantes, professores e pesquisadores no universo da leitura dirigida, debate e produção, com vistas para o aprimoramento cultural e social da comunidade acadêmica na Universidade Estadual do Piauí - UESPI - Campus Ariston Dias Lima em São Raimundo Nonato/PI.
5. TEMÁTICAS QUE VISAM ATENDER ÀS NECESSIDADES DO NÚCLEO

6.1. Indústria Cultural; 6.2. Política Cultural; 6.3. Pensamento Complexo; 6.4. Teoria e Prática em Educação; 64.1. Perspectivas filosóficas na educação; 6.4.2. Espistemologias da Educação. 6.5. Campos Estruturais da Pesquisa; 6.5.1. O lugar da Pesquisa; 6.5.2. Sujeitos da Pesquisa; 6.5.3. Sistematização e Análise; 6.5.4. Observações de Campo. 6.5.5 Estudo dirigido das obras de Michel Foucault.

 

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Edison Deusdará, Cidadão do Mundo





Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.

Edison Deusdará, Cidadão do Mundo, pensador de acasos, senhor do seu tempo. Dono de um olhar poético que se afina aos dos grandes Mestres as artes plásticas desse país e se alinha ao traço Modernista que se produziu numa São Raimundo Nonato de outrora projetada pela sensibilidade de uma modernidade tardia. Pintou sua cidade, reverenciou os orixás, conviveu com a alta boêmia do Rio de Janeiro, desenhou para a alta costura carioca, tendo como clientes algumas Primeiras-Damas. Esse artista foi amante singular de uma época recheada de encontros e desencontros. Foi do tempo uma personalidade viva, que amou, sonhou e foi atemporal.




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os Professores e a Atual Universidade Brasileira




Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


Quando pensamos em Educação no Brasil logo somos transportados a legitima noção de que os saberes docente refletem a palavra-chave que norteou todo o pensamento do Educador Paulo Freire: Transformação. Para entender-la é preciso primeiro saber o que foi feito da formação dos educadores no período Pós–Ditadura Militar; que tipo de profissionais se formou quando a devassa do terror político abriu suas portas e arquivos para uma democracia tardia, quando os interesses já não eram transformar a nação nem consolidar nenhum estado de direito, mas ortogar a infração e a afirmação de que um país que nasce colonizado morre colonizado.

A Educação vai mal porque os educadores nascem doentes e são frutos de uma Universidade indolente, perseguidora, frustrada, carrasca, intolerante e quase totalmente improducente, onde pesquisa, ensino e extensão são na verdade um delírio utópico de poucos, comprometidos com outros processos; onde se excluem, cotidianamente, por falta de espaço em instâncias colegiadas, estudantes e professores comprometidos diante da autoridade doutoral da estabilidade profissional do funcionalismo público.

Que estabilidade é essa que se propaga como direito adquirido e não se projeta para consolidar os processos de ensino-apredizagem quando não há estabilidade emocional nem segurança para se trabalhar, estudar e vivenciar a Universidade perante a tirania doutrinal de positivistas que na era da Pós-modernidade, profissionais de quase todos os campos do saber se dobraram aos financiamentos das agencias de fomento de pesquisa? Estas por sua vez enquadram os saberes e atrela o domínio pela pesquisa a instituições sem autonomia política para fazer o enfrentamento necessário através da formação crítica nas salas de aula. Os interesses estão sempre na ordem do dia.

Já se passaram quarenta anos do fim da Ditadura Militar e nesta democracia tardia o que se tem a comemorar? O fim da neutralidade política com engajamento social e o surgimento de uma Educação serviu? A Educação que temos é indulgente, perversa e intolerante. Que processo formativo é esse que amarra os professores aos desmandos de instituições como a CAPES e tantas outras, que autorizam e desautorizam quando querem, doutrinariamente, os futuros pesquisadores, a se curvarem ao chamado terceiro setor, ao consumo e ao desejo de vigilância e punição quando sua autoridade doutoral refletir sua incompetência moral e institucional para fazer o trabalho docente gerir desenvolvimento.

A Universidade Brasileira vai resistir a todos esses desmandos porque o termo requer pensar-la como uma instituição formadora de conhecimento, mas seus professores não passam de formadores de mão de obra que de “capacitados” passam a ser reprodutores de um pensamento terceiro mundista, reféns da moral social de um tempo onde a democracia de democrática só possui o termo. O estado de direito na sua concepção institucional adverte que todo cidadão é portador de liberdade para ir e vir, porém esse direito lhe é negado quando apenas cidadãos comuns podem pagar seus impostos sem usufruir do capital simbólico que emana da relação desses direitos e deveres.

No momento em que pararmos para pensar a Educação como elo de transformação social venceremos o desanimo e daremos uma resposta mais bem pronta e mais elaborada aos problemas educacionais porque seremos revestidos de direitos e deveres não amplamente obedecidos nem regularmente cumpridos nesta Nação onde a Carta Magna impele liberdade, mas repele cidadania para todos.

O que dizer de educadores empossados no emprego público que não cumprem com seus deveres de cidadãos, que lutam apenas por salários e mais qualidade de vida, quando não cumprem seus deveres como profissionais nem cidadãos e que trocam a obediência pública pela subserviência privada? O que dizer de professores que recebem como dedicação exclusiva no setor público que não atendem a real finalidade de suas obrigações e recebem as benesses do setor privado quando deveriam estar produzindo conhecimento na esfera pública?

Falta mais fiscalização do Poder Público quando esses desmandos institucionais criam poderes paralelos entre as classes sociais para forjar discursos de qualidade educacional e institucional sem o ditame lógico do discurso público que autoriza o intelectual a pensar a sociedade e buscar transformá-la nos seus diversos tipos de atividades laborais. De quem é a culpa? Quem paga a conta? Quem salvará o povo brasileiro?

A Ditadura Militar destruiu os anseios de muitos dos grandes pensadores da Educação Brasileira tais como Florestan Fernandes, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e tantos outros, para produzir seu próprio biótipo de intelectual tecnocrata. Apesar de políticas públicas como as Cotas Sociais e o Reuni terem sido pensadas para dar uma cara nova ao que se pode chamar de “reforma educacional” o profissional que hoje temos atuando e se formando nas universidades brasileiras atende apenas a uma lógica de mercado que contempla apenas os ranços tardios de nossa relação com a colônia e, como colonizados reproduzimos apenas o discurso do vencedor, sem o preparo crítico para ressignificar a luta por qualidade de vida e de trabalho.

Porém quem manda nos órgãos de fomento e de pesquisa são pessoas que formam opinião e  que nasceram nas docas da Ditadura e engendram políticas institucionais frias e sem nenhum alento social para ampliar o desenvolvimento crítico, porque o lance é ter acesso a espaços onde o financiamento fale mais alto podendo referendar toda a impotência de pesquisadores que escrevem apenas o que lhes mandam ou apenas aquilo que está na ordem dos acontecimentos e que reflita a episteme da moda, ou o axioma paradigmático que o jogo dominante determina a todos, sem a responsabilidade política com causas maiores. O negócio é rentável, usa-se o CNPJ das universidades públicas para o financiamento público de projetos que atendem a uma finalidade engrandecedora: formar cartéis acadêmicos e propagar o poder de quem manda a quem se submete a obedecer; ou seja, empresas privadas são criadas por entre os interesses da Universidade com um único objetivo, fraudar ou negligenciar os desmandos dos Senhores da Ciência Moderna.

Quando professores se determinam a uma paralisação que prenuncia uma greve, logo pensamos em atraso nas atividades escolares e acadêmicas, mas poderíamos perguntar a esta classe de funcionários públicos o que produzem na academias? O que se produz no ensino superior? O que se processa nas universidades se não saberes reproducentes e sem o valor que lhe é necessário quando transformar mentes passivas em indivíduos críticos não atende a um papel reformador e emancipador? 

A Universidade Brasileira esta em crise porque insiste em manter cartéis econômicos ligados a partidos políticos aparelhados por intelectuais desarticulados dos princípios básicos da Educação, que não sabem realmente o papel que tem diante dos fatos e dos acontecimentos. O resultado de acordos políticos desinteressados em questões maiores é que teremos num futuro bem próximo uma massa de manobra servindo a um sistema patronal sem se ater aos direitos que tem no amplo papel que exercem na sociedade civil. O escritor Heinrich Mann nos diria que “um mundo que não causa dor não incita à autodefesa. Palavras e frases também são autodefesa...”. O que dizer deste universo de coisas se não sabemos nominá-los nem criticá-los.

Portanto, é justo pensar a Universidade Brasileira como o local que interage com o global e intervém para mudar o rumo dos acontecimentos locais, porém não é justo pensá-la apenas como um órgão regulador de saberes e poderes; somos o que outrora Paulo Freire pensava: um bolsão de miséria que não consegue falar de suas próprias mediações, isto porque não conseguimos mediar nem nossas próprias relações profissionais com respeito, quando é dever de todo cidadão ter acesso aos bens simbólicos para poder gozar do livre pensamento para compreender as conseqüências tardias dos ditames que engendram politicamente suas vidas através do conhecimento.

Para se ter uma sobrevivência igual diante das relações que se criam pelos poderes paralelos dos formadores midiáticos da Educação é preciso parar para pensar politicamente num currículo proximal que atenda a questões reais deixando de lado questões periféricas e de anseios pessoais para referir-se ao que não é público nem pretende ser público.

Hoje se tem a idéia de que tudo se faz tarde para arquitetarmos outra revolução pela Educação, mas ao acordarmos para questões como a que se coloca neste instante como reflexão, o cidadão já está fazendo a sua parte para melhorar a cultura do que é público no mundo das polarizações e dos saberes dominados por doutores sem a autoridade doutoral. Lulu Santos nos adverte em certa canção: “(...) se amanhã não for nada disto caberá só a mim esquecer... Portanto, nos dizeres de Umberto Eco poderemos traçar outras reflexões para a própria cultura universitária, quando a mesma já não discute a realidade porque “(...) o caminho da ciência é difícil e é difícil distinguir nele o bem e o mal. E freqüentemente os sábios dos novos tempos são apenas anões em cima dos ombros de outros anões (...)”. (1986, p.111). Viva o alto grau de protecionismo do intelectual brasileiro!