Gênesis Naum de Farias¹*
Flávia Alves Teixeira²*
Fátima Alves Teixeira³*
¹*Professor Especialista da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
²*Professora Esp.ª em Língua Portuguesa do Município de
Petrolina/PE.
³* Professora MSc do IFPE/SERTÃO – Petrolina/PE.
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“Por sorte,
surge de tempos em tempos quem coloque as coisas no devido lugar: críticos,
amantes da arte, espíritos inquisitivos.”
Charles Baudelaire
em O
Pintor da Vida Moderna.
Diante dos desafios do ensino
contextualizado e da necessidade de se repensar a Educação para o Campo e
incentivar projetos ligados à formação de novos leitores nas escolas da zona
rural, faz-se urgente pensar, pelo olhar de quem está diretamente ligado aos
processos educacionais, respostas para os desafios do Ensino de Literatura como
parte do processo que viria ampliar a importância dos estudos literários pelas
ações curriculares. Na verdade, os saberes culturais andam na mesma direção
proposta pelas ações curriculares e necessitam de mais projeção ao serem
trabalhados no ambiente escolar como conteúdos que trazem relevância ao
trabalho docente. O presente artigo se configura como um relato de uma
experiência científica desenvolvida com o Ensino de Literatura numa escola em
Área de Desenvolvimento Econômico Rural no Município de Petrolina/PE. A pesquisa
nasceu desse desafio: dialogar com Professores de Língua Portuguesa sobre as
Implicações Subjetivas da Leitura no Âmbito Educacional. A proposta previa um
estudo de caso onde a escuta professoral demarcasse os territórios das
incertezas históricas e pedagógicas para o processo ensino-aprendizagem, tendo
como fator de analise a escuta existencial dos atores que compõe a Educação do
Campo, no Campo e para o Campo.
O objetivo era unir a produção dos
alunos e perceber os sentidos empregados com o fim de ampliar horizontes e
diminuir as fronteiras entre o Ensino de Literatura, o estudo curricular e as
políticas culturais desenvolvidas em sala de aula através da importância dada
pelo Currículo à leitura. Muitas perguntas surgiram no meio do caminho: O que os
professores devem efetivamente ensinar? Que intervenções efetivas podem ser
obtidas a partir da compreensão do desenvolvimento humano e dos processos de
aprendizagem pela produção de sentidos propostos pela leitura?
Aqui se quer criticar muitas
coisas, neste relato conclusivo, e tecer novas considerações para melhorar o
Ensino de Literatura; a começar pelo investimento institucional e pelo
compromisso de cada Educador na empreitada pela qualidade da Educação oferecida
para o Campo. O fato é que se atingiram os objetivos propostos pela Pesquisa em análise. Os resultados
estão postos e seguem como reflexão aos desafios propostos para a Educação no
século XXI. É preciso ser neste exato instante mais específico para com os
Educadores envolvidos nesta empreitada ao repensar a própria formação na
Contemporaneidade, levando em consideração as questões que dão relevância ao
Ensino da Língua como uma abordagem interdisciplinar. Este fato é especialmente
importante para que futuros Educadores considerem o que terá que ser levado em
conta na formulação das novas práticas de ensino e organização curricular para
formar alunos críticos que consigam perceber os desafios que lhes são propostos
no ambiente que os operacionaliza fora dos muros da sala de aula.
Foi desafiador trabalhar os
elementos da subjetividade pela escuta existencial, tanto dos professores
quanto dos estudantes levando em consideração os fatores reais que dão sentido
ao mundo formal em oposição às abordagens pragmáticas do Currículo Proximal.
Como uma entre muitas formas, se pensou na cultura local como dispositivo
político para incorporar novos pressupostos à Educação para o Campo,
pretendendo lançar algumas esperanças no plano das transformações regionais
para o Ensino de Literatura, através da mudança na estrutura mental dos
estudantes e dos professores, criando outros repertórios ideológicos para
incorporar outras práticas de ensino pelas pesquisas desenvolvidas em sala de
aula. Ficou aclarado que a Educação para o Campo possui vocação para conceber
boas ideias em bons projetos de ensino, bastando para isso que o processo
formativo seja visto de forma contextualizada.
A princípio foi urgente perceber a
participação do referido quadro de docentes na elaboração de novas diretrizes
de ações e reflexão, tendo como objeto de indagações às questões multiculturais e as novas formas de se
produzir conhecimento, dentro e fora da sala de aula, postulando a aquisição de
novas perspectivas para o Ensino da Língua Portuguesa tendo como resultado
novos leitores. A participação da comunidade de estudantes e professores da
referida escola na zona rural de Petrolina foi fundamental para a compreensão
real dos fatores que intervêm nos resultados finais das aprendizagens
significativas. O intuito previa analisar os vários saberes ligados às questões
que se firmam nos processos de formação da cultura escolar pela leitura e
compreender a que caminhos poderão levar os processos formativos na ausência de
leitores. A tentativa pretendia reconhecer nos conteúdos literários a necessidade
de se repensar a Formação Contextualizada como auxílio ao esforço de
compreensão da realidade e seus elementos subjetivos.
Com este horizonte conceitual, a
pesquisa que hora se encerra pretendeu compreender o universo dos estudantes e
dos professores, quando se debruçarem sobre o universo da leitura e suas multireferencialidades, tendo como norte
a importância da literatura para o contexto local, resguardada pela influência
dominante do pensamento educacional moderno, através dos serviços propostos pela
Educação Formal como ferramenta de poder e de transformação social. Assim
sendo, considerou-se da maior relevância para a análise e compreensão do
trabalho junto aos docentes, a leitura em grupo, as entrevistas e a análise
documental, tendo como norte a escuta existencial dos atores desse pensamento
interdisciplinar e as novas abordagens da Educação para o Campo como elemento
de contextualização e produção de novos sujeitos, habilitados para a
compreensão da realidade como prática da liberdade.
Diante do exposto, ficou
estabelecido uma conexão prática-reflexiva que permeava as novas ações
curriculares para o Ensino de Literatura, requerendo novas condições para as
reflexões que se bricolavam pela
participação dos estudantes, refletindo criticamente sobre as experiências de
aprendizagem ao se debruçar, como leitores, sobre as vivencias literárias e a
propagação da importância da leitura contextualizada e da identificação com as
relações que esta guarda com as subjetivações que se estendem aos sujeitos
históricos pelo processo formativo do ensino contextualizado através do lugar
social da escola como o mais importante ambiente de formação cultural.
Ciente de que a maioria dos
professores precisava pensar sua própria formação, a pesquisa, em análise,
procurou contribuir de forma significativa para a formação pedagógica dos
Educadores, propiciando oportunidades para o debate das questões propostas à
atividade docente, fundamentalmente no Ensino Básico, de forma a aproximar o Ensino
das Línguas às propostas interdisciplinares, sendo este o grande ponto da
reflexão: pensar novos leitores como atores que saibam se posicionar diante das
questões que aparecem no cenário de cada contexto real.
Outro importante incentivo da referida
pesquisa para os Educadores foi elaborar a produção de uma semana para se
comemorar o Dia da Leitura com palestras, exposições, cinema e apresentações de
manifestações ligadas à cultura literária. A proposta previa eventos, marcados
por apresentações culturais e exposições de trabalhos desenvolvidos pelos
estudantes. Enfim, a pesquisa se desenvolveu objetivando compreender os
processos que caracterizam as ressignificações da representação dos Educadores
em seu contexto de sala de aula pela ampliação dos diversos olhares práticos do
Ensino de Literatura e pelo desenvolvimento das práticas educacionais como
elementos transformadores da realidade escolar, tendo como parâmetro a
habilitação e o pleno desenvolvimento das competências dos futuros leitores.
Muito embora certas habilidades
para o exercício da leitura só cheguem a ser alcançadas, de fato, com as
experiências de aprendizagens significativas, é evidente que a reflexão das
práticas pedagógicas tem um papel decisivo na formação dos novos leitores. Esta
pesquisa e seus pesquisadores se preocuparam também com a discussão sobre as novas
linguagens e/ou novas tecnologias no Ensino das Línguas, de forma a preparar os
estudantes para o uso dos múltiplos recursos pedagógicos.
É preciso salientar que nem sempre
a maioria dos docentes estão sintonizados em compreender os deslocamentos que
se dão pelas estratégias que se colocam nos caminhos do Fazer Pedagógico; é
como se as ações pedagógicas e curriculares não necessitassem desses elementos
para uma melhor identificação com o objeto do ensino como fator de
transformação. Essas questões também eram levadas em muita consideração quando
os pressupostos político-filosóficos da Educação para o Campo eram questionados
em sala de aula pelos professores ao procurem os sentidos que o Ensino das
Línguas possui para se alcançar, como implicações subjetivas, quando questões
outras surgem no ambiente escolar, como a falta de motivação, empenho e
relevância social, dados como os principais motivos que os levam a pensar na desmotivação
como algo que os desterritorializam para uma produção significativa do
conhecimento no mundo real.
O contexto exposto exigia uma atitude que
ressignificasse o entusiasmo inicial, a dedicação e a confiança nos trabalhos
desenvolvidos pela equipe pedagógica. Se por um lado é difícil pensar as
questões que se pontuam pelos aspectos da Formação, por outro lado há quem
queira refletir sobre esses aspectos que clamam por profissionais qualificados,
atualizados e preparados para enfrentar a realidade e a diversidade cultural.
Esse era o horizonte que se tinha, bem como o desafio a ser vencido: produzir
atividades de leitura compartilhada para dar um norte qualitativo ao Ensino de
Literatura para a Educação oferecida ao Território de Desenvolvimento Econômico
em Área Rural.
Muito se fala, atualmente, sobre a
nova sociedade que se estrutura para o século XXI e para os seguintes. Aqui
assumimos o compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças
cruciais ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica do
Campo, que trazem consigo a necessidade de repensarmos de forma profunda a
estrutura de nossas instituições de ensino. Para isso, aborda-se imediatamente
o que faz deste inicio de milênio um período tão singular: as simultâneas
revoluções tecnológicas e o acesso massificado à informação.
Os primeiros passos dados nesta
pesquisa pelos pesquisadores, aconteceram pelas discussões que já estavam
ocorrendo entre alguns professores insatisfeitos com questões que envolviam o
ensino e os desdobramentos das políticas públicas para a Educação Rural como
elemento de transposição didática para uma melhor configuração na Formação e
para a Formação.
Essas questões eram pontuadas
quando se refletia a Formação dos Professores e a Valorização do Magistério,
buscando a melhoria da qualidade do ensino como um dos pontos centrais do Plano
Nacional de Educação; era uma cobrança que tinha prazo e que corria ao largo de
uma efetiva solução, mas refletia em sala de aula, pois os professores entendem
que a valorização do magistério só efetivamente acontecerá quando os atores
sociais se doarem para alcançar as metas estabelecidas em cada nível de
formação ou através das modalidades de ensino que ao serem pensados na teoria,
reflita os anseios impostos pelas políticas globais de Educação. Essa valorização
só pode ser obtida simultaneamente quando for pensada como Política de
Formação, que trabalhe as condições necessárias tanto para a profissionalização
quanto para a produção de uma carreira. Ou seja, trabalho, carreira e salário.
Este é o grande desafio de qualquer
docente; superar esse tripé para fortalecer sua estética existencial. Simultaneamente essas três condições aparecem
nos anseios da classe professoral, bem como de toda a comunidade escolar. É uma
lógica que é extraída pela prática pedagógica: refletir pelas ações do
cotidiano.
Neste contexto, chegou-se a
conclusão que era necessário criar ambientes de formação para ampliar os
esforços e melhorar o Ensino das Línguas. A Lei 10.172 que rege o Plano
Nacional de Educação enfatiza claramente essas questões: “(...) Esforços dos
sistemas de ensino e, especificamente, das instituições formadoras em
qualificar e formar professores têm se tornado pouco eficazes para produzir a
melhoria da qualidade do ensino por meio de formação inicial porque muitos professores
se deparam com uma realidade muitas vezes desanimadora. Ano após ano, grande
número de professores abandona o magistério devido aos baixos salários e às
condições de trabalho nas escolas. Formar mais e melhor os profissionais do
magistério é apenas uma parte da tarefa. (...).
De fato muita coisa ainda ficou por
ser feita, mas os encontros para discutir a realidade do Ensino de Literatura
objetivaram compreender o universo professoral pela escuta pedagógica da
estética existencial no que diz respeito à transposição didática dos conteúdos
adquiridos ao longo da Formação de cada Educador. Nisto materializaram-se os
principais anseios dos educadores. Falta muito para se chegar à totalidade e a
perfeição, mas também ficou claro que falta vontade política para estreitar
laços e produzir outras práticas discursivas. A começar pelo lugar social da
fala, que foi de extrema importância nesta pesquisa, pois se concretizou, como
reflexão, no lugar social dos acontecimentos, dando outros nortes às
representações do Fazer Pedagógico.
Portanto, esta leitura da Educação Como Prática da Liberdade se
encerra reconhecendo as frustrações dos docentes, porém realçando esperanças,
pois alcançou os objetivos propostos ao reconhecer a importância da diversidade
de lócus da formação de professores
no Território de Desenvolvimento da Educação do Campo como uma advertência
singular que reconhece a totalidade de problemas enfrentados pelos Educadores e
sua diversidade de olhares como solução transitória, com tempo definido e validade
institucional, visto que a Educação para o Campo não pode ser pensada na
ausência de um compromisso político com quem ensina. É preciso que o poder
constituído nesta Nação lance outros olhares para as cidades do interior onde
estão lotadas as escolas rurais e instale outras proposições para a formação
nas séries presenciais, pois do contrário muito do que se configura como
educação para a convivência com a realidade rural, nas escolas do campo, irá
fechar suas portas por não terem nenhuma condição de trabalho digno, e aqui se
coloca a crítica de que os recursos destinados para a Formação Continuada no
âmbito da Educação para o Campo são ainda muito escassos e quase nunca se
efetivam de forma clara, mas a Formação com Prática Libertadora, vem se configurando
como uma eterna luta institucional.