Gênesis Naum de Farias¹*
Enos André de Farias²*
Flávia Alves Teixeira³*
¹*Professor da
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
²*Professor de História
da Rede Pública do Estado e Pernambuco.
³*Professora de Língua
Portuguesa da Rede Pública do Estado e Pernambuco.
________________________________
Forma
de citar
FARIAS, Gênesis Naum de. FARIAS,
Enos André de. TEIXEIRA, Flávia Alves. Os
Desafios da Educação na Sociedade da Informação. – São Raimundo
Nonato/PI: Diário Bruxulesco, 2012.
________________________________
Muito se fala, atualmente, sobre a nova sociedade que
se estrutura para o século XXI e para os séculos seguintes. Aqui assumimos o
compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais
ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica, que trazem
consigo a necessidade de repensarmos de forma profunda a estrutura de nossas
instituições de ensino. Para isso, a abordagem imediata que se faz neste inicio de milênio propõe
resultados para um período muito singular: as simultâneas revoluções
tecnológicas e o acesso massificado à informação. A seguir, são analisados os efeitos
desses fatores nas instituições de ensino, tendo como reflexo as questões que
se colocam na ordem dos novos currículos para uma sociedade do conhecimento
como razão pedagógica.
A discussão deste ensaio crítico assume o
compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais
ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica, se propondo a
compreender os enunciados teóricos que documentam os diferentes olhares que
estruturam nossas instituições de ensino, preocupando-se em pensar os desafios
significativos para a contemporaneidade através dos novos rumos que a educação
enfrentará no século XXI, tendo como eixos centrais o domínio técnico numa
época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento
econômico e social. Daí a importância de se repensar o lugar da escola, o lugar
do educador e o lugar do fazer pedagógico. Para que se alcance esse objetivo é
preciso tornar claro para todos os educadores quais são os pressupostos
epistemológicos que fundamentam suas crenças a respeito da Educação.
Primeiro, torna-se importante pensar quem são os agentes sociais de mudança que
compõe o cenário da Educação no Brasil, e que papel exerce
nos ditames desta educação quando os interesses nacionais são colocados e
confrontados com o cenário internacional. O Brasil possui um lugar de destaque
como componente do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), despontado já como a
6ª economia mundial, enfrentando o desafio de avançar internamente sob uma
situação real que já dispõe de dados colocados por pesquisas relacionadas ao
ensino e pesquisa como atividades que reconhecem na qualidade a necessidade de
avançar com relevância significativa.
É provável o reconhecimento em torno do esforço de
avançar pela reestruturação, expansão e consolidação dos Institutos de Ensino,
das Universidades, das políticas de formação continuada para a Educação Básica,
repensando salário, carreira e promoção docente, porém as reações práticas a
esses avanços na realidade sócio-política dos ambientes educacionais têm
demonstrado objetivamente que Educação não é a prioridade significativa para o
país. Que futuro se pretende como identidade de Nação, um país que trata com
descaso e atitude descompromissada à situação da sua Educação? “(...) Seremos no futuro um país miserável com uma
economia caminhando para despontar na lista dos primeiros mundos, porém donos
de uma nação listada por semianalfabetos que afirma numericamente que avançou,
criou possibilidades de aumento no número de vagas abertas para qualificar
discentes através de números que não condizem com a realidade qualitativa de um
forte compromisso com o futuro. Esse contexto resvala na questão de quem faz
diretamente os procedimentos técnicos para se financiar e gerir as políticas
públicas de Educação. (Manifesto dos Educadores da UNIVASF em prol de
políticas de Educação de Qualidade, 2011).
No geral, o que se percebe publicamente é a influencia de economistas que supervalorizam e
quantificam dados propostos como políticas educacionais, definindo as metas de
projeção, em detrimento da posição política dos educadores quando são deixados
de lado no intuito de pensarem conjuntamente os valores para melhorar o
cotidiano nas escolas, através de políticas de inclusão e qualificação. Lacan
enfatiza: “(...) Só é ensino verdadeiro
aquele que consegue despertar uma insistência naqueles que escutam, este desejo
de saber que só pode surgir quando eles próprios tomarem a medida da ignorância
como tal – naquilo em que ela é, como tal, fecunda – e isto também vale para
aquele que ensina”. (1985. p.260). Portanto, falar de Educação é
basicamente trabalhar com o conhecimento.
Vivemos uma época em que a produção do conhecimento
tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Conceitos como
sociedade do conhecimento, economia do conhecimento, gestão do conhecimento e
sociedade aprendente são amplamente utilizados para caracterizar a sociedade do
século XXI como uma sociedade relativa à informação. Contudo, a educação
nacional está em crise porque não se preocupa com as prioridades que servem
para elevar a autoestima e ampliar as aprendizagens a um patamar que dê
formação e conhecimento suficiente a toda a população para enfrentar as
dificuldades oriundas da inserção dos novos saberes em uma globalidade de
acontecimentos que atende pelas novas tecnologias inserida no mundo real.
O homem necessita de informações para poder sobreviver
num mundo gerenciado por tecnologias que a cada novo dia se renova, se
aperfeiçoa. Então, como podemos formar homens críticos para enfrentar esse novo
padrão de vida? Desde a Revolução Industrial, na Inglaterra, que o ser humano
passou a disputar com máquinas um lugar no mercado de trabalho. Estamos na
chamada era da revolução tecnológica, onde a máquina se modernizou, foi
aperfeiçoada e começa a assumir o lugar de milhares de homens no mercado produtivo.
Com isso, os conceitos de Educação tiveram que mudar.
Dilemas são
enfrentados todos os dias no ambiente das salas de aula e, um dos mais
complexos é o fato do educador muitas vezes não dominar uma prática discursiva
coerente com seus anseios políticos, que lhe dê motivação para enfrentar
problemas básicos como: pouca familiaridade com o ambiente escolar; falta de
prática pedagógica e contato insuficiente com as diversas modalidades de
ensino. O processo educativo só se transforma em prática consciente quando o
educador reflete sobre suas concepções e é capaz de justificá-las para a
comunidade em que está inserido.
É preciso superar essa prática comum que impera em
muitas de nossas instituições de ensino. O fato é que muitas vezes o discurso
oficial só cobra o compromisso de quem educa ou está na função de educador,
fazendo dos paradigmas emergentes, que envolvem esses educadores, os maiores
responsáveis pela não transformação do contexto real da sala de aula, porém é
preciso atentar-se ao preceito que diz que quando um esquema cognitivo torna-se
inadequado para dar sentido ao mundo, ele é substituído por outro.
Portanto, o novo perfil pensado para o educador do
milênio atende por alguns enunciados técnicos que perfazem a lógica cultural da
Educação pelo educador. São eles: a) boa formação: buscar permanentemente a
qualificação; b) uso das novas tecnologias: utilizá-las como recurso a favor
dos conteúdos; c) utilizar-se das novas didáticas: buscando um jeito novo de
ensinar cada disciplina; d) trabalhar em equipe e trocar ideias; e) planejar e
avaliar sempre observando as reorientações do trabalho pedagógico); f) postura
profissional: voltada para o protagonismo social. Esse é o paradigma do professor
- pesquisador que se atem as habilidades e competências e as colocam a serviço
da lógica educativa como um elemento de profissionalização dos saberes no
ofício docente. (MARTINS; MOÇO, 2010).
Essa tendência lança as bases econômico-pedagógicas
para uma renovação produtiva que não se atem a repetir as concepções analíticas
e tecnicistas dos anos sessenta e oitenta, mas quer traçar outros cenários para
a própria formação da Educação Básica. O estudo das competências fez de Philippe
Perrenoud, o autor nessa área mais lido por parte dos indicadores nacionais.
Para ele, a noção de competência se equipara a capacidade de utilizar saberes
para agir em diversas situações, onde, desde nosso nascimento, trazemos em
alguns processos de maturação elementos que serão desenvolvidos em forma de
aprendizagens ao longo das fases da vida, preparadas para adaptarem-se às
diferentes situações que a própria vida os permitir.
Ainda na década de 1970, uma nova pedagogia tornou-se
realidade no Brasil: A Educação Tecnicista. Essa nova tendência pedagógica
tinha como objetivo formar os estudantes brasileiros para o trabalho nas
indústrias e no comércio. Escolas Técnicas foram criadas, uma nova proposta
pedagógica foi inserida e o antigo segundo grau foi dividido em estudos gerais,
para formar estudantes que enfrentariam o vestibular e cursos
profissionalizantes, a exemplo de técnico em contabilidade e agronomia, para
aqueles que enfrentariam o mercado de trabalho. Essa tendência no Brasil, com o
fim de regime militar, também foi extinta, pois o retorno da democracia e o
avanço cada vez maior das tecnologias requeriam alunos preparados
psicologicamente e didaticamente para viver em sociedade e para o mercado de
trabalho, permitindo a participação efetiva em três esferas: o setor produtivo,
a sociedade civil e os processos políticos.
Nisto, é importante lembrar que o discurso
emancipatório da modernidade tardia se baseia na apropriação conceitual de dois
pilares: a) a vigência da sociedade do trabalho; b) a justificativa da
existência do ser social como um sujeito consciente de sua individualidade, mas
que não se priva do convívio em sociedade. Por isso, este projeto de emancipação
humana fracassou, por se concentrar apenas no processo técnico, tendo como resultado
final a degradação social. As novas competências, lançadas pelos teóricos para
enfrentarem a situação exposta, exige da sociedade do conhecimento, informação
e constante aprimoramento.
A partir de 1996, com a aprovação da Lei Nº 9.394/96 a
Lei de Diretrizes da Educação Nacional, novas mudanças foram inseridas no
contexto educacional brasileiro. E, precisamente, o que em nossos tempos se
modificou foi a definição do nosso lugar no mundo, que na contemporaneidade não
é mais conceituado com a noção de que fisicamente pertencemos a um país, mas
sim que o trabalho em torno do qual se processa a informação acessível a todos
se modificou e tomou outros contornos dando uma nova cara as alteridades que
compõe o cenário político do trabalho manual pelo intelectual. Essa é a melhor
definição do capital cultural processando informação para definir o global pelo
capital social.
Para que o cidadão possa assumir o papel de agente de
mudança nesse novo patamar social, o desenvolvimento das competências se dá
pela compreensão de valores sociais e morais oriundos da nossa socialização num
mundo cada dia mais competitivo, perverso e extremamente estressante, envolto
numa combinação política e cultural que nos leva a diferentes situações. O
conhecimento, nesse mundo de informação, tornou-se importante para nosso
crescimento, mas somente o conhecimento técnico não pode mudar nossas vidas.
Precisamos moldar nossos conhecimentos com novas aprendizagens, nos preparando
para enfrentarmos diferentes situações na escola da vida. É preciso formar
professores para a docência que, conseqüentemente dê contornos distintos à
identidade profissional e às práticas desafiadoras dos professores, ampliando o
desenho dos projetos que desejam formar para si e para o mundo, através da
Educação.
Por que não se reformulam os currículos
das escolas e se formata em seu lugar uma proposta mais crítica e elaborada
para corroborar com os anseios da realidade em sala de aula buscando ampliar os
horizontes conceituais que atentem para o profícuo dialogo entre teoria e
prática? A ideia principal não é ruim, nem nova. Os
Pilares da Educação para o novo milênio se mostram favoráveis ao contínuo
aperfeiçoamento dos quatro eixos norteadores e fundamentais para a formação:
aprender a fazer, ser, conviver e aprender a apreender para efetivar um ensino
que venha sanar a dívida que o sistema educacional tem com nossas próprias
incertezas históricas. (UNESCO, 2002. – In: Relatório “Educação, um tesouro a
descobrir”).
Diante do exposto, percebe-se que os Desafios da
Educação para o Século XXI, direcionados pela escola no campo ou na zona
urbana, em suas linhas mais gerais, deverão enfrentar as incertezas desses
territórios sociais para trazer a realidade para dentro da sala de aula, dando
outro sentido para o fazer intelectual pelo trabalho racional.
Paulo Freire (2002) chama atenção para a necessidade
de se pensar o papel da escola em uma
sociedade em transformação, e diz que é preciso conhecer a realidade para
oferecer o estudo dos conteúdos específicos, historicamente constituídos, sócio
culturalmente compartilhado, buscando compreendê-los para possibilitar ao aluno
a compreensão do mundo em que vive através do processo de humanização que
constitui o ser humano na sua plenitude, transformando sua vida e colocando os
conhecimentos a serviço da construção de uma realidade melhor, mais justa,
solidária e plena.
Freire também pensa no papel
do professor como sujeito histórico de transformação e afirma ser necessário
acreditar na possibilidade de mudança, sendo de fundamental importância que
este sujeito seja portador da esperança para assumir sua condição histórica de
transformação da realidade escolar, articulado a realidade social mais ampla.
Ser um sujeito transformador é estar em permanente construção para se tornar
aprendiz e mediar a realidade enfrentada pelo aluno diante do conhecimento que
se processa no amplo despertar pela busca do próprio conhecimento, favorecendo
as aprendizagens simbólicas que dão os rumos ao percurso de construção do
ensinar para aprender, propondo-se como mediador de novas aprendizagens.
Referências
ALARCÃO, Izabel. Escola Reflexiva e Nova
Racionalidade. – Rio de Janeiro: GRAAL, 1985.
BRZEZINSKI, Iria. “Políticas Educacionais:
Diretrizes Curriculares para Formação de Profissionais da Educação Básica”.
In: ANAIS do 22º ENEPe. – Salvador, 2002. Discurso proferido na Mesa Redonda
“Formação de Professores”.
DOLORS, Jacques. et al. Educação – um tesouro a
descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI. – São Paulo: Cortez; Brasília/DF: MEC: UNESCO, 2002.
FARIAS, Enos André de. “Nosso papel para que
tenhamos uma escola reflexiva”. In:
Diário da Região. – Juazeiro/BA, 2005. p.02.
FREIRE, Paulo. A Educação como Pratica da
Liberdade. – Petrópolis: Vozes, 2002.
______
. Professores reflexivos em uma Escola Reflexiva. – Porto Alegre: ARTMED,
2002.
GIROUX, Henry A. Os Professores Como Intelectuais.
– Porto Alegre: ARTMED, 2002.
______. Cruzando as Fronteiras do Discurso
Educacional: novas políticas em educação. – Porto Alegre: Artes Médicas,
1999.
LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1998.
MARTINS, Ana Rita; MOÇO, Anderson. “O novo perfil
do professor”. In: Revista Nova Escola - São Paulo: Outubro de 2010.
p.47/53. Disponível em www.ne.org.br.
PERRENOUD, Philippe. A Prática Reflexiva no
Ofício de Professor: Profissionalização e Razão Pedagógica. – Porto Alegre:
Artmed, 2002.
SETUBAL, Maria Alice. “A qualidade da Educação é
proporcional à qualificação dos professores”. In: Revista Nova Escola – São
Paulo: Abril, 2011. p. 34/38. Nota de Entrevista.