quarta-feira, 28 de março de 2012

Carta Aos Jovens do Mundo.

                                               


Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.




“É preciso entender que está em produção um formato de sociedade que tende a não ser contemporânea de si.”


Como os sábios podem nos consolar da frustração causada por uma era planetária onde a mente ocidental, apegada ao individualismo e a necessidade dos julgamentos de valor e classificações torna tudo relativo? Como a juventude compreende e apreende a realidade se é produto de uma sociedade que não se vê pertencente a uma contemporaneidade? Como a sociedade se vê diante do marasmo, do fatalismo, do fundamentalismo, do terrorismo se possui ainda em pleno século XXI uma identidade indefinida? Perguntas como estas nos reportam à condição de filósofos. Se não somos podemos aprender com eles. A verdade é que o papel da filosofia foi sempre a de produzir idéias novas com o intuito de ajudar as pessoas no caminho da felicidade. E quem não quer ser feliz? O pensador francês Blaise Pascal dizia que até mesmo aquelas pessoas que iam ser enforcados buscavam a felicidade.

A missão essencial da filosofia sempre foi trazer subsídios para a busca da felicidade. Mesmo com tantas adversidades, a juventude precisa buscar sua própria condição filosófica, pretendendo alcançar o pleno caminho da conexão com a realidade. Para tanto, é preciso se preparar para qualquer tipo de situação, onde o fracasso e o êxito escrevam páginas diferenciadas na existência de cada um ¾; não dando lugar a violência nem a banalidade do mal, utilizada pela indústria cultural para uniformizar os comportamentos.

“O homem sábio está preparado para o êxito e para o fracasso”, escreveu o pensador romano Sêneca, “para quem está preparado, a violência de todos os golpes se abranda; e somente acham golpes terríveis aqueles que não tinham diante de si se não perspectivas felizes”. A felicidade proposta por Sêneca não livra a humanidade de sua instabilidade, estando sempre entre quedas e elevações.

A juventude precisa considerar a felicidade como uma arte, e olhar na diversidade o que ainda se conserva como arte. Não somos filósofos, mas mesmo assim fica a pergunta: tínhamos mesmo de sofrer tanto? Podíamos e podemos lidar melhor com episódios como descontrole emocional, seqüestros seguidos de morte, violências contra a mulher, crianças e idosos? A resposta é sim. Não somos filósofos, mas podemos aprender com eles.

A vida tem se mostrado confusa, abstrusa, desconectada da realidade. Sim, é verdade, mas o espírito da mocidade pode tornar esses tempos de Pós-modernidade menos opressores. Basta compreende-los e se esforçar para torná-los suportável.

Aceitar as coisas como elas realmente são é outro conselho filosófico, porém deve-se fazer o possível para tentar intervir na realidade como uma forma de compreensão crítica. Revoltar-se com os resultados dos fracassos só traz mais dozes de aflições para os acontecimentos do presente. Epitecto nos diria: “Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se quere-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”.

“A felicidade pode entrar em toda parte se suportarmos tudo sem queixas”, escreveu o aristocrata e pensador romano Boécio. Não adianta se agastar contra as circunstâncias: elas não se importam. Isso se vê nas pequenas coisas da vida. No trânsito, na escola, diante das injustiças, nos carnavais, nos lares, entre quatro paredes, e no convívio social. Às vezes, os jovens só têm essas misérias humanas para descrever em suas reflexões.

O resultado não importa, e sim a entrega, a dedicação. Por isso, não se deve pensar somente em resultados, mas na possibilidade de se vivenciar outras coisas; novos sonhos, novas filosofias de vida, enfim, se permita ao novo. Diante do exposto, é evidente que a filosofia pode nos ajudar a ver a existência por um ângulo menos aflitivo.

O os jovens precisam entender que a felicidade está tanto no cotidiano como no cinema, nos livros, na poesia, na comunhão com o cosmo. Por isso é importante se doar ao subjetivo, ao eterno, ao encontro com uma espiritualidade nunca antes vista. Basta procura-la nas coisas simples como ler e vivenciar um bom livro, fazer um passeio pelo campo com amigos, desfrutar as grandezas de se estudar com mais afinco as coisas, pensar em uma ética coletiva para reforçar os anseios de mudança da própria realidade, podendo dizer de si como contemporâneo do seu tempo.

Uns se dizem de outros tempos; são mais literários, se encantam mais com o sensível; outros, são de tempos inexistentes, são soberbos, ignorantes, vazios, efêmeros, totalitários, arrogantes e mesquinhos -; mas no fundo de algum recanto de suas almas, suas vidas se propõem a buscar sempre uma forma de felicidade -;que não atrapalhe a do outro e que conviva com sabedoria, humildade e benevolência, ou seja, o que o presente lhes impor para ser suportado. É hora de viver mais o cotidiano, e buscar o outro lado da vida ou o que ela pode lhes oferecer. É sempre bom lembrar que é nas coisas pequenas que habita o melhor dos mundos.

Portanto, o que pode nos consolar diante das frustrações é o trabalho pessoal pelo que há de bom em tudo que se vivencia, somente assim seremos parceiros das modificações do real e nos tornaremos contemporâneos do nosso próprio tempo. O sábio segundo a escola estóica, é aquele que “entende que a vida é instável em sua essência”. Resistir a essas adversidades é o principal atributo do espírito da juventude, por isso é fácil entender que tudo é frágil, tudo é precário, tudo é instável, inclusive a felicidade. Ezequiel Neves disse certa vez ao Poeta Cazuza que “A única perfeição da vida é a alegria”. Eis a essência da vida: “nunca mitigar o efeito dos tropeços que damos no correr dos longos dias”.

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