domingo, 15 de setembro de 2013

Nùcleo de Estudos Foucaultiano


O Doente Imaginário 

 
Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxulesco® - Professor da Universidade Estadual do Piauí.
São Raimundo Nonato/PI/Brasil.

  
Eu desisto! Assumo no instante presente que sou o que nunca consegui ser. Fui mesmo a vida inteira um sonhador de palavras velhas que cansadas, pretendem parar de soletrar murmúrios tardios e, mesmo em face dos amores que vivi, sinto estar velho para amar outra vez. O amor é mesmo um luxo caro, já dizia um Poeta Português. Mas o amor é encantador e por isso se ama por assim dizer e ter o que falar. É doce sentir nas palavras que o ato de amar é incontestavelmente singular. Só ama quem produz sentido, fazendo as palavras decantarem prantos, dramas, solfejarem notas sempre insurretas e prematuramente, sofrer na intensidade do desencanto. Amar é isso, é fingir que dói, quando se corroer por dentro, é o mesmo que fingir que não dói não atingir as primícias do ato de amar. 

Amar nem sempre é bom, mas nos torna grandes, quando ainda somos bem pequenos para parolar sobre coisas divinas que nem sempre podemos alcançar. Quando se ama se ama. Quando se perde um grande amor, se perde de vez e se perde os rumos do norte nas canções do mar, quando em noites de lua, o seu marolar é mais intenso que as ondas do ar. O amor é fogo. Encerra-nos por dentro e nos faz destoar em pensamentos tardios, deixando-nos sem sono, sem fome, sem desejos pretensamente materiais, sem a pressa cotidiana, sem a temperança do amanhecer e, nostalgicamente, nos encanta. O encantamento das palavras quando afirmadas com sinceridade nos faz crer que somos maiores do que tudo. Ele nos transporta no imaginário de alguém, fazendo lembranças se tornar saudades redentoras e, são tão complexas as causas que levam um indivíduo a amar, que ele nem mesmo sabe por que ama sem o contentamento do instante. 

Quando se ama alguém no instante antigo do desapego, tudo se faz conspiração, mas os rumores tardios, sem retoques, ampliam o acaso dos registros mais sinceros. É como ver o tempo nos adormecer com a ternura de uma criança e nem sentir as horas que passam sem a misericórdia do controle. O relógio do tempo é mesmo o infame que nos atordoa quando queremos sofrer ao dizer ao outro quem o ama. É um segredo revelado, porém maculado e impoluto que atinge a grandeza redentora da verdade. Já não se têm amantes como outrora, que mesmo em face de qualquer descontentamento, falam do amor como asas de mistério. 

Na verdade, a realidade é tão severa com quem ama, que dizer o que sente, já se tornou tão banal e impróprio, que ser verdadeiro com as palavras torna-se doloroso e penoso, pois verdades que nascem mortas, não servem para serem ditas. O amor nestes casos torna-se revelador a ponto de nos perguntarmos por que escrevemos ou porque sofremos pela verdade não dita. O triste disso é que a humanidade se tornou enferma de si própria sem entender a ética do cuidado de si. Mas o dia nasce para quem ama e os primeiros dias da primavera já nascem velhos e sorumbáticos, como se nem fosse a estação dos primeiros encontros, dos primeiros projetos, dos primeiros sonhos, dos primeiros olhares, das primeiras enamoradas e, porque não dos primeiros arroubos. 

Quando a humanidade reaprender a amar, os dias se tornaram mais longos, as horas mais descompassadas e os passos mais lentos. O difícil é fazer esta mesma humanidade se reencontrar na amável doçura de uma certeza jeitosa, já que sem muitos sonhos e sem muitas aspirações, caminhamos para o mesmo desfecho, sonolentos como almas tristes que não encontram paz nas coisas mais simples. Mas quem sabe minhas infindas desistências não são prematuras porque também nunca soube amar da forma que o concebo nos meus devaneios poéticos. Tem horas que pensamos em desistir de tudo, inclusive dos raios do sol que iluminam o dia. É quando deveremos pensar que certas incertezas servem para nos fortalecer diante das adversidades, isto porque nem sempre somos tão capazes de falarmos de nossas próprias fragilidades; mesmo aquelas mais recalcadas. O recalque que nos orienta é intolerável e deve ser pensado assim.  

A vida tem se tornado intolerável porque nunca conseguimos interpretar o que deveras ser conjugado com sinceridade, mas quando escrito, torna-se documento. Talvez se o ato de amar alguém fosse interpretado com mais pureza, as incertezas históricas do ser humano pudessem se tornar mais explicativas. Nos velhos casarões da memória, tudo afirma uma sensação triste, porque tudo passa, inclusive a certeza de quem somos ou de quem amamos. Um dia escrevemos o nome de alguém em nosso coração e outro dia simplesmente o tiramos daquele lugar sagrado, cheio de verdades. O que não passa é a certeza de que as mais profundas horas atordoam qualquer vivente no eito dos passos lentos, nos decênios de uma cidade morta. Quando descrevemos o amor em tempos de cólera é para documentar que ele nos imprime verdades nem sempre sinceras, afinal, somos o que somos porque sempre fazemos escolhas impróprias que de forma nem sempre elegante, ressoa em ruas despedaçadas. Mas amar é sempre bonito. Tanto para quem ama, quanto para quem é amado e, por isso suas asas de mistério são enormes e quase nunca é percebida por quem não sabe o que é o amor. Dorival Caymmi já cantava, “Você não sabe amar meu bem, não sabe o que é o amor, nunca sofreu e quer saber mais que eu...”. 

Eu sempre acumulo muitas perdas porque minhas paridades são sempre intensas. Costumo sempre dizer que nos meus romances de angústia, as fatalidades são sinceras e desencontradas no isolado som da tristeza, sob a sombra distinta da partida. Vivo de dilemas infernais a espera do conforto da palavra, na toada das dores de um passado que o esteio esvoaçava no recinto dos sonhos, e sob a visão de castelos demolidos, me reconheço sem a altivez dos profetas que a esmo se perdeu nos termos da euforia. E que o decrepitar da timidez me consome, em clamores, vive imerso minhas fantasias e de nostalgias, vivo preso à agonia... 

Mas se assim sou, como posso ao tempo de uma existência, me definir para despersonificar a essência dos contrastes que envolvem as incertezas do meu nítido silêncio de Poeta? Primeiro, seria preciso dizer que sou um homem do mundo, habitado por muitos lugares e composto por uma simbologia contida de desencontros. Eis o que o tempo sempre me diz: sou no espírito deste tempo, uma Esfinge de Mármore. Eu poderia reivindicar para os meus eus a máxima de Terêncio (185 – 159 aC) adotada integralmente pelo pensador Karl Marx: “Sou humano: nada do que é humano reputo alheio a mim”. 

Agora, desistindo de tudo, inclusive e mim mesmo, me ponho a pensar como um doente imaginário que busca para si a extraordinária certeza da razão de que desistir de amar é como desistir de viver, e faço das palavras de Augusto Renoir as minhas, quando descreveu o mais belo amigo, Amadeu Modigliani, a dançar na chuva feito uma criança insone que de louco tinha apenas um pouco de lucidez: “(...) Eu o vi dançar uma vez, perto da estátua de Balzac. Seu rosto estava bonito, seus passos graciosos... Pavoneado-se com a música, ele sorria... Ele foi tudo o que eu já fora. Roubei aquele momento e guardei-o na memória... Para estar lá e me confortar nos meus dias finais”.
 

Imprensa Foucaultiana®

 

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Núcleo de Estudos Foucaultiano


IX Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade

UESPI\Núcleo de Estudos Foucaultiano\Seleção de Imagens\Conferência do Professor Gênesis Naum de Farias.



Acontecerá no Campus da UESPI - São Raimundo Nonato
Eixo Central do Evento: Interdisciplinaridades Foucaultianas: Uma Trajetória pelas Ciências da Subjetividade.



         Está acontecendo desde o dia 14 de Agosto o IX Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade no Campus Ariston Dias Lima, organizado pelo Núcleo de Estudos Foucaultiano; evento que já entrou para o calendário oficial da Universidade Estadual do Piauí por congregar pesquisadores e educadores que através da Extensão Universitária queiram falar de suas pesquisas e de suas metodologias de ensino com pesquisa. O referido evento está em pleno desenvolvimento e transcorrerá até o dia 28 de Setembro, onde uma empreitada de Pesquisadores e Professores da Pós-Graduação da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, que tem um Campus no Município de Juazeiro da Bahia, prestigiará o Campus Ariston Dias Lima com uma visita de campo e concluirá sua atividades com uma Conferencia proferida pela Prof.ª Dr.ª Luzineide Dourado Carvalho que fará uma conferência sobre o Panorama da Educação Contextualizada no Brasil, fechando assim com chave de ouro o Encontro de Professores Pesquisadores.

       O evento deste semestre trás como Eixo Central a temática As Interdisciplinaridades Foucaultianas: Uma Trajetória Pelas Ciências da Subjetividade e conta com a experiência de diversos profissionais da área da pesquisa educacional, bem como de profissionais desta e de outras regiões, que de forma comprometida trazem suas observações para a trajetória da pesquisa e do debate no âmbito desta Universidade. 

Sobre O Núcleo de Estudos Foucaultiano

         O Núcleo de Estudos Foucaultiano é um Projeto de Extensão desenvolvido como Pesquisa Aplicada e tem por objetivo fundante a compreensão da obra do filósofo Michel Foucault com vistas ao aprimoramento do espaço do debate na Universidade, tendo como referencial os pressupostos teóricos empreendidos pelo contexto que envolve os processos de desterritorialização em sua dinâmica de pluralidade junto à pesquisa educacional e a formação dos estudantes das Licenciaturas nos Campi da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, de modo a entender e fortalecer as estratégias de ensino-aprendizagem com vistas a uma melhor compreensão dos sentidos da Educação na Contemporaneidade.

        O Professor Gênesis Naum de Farias ressalta ainda a importância do evento para a micro-região, já que o fomento por novas abordagens sobre o fazer da pesquisa em sala de aula ou a pesquisa nas escolas é um requisito que atende aos novos rumos que a escola do século XXI exigirá para que de fato se tenha um espaço escolar pontuado pela qualidade do ensino multidisciplinar. O mesmo reforça: “A escola que queremos está longe de alcançarmos, mas a que pretendemos criar ou reelaborar pode se consolidar com praticas inovadoras e com compromisso profissional, trabalho em equipe e vontade política”.

         O evento contará ainda com o lançamento de dois livros, um do próprio Gênesis Naum de Farias e um segundo lançamento do Professor Dr.José Carlos Aragão da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, que vem a público dividir sua proficiência doutoral com um trabalho inédito sobre a sociologia do presente, isto, para entender os nortes de uma geografia que em si, pretende ressignificar alguns conceitos sobre o fazer da pesquisa no Sudeste do Estado do Piauí.

     O Professor Naum de Farias ressalta ainda a importância do evento quando transfere para a Universidade o bastião deste empreendimento: “É de suma importância ajudar uma Região inteira no empreendimento de formar para atuar nas escolas e, este é o papel da Universidade Estadual, pois além de organizar eventos como este, forma cidadãos capacitados para atuarem no mundo, pois possui uma Educação humanística e de excelência, com troca de experiências mútua com outras instituições de ensino, a conviver com a diversidade. A UESPI educa jovens que partem para o mundo do trabalho com bagagem de cidadania e cultura. Venha estudar com a gente! A nossa missão é educar! Além do mais o acompanhamento acadêmico é permanente, sem contar que possuímos um corpo docente qualificado, com professores pesquisadores que atuam com formação de ponta com responsabilidade social. Somos uma Universidade que possui atividades culturais e artísticas, fazendo um intercambio com universidades parceiras. Por tudo isto, acredito que temos ainda muito por fazer, mas o desafio é para ser vencido”. Conclui o Professor Gênesis Naum de Farias.



Público Alvo: Educadores, Estudantes, Sociedade Civil.
Responsável pelo Evento: Professor Gênesis Naum de Farias
Núcleo de Estudos Foucaultiano - UESPI



Universidade Estadual do Piauí - UESPI 


Educação humanística e de excelência, troca de experiências, convívio com a diversidade. A UESPI educa jovens que partem para o mundo do trabalho com bagagem de cidadania e cultura. Venha estudar com a gente! A nossa missão é educar! 


●Acompanhamento acadêmico permanente ● Corpo docente qualificado ● Professores-pesquisadores ● Formação de ponta com responsabilidade social ● Laboratórios e oficinas ● Atividades artísticas e culturais ● Complexo poliesportivo ● Intercâmbio com universidades parceiras ● Participação em projetos sociais e ambientais ● Biblioteca com mais de 5 mil volumes. 

Informações
89 3582-1312


COMPAREÇAM!!!!!!!

sexta-feira, 7 de junho de 2013


Professor Gênesis Naum de Farias é Publicado na Revista da UNICAMP
E ainda é Destaque em Encontro de Arte e Educadores em Oeiras (PI)

Aconteceu na cidade de Oeiras (PI), Campus Professor Possidônio Queiroz entre os dias 24,25 e 26 de Maio o Encontro de Arte e Educação sobre os Novos Olhares Contemporâneos no Contexto da Realidade Escolar. O referido evento contou com uma equipe multidisciplinar para o quesito de organização, contando com professores do Campus de Oeiras e São Raimundo Nonato, do qual o Professor Gênesis Naum de Farias fez parte em comissão de organização. Além de atuar na organização, proferiu uma conferencia que se intitulou A Educação e a Subjetividade no Contexto da Indústria Cultural, ocorrida como mesa redonda na noite do sábado dia 25. Ao todo, ocorreram quatro (04) grandes Conferências e uma série de comunicações, bem como a apresentação em forma de recital homenageando o Poeta e Diplomata Vinicius de Morais, fechando o evento com a graça da poesia. O evento esteve sob a responsabilidade da Professora Magda Soares que trabalha a disciplina Arte e Educação no Colegiado de Pedagogia e o enfoque central do debate pretendeu partilhar experiências culturais e educacionais, garantindo a aproximação entre diferentes pesquisadores através de suas produções com extensão universitária. No ensejo, fora apresentando o Documentário O Estado da Arte na Fuleragem de autoria do Professor Naum em parceria com a Universidade Estadual da Bahia, através do Departamento de Ciências Humanas – DCH III/ Juazeiro – Bahia.
No ensejo, é bom lembrar a publicação recente do artigo do referido Professor Gênesis Naum, pela Revista da UNICAMP, quando trouxe relevantes contribuições teóricas e epistemológicas para o campo científico da Arqueologia. O artigo é fruto de uma conferencia proferida na própria UNICAMP entre os dias 19/03 e 23/03 na I Semana de Arqueologia. A produção do artigo é parte do intenso debate sobre o campo multidisciplinar do Currículo no contexto crítico e sua produção se deve a uma pesquisa que tem como foco ampliar as demandas práticas do trabalho acadêmico, quando o mesmo é norteado pelo referido documento (Currículo) que regimenta os diversos eixos do ensino no âmbito da formação. O autor fala sobre a publicação do artigo: “Caros Professores, gostaria de dividir com todos vocês a publicação do ensaio crítico ‘O Ofício do Arqueólogo: O Currículo em Tempos de Subjetividade e Crise’ pela Revista da UNICAMP fruto de uma conferencia nesta Universidade em meados deste ano. É com grande satisfação que comunico o lançamento dos Anais da I Semana De Arqueologia da UNICAMP – ‘Arqueologia e Poder’, publicado como edição especial da Revista de Arqueologia Pública (ISSN 2237-8294), publicação esta vinculada ao Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/NEPAM/UNICAMP). O acesso aos textos que foram apresentados durante o evento, divididos em seções temáticas, pode ser feito por meio do link:http:/www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/

Agradeço mais uma vez a todos e desejo uma ótima leitura a todos!




 

Núcleo de Estudos Foucaultiano © Gênesis Naum de Farias 
Poeta Bruxulesco®
- Professor da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
 São Raimundo Nonato/PI/Brasil.

 





 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Caros Amigos, Colegas, Professores!

Caros Amigos, Colegas, Professores!


Gostaria de dividir com todos vocês a publicação do texto "O Ofício do Arqueólogo: O Currículo em Tempos de Subjetividade e Crise" pela Revista da UNICAMP, fruto de uma conferencia proferida nesta Universidade em meados deste ano.  É com grande satisfação que comunico o lançamento dos Anais da I Semana de Arqueologia da Unicamp - "Arqueologia e Poder", publicado como edição especial da Revista de Arqueologia Pública (ISSN 2237-8294), publicação esta vinculada ao Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/NEPAM/UNICAMP).

O acesso aos textos que foram apresentados durante o evento, divididos em seções temáticas, pode ser feito por meio do link: http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/

Agradeço mais uma vez a todos e desejo  uma ótima leitura a todos!

Gênesis Naum de Farias
Universidade Estadual do Piauí - UESPI
São Raimundo Nonato

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O Adeus às Armas



Núcleo de Estudos Foucaultiano© Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxuesco® -Prof.º da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.

 


Num dia de Primavera, onde se inventam paixões e se enviam flores aos amores tardios, o ancião Alcestes Saladino se despede dos seus segredos ao descrever seus retratos mais íntimos numa saudade tão densa que o fazia definhar como um cego perdido no mundo que criou para si ao recordar-se dos anos que se perderam no estro com tantas incertezas. O cenário parecia um idílio romântico, onde toda fortuna parecia recortada por tantas angústias que nem se apercebia que o dia dava lugar à noite que chagava com tanta pressa, anunciando o brilho de outras estrelas naquele céu de almirante. Estava decidido a fechar-se no silêncio de si e entregar-se às preces para seguir o ritmo dos ciclos litúrgicos, através de retiros espirituais. Em comunhão, entregou-se aos pensamentos na esperança de encontrar conforto às suas desilusões clamando aos céus: vocatus atque non vocatus, Deus aderit (Chamado ou não, Deus estará presente). Era um começo de noite e passava sua vida a limpo perguntando-lhe pelos desencontros do arrebol e suas eternas despedidas. Ele entendia suas mágoas como uma troça de fim de festa. Tardiamente, percebia que não conseguiria se perdoar, por ter se fechado durante muito tempo no orgulho de si, em proposições de um delírio gutural que fazia do instante um caso sem reverso. Saladino tinha mania de cantarolar versos de toda gente e aos poucos foi se acostumando a solfejar alguns que lhe insurgia na memória, mas continuou sua desdita na ânsia de falar do seu eu em pensamentos longos, que naquele início de noite duraria uma eternidade. Dizia-se Poeta e como tal, tinha que sucumbir ao sofrer. O momento era de lembranças esquecidas, quando de repente se recordou de um lamento errante. Era um lindo poema nunca antes composto, feito um banquete de alegria que se perdeu com o vazio da sina: “Tu, único sol, vem! Sem ti as flores murcham, vem! Sem ti o mundo não é senão pó e cinza. Este banquete, esta alegria, sem ti são totalmente vazios, vem!”. A seqüência de imagens sonoras não parou por aí e outros versos bateram-lhe as portas da percepção. Um destes foi rapidamente lembrado e retirado da lavra de um português muito antigo que disse em prece da casualidade que toda saudade era uma pedra no cais. Mas aquele velho mouro não conseguia calar a mente que fervilhava em constipações ancestrais. Retorcendo-se em seus próprios sentimentos, dizia para si da saudade lírica das noites de boêmia, pois nestas madrugadas fora amado e amou platonicamente a Flor do Lácio, quando na distância do cais, a saudade se fazia temerária, o amor engravidava sua mente; até que um dia “O teu amor veio até meu coração e partiu feliz. Depois retornou, vestiu a veste do amor, mas mais uma vez foi-se embora. Timidamente lhe supliquei que ficasse comigo ao menos por alguns dias. Ele se sentou junto a mim e se esqueceu de partir e enfim, partiu...”. Alcestes Saladino não era de embromo, e suas referências sentimentais se perdiam no silêncio daquele espaço estrelado onde mãos e pinceladas magras, traçavam o vazio da devoção. Queria que o curso da noite desalinhasse seu último exílio na ausência de cores sem a presença de sons nem palavras. Agora entendia a experiência de Santo Agostinho em suas Confissões: “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei. / Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-te! / Estavas comigo e eu não estava contigo. / Eu tenho sede e fome de ti. / Tu me tocaste e ardi no desejo de tua paz... / E nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em ti”. Ele parou um instante e refletiu mais uma vez sobre as afirmações que lhe saíam da alma e, feito um transeunte, retomou seu discurso, silenciado pela imponência da comunhão vivida em outros tempos, quando a linha austera da vida lhe cobrava alguma coisa daquele cenário. A conclusão daquela proclamação contorcia tanto aquele velho mouro que a certo momento disse para si: ─ O amor me matou e hoje sou uma personagem que já nasceu desse teatro tétrico, construído para as tragédias do labor do concreto, retratado no funéreo silêncio de emoções estáticas... ─ O langor daquela frase calou-o por um instante, e novamente fez renascer as virtudes nobres de um cavaleiro melancólico que se lamentava ao se referir à sombra nociva que se tornou com o passar dos dias, calado pelo desdém do sentimento que insistia vivo. Afinal, refez projetos, mudou seus feitos, compreendeu os erros da juventude e encontrou um jeito próprio de enfeitar as noites do seu bem. Já não havia nenhuma possibilidade de se tornar o homem que foi em outros tempos: amável, amante, sincero, correto, atencioso, amoroso, gentil e generoso. Resolve então pensar no consolo dos livros, amigos tão fiéis. Era o retorno à essência do que mais gostava de fazer: ler e sonhar com as estrelas, feito um Decifrador de Acasos. Era um desfecho avassalador para se viver ao longo de uma Primavera: “(...) conduzir-me sem ideias, sem interesse, no meio do desencadear de interesses confessados e inconfessáveis. Sou uma espécie de imposto mínimo, e por isso nem sou malandro, nem mendigo, nem um homem como qualquer, porque não quero mais do que isso”. ─ Ao troar daquela cena, parou de descrever-se por alguns instantes e, depois de um longo período, contemplou aquele brado tardio, com o olhar de quem vê e não enxerga, parado para o poente, até perceber que a noite pairava nos meandros e sua triste figura esperava apenas o conforto daquelas inquietas existências. Naquele instante de solidão, falou a Deus e entrou novamente em comunhão, silenciado pelo Infinito, ao perceber que aquele era o seu tempo de transcendência... Sua displicência foi tanta que se perdeu no sinuoso verso que à memória soprava-lhe: “Amo-te tanto Jarina, / Nesta distante insensatez / Onde a alma canta as ternuras / Da solidão da paisagem/ Na imensidade fugidia do silêncio / Ao embriagar das despedidas...”.

 

domingo, 5 de maio de 2013

A Redenção do Instante Com Deus


 
 
Núcleo de Estudos Foucaultiano© Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxuesco® - Prof.º da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. São Raimundo Nonato/PI/Brasil.


 
Hoje acordei de um sonho que me colocou frente a frente com os reais sentidos da transformação. Era a idéia de um desfecho sonolento que aos poucos ia se refazendo em lembranças de um período vivido, cheio de grandes afirmações e projetos. Era a própria vida que transcorria em imagens nem sempre levada a sério pelo que se queria. Afinal, Deus havia sido esquecido, ficando apenas na concepção da forma sem nunca ser lembrado como criação. O amor é a criação de tudo. A forma é o resultado de toda criação. Ficar somente no estágio da forma é simplesmente sentir que a criação deu lugar apenas aos meandros de uma estética disforme, vazia, sem projetos, sem sonhos, sem desfecho, sem pureza, sem acordos de perdão.

O homem quase sempre vive preso ao som funéreo que a modernidade lhe impõe como parte de um delírio gutural que ao fechar-se em si, nos processos de individualização, deixa de perceber a grandeza manifestada pela motivação que nasce própria de um aceno de comunhão que só pode vir de Deus. Abandonar-se sem Deus é o mesmo que definhar por entre mundos de subjetividade que quase sempre só leva os indivíduos ao abandono de pessoas queridas, ao abandono de coisas idealizadas e projetos espirituais que por si só deixam de refletir a motivação que nos é própria, quando se busca na espiritualidade ou por meio dela, as grandes conquistas que se deixaram perdidas em algum canto da existência.

Ao tentar dormir, pensando em tudo que perdi, acordei lembrando que o outro (individuo) nunca quer somente matéria, nem quando a mesma se torna coisa ou se coisifica, porém o que se quer é o que de melhor o outro tem; ou seja, o brilho, o encanto, a motivação, as palavras de conforto e todo o brilho poético de algo que ficou para trás porque fora deixado de lado na ânsia de se encontrar com o nada de tudo. Agora era perceptível que as perdas se davam por entre aquelas reflexões. Foi impactante pensar que o melhor de tudo fora esquecido em função de um orgulho sem sentido que não me levou a lugar nenhum.

Voltar-se aos princípios da criação era o que de mais importante se poderia fazer a partir daquele instante. Nada mudaria no outro, mas no si de cada um quando em estado de maturidade, tudo e todos se colocariam no seu devido lugar. Era hora de voltar a Deus com a mesma comunhão dos primeiros instantes para reformular anseios e projetos perdidos, quando o mais importante já havia se perdido, o amor pela vida e o amor pelas coisas mais simples e importantes que a vida podia oferecer. Tudo estava por se ressignificar no limbo das existências.

Era hora de começar de novo a ser grande, influente, motivador, e em comunhão, traçar novos planos para este futuro incerto, pois de incertezas já se tinha vivido metade da própria vida. É hora de se conjugar outros planos. O amor que se perdeu se perdeu: as coisas que se perderam no curso da história precisavam ser novamente conquistadas. Os anseios de mudanças, a poesia de outros tempos, a alegria de outras conquistas, o amor e sua criação mais fluente, o brilho e seu apogeu mais tardio. Era hora de viver novamente tudo com a mesma alegria de outros tempos.

Porém ao acordar envolto em tantas lembranças percebi que poderia mudar e, mudar para se melhorar. Primeiro, era preciso viver em comunhão sem tantas ausências, sem tantas atribulações, sem tantas preocupações com o presente. O Segundo passo seria viver e voltar à comunhão com o Deus da transfiguração que é a própria criação, para depois seguir o curso da própria história sem titubear em tristezas tão sem sentidos. Era chegado o momento de voltar-se aos pensamentos grandiosos, cheios de poesia, sem se deixar levar por ideias estáticas e vazias. Era hora de replanejar o próprio mundo que renascia vivo, e por meio da comunhão, voltar a acreditar que somos indivíduos plenos de nossas insanidades, mas se recheados por dentro, pela espiritualidade que vem dos céus, a vida poderia ser mais digna de se viver no arrebol de cada cotidiano.

No final desta reflexão, já acordado e plenamente consciente dos pensamentos que burilavam minha alma, me conscientizei de que era preciso se fortalecer na fé de que os outros indivíduos não querem nossas tristezas nem nossos pesadelos, antes eles querem o que de melhor podemos lhes oferecer em grandes instantes de alegria e convicção. A convicção de que tudo que nos é mais importante cativa o outro para nos aceitar como realmente somos. Não há mais lugar para tristezas sem sentido, nem para interpolações sem grandezas.

A poesia habita aí neste lugar de sossego, se colocando no mundo pela perfeição que exaltamos ao exalarmos o que de melhor Deus nos fez ver nas ações do cotidiano. Que destas reflexões renasça o Poeta que ficou esquecido no passado, para daí fazer-se reconciliado com a própria vida, já agora cheia de encantos e pronta para entender que Deus hoje fez morado em seu coração.

O tempo da mudança e da esperança ressurgiu. É hora de reconfigurar os pedaços que ficaram das coisas que do passado serviram para obstruir os projetos maiores que a vida tem a nos oferecer. Por isto, neste dia de grandes descobertas é preciso reviver grandes projetos para dar lugar aos anseios de Deus em nossas vidas. Fiquem todos na santa luz que brilha a partir deste novo dia que nasce com os primeiros raios do sol. Que este dia floresça no coração de quem vos escreve e para quem vos escreve. Fiquemos em paz e que esta mesma paz ilumine os nossos dias...
 

Petrolina, Pernambuco. 25 de Abril de 2013.

 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Núcleo de Estudos Foucaultiano


VIII Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade


Eixo Central do Evento: Os Sujeitos Como Reflexões Sobre as Potências Criativas do Conhecimento



Programação


Conferência de Abertura: O Sujeito na Pós-modernidade. – Prof. Esp.ª Gênesis Naum de Farias/ UESPI. – 02/04/2013.

Conferência: A Máquina do Tempo: Um prenúncio à animalidade e à catástrofe. – Profº. MSc Vinicius Macedo Barreto de Negreiros/ UFRS. – 08/04/2013.

Eixo Temático: Os Estudos Foucaultianos no Contexto do Currículo

Mini-curso: Bruxos e Poetas na Era Foucaultiana. – Profº. MSc Vinicius Macedo Barreto de Negreiros. – 03 e 04/04/2013.

Mini-curso: Deleuze e a Educação: Reflexões sobre as potências criativas do conhecimento. – Prof.º Esp.ª Gênesis Naum de Farias. – 08 e 09/04/2013.

Atividades Culturais:

Exibição do filme Clube da Luta. − Sala de Conferências.

Exibição de Documentários dos alunos sobre os Diálogos Existências pelos Diálogos Pedagógicos: Debates e Diálogos Ente Comunidades.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A Importância da Leitura na Educação do Campo e suas Implicações Subjetivas sobre a Contemporaneidade.


Gênesis Naum de Farias¹*
Flávia Alves Teixeira²*
    Fátima Alves Teixeira³*
 

¹*Professor Especialista da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
²*Professora Esp.ª em Língua Portuguesa do Município de Petrolina/PE.
³* Professora MSc do IFPE/SERTÃO  – Petrolina/PE.
_________________________________

 
 
Por sorte, surge de tempos em tempos quem coloque as coisas no devido lugar: críticos, amantes da arte, espíritos inquisitivos.” 

 Charles Baudelaire
em O Pintor da Vida Moderna.
 
          


           Diante dos desafios do ensino contextualizado e da necessidade de se repensar a Educação para o Campo e incentivar projetos ligados à formação de novos leitores nas escolas da zona rural, faz-se urgente pensar, pelo olhar de quem está diretamente ligado aos processos educacionais, respostas para os desafios do Ensino de Literatura como parte do processo que viria ampliar a importância dos estudos literários pelas ações curriculares. Na verdade, os saberes culturais andam na mesma direção proposta pelas ações curriculares e necessitam de mais projeção ao serem trabalhados no ambiente escolar como conteúdos que trazem relevância ao trabalho docente. O presente artigo se configura como um relato de uma experiência científica desenvolvida com o Ensino de Literatura numa escola em Área de Desenvolvimento Econômico Rural no Município de Petrolina/PE. A pesquisa nasceu desse desafio: dialogar com Professores de Língua Portuguesa sobre as Implicações Subjetivas da Leitura no Âmbito Educacional. A proposta previa um estudo de caso onde a escuta professoral demarcasse os territórios das incertezas históricas e pedagógicas para o processo ensino-aprendizagem, tendo como fator de analise a escuta existencial dos atores que compõe a Educação do Campo, no Campo e para o Campo.
O objetivo era unir a produção dos alunos e perceber os sentidos empregados com o fim de ampliar horizontes e diminuir as fronteiras entre o Ensino de Literatura, o estudo curricular e as políticas culturais desenvolvidas em sala de aula através da importância dada pelo Currículo à leitura. Muitas perguntas surgiram no meio do caminho: O que os professores devem efetivamente ensinar? Que intervenções efetivas podem ser obtidas a partir da compreensão do desenvolvimento humano e dos processos de aprendizagem pela produção de sentidos propostos pela leitura?
Aqui se quer criticar muitas coisas, neste relato conclusivo, e tecer novas considerações para melhorar o Ensino de Literatura; a começar pelo investimento institucional e pelo compromisso de cada Educador na empreitada pela qualidade da Educação oferecida para o Campo. O fato é que se atingiram os objetivos propostos pela Pesquisa em análise. Os resultados estão postos e seguem como reflexão aos desafios propostos para a Educação no século XXI. É preciso ser neste exato instante mais específico para com os Educadores envolvidos nesta empreitada ao repensar a própria formação na Contemporaneidade, levando em consideração as questões que dão relevância ao Ensino da Língua como uma abordagem interdisciplinar. Este fato é especialmente importante para que futuros Educadores considerem o que terá que ser levado em conta na formulação das novas práticas de ensino e organização curricular para formar alunos críticos que consigam perceber os desafios que lhes são propostos no ambiente que os operacionaliza fora dos muros da sala de aula.
Foi desafiador trabalhar os elementos da subjetividade pela escuta existencial, tanto dos professores quanto dos estudantes levando em consideração os fatores reais que dão sentido ao mundo formal em oposição às abordagens pragmáticas do Currículo Proximal. Como uma entre muitas formas, se pensou na cultura local como dispositivo político para incorporar novos pressupostos à Educação para o Campo, pretendendo lançar algumas esperanças no plano das transformações regionais para o Ensino de Literatura, através da mudança na estrutura mental dos estudantes e dos professores, criando outros repertórios ideológicos para incorporar outras práticas de ensino pelas pesquisas desenvolvidas em sala de aula. Ficou aclarado que a Educação para o Campo possui vocação para conceber boas ideias em bons projetos de ensino, bastando para isso que o processo formativo seja visto de forma contextualizada.
A princípio foi urgente perceber a participação do referido quadro de docentes na elaboração de novas diretrizes de ações e reflexão, tendo como objeto de indagações às questões multiculturais e as novas formas de se produzir conhecimento, dentro e fora da sala de aula, postulando a aquisição de novas perspectivas para o Ensino da Língua Portuguesa tendo como resultado novos leitores. A participação da comunidade de estudantes e professores da referida escola na zona rural de Petrolina foi fundamental para a compreensão real dos fatores que intervêm nos resultados finais das aprendizagens significativas. O intuito previa analisar os vários saberes ligados às questões que se firmam nos processos de formação da cultura escolar pela leitura e compreender a que caminhos poderão levar os processos formativos na ausência de leitores. A tentativa pretendia reconhecer nos conteúdos literários a necessidade de se repensar a Formação Contextualizada como auxílio ao esforço de compreensão da realidade e seus elementos subjetivos.
Com este horizonte conceitual, a pesquisa que hora se encerra pretendeu compreender o universo dos estudantes e dos professores, quando se debruçarem sobre o universo da leitura e suas multireferencialidades, tendo como norte a importância da literatura para o contexto local, resguardada pela influência dominante do pensamento educacional moderno, através dos serviços propostos pela Educação Formal como ferramenta de poder e de transformação social. Assim sendo, considerou-se da maior relevância para a análise e compreensão do trabalho junto aos docentes, a leitura em grupo, as entrevistas e a análise documental, tendo como norte a escuta existencial dos atores desse pensamento interdisciplinar e as novas abordagens da Educação para o Campo como elemento de contextualização e produção de novos sujeitos, habilitados para a compreensão da realidade como prática da liberdade.
Diante do exposto, ficou estabelecido uma conexão prática-reflexiva que permeava as novas ações curriculares para o Ensino de Literatura, requerendo novas condições para as reflexões que se bricolavam pela participação dos estudantes, refletindo criticamente sobre as experiências de aprendizagem ao se debruçar, como leitores, sobre as vivencias literárias e a propagação da importância da leitura contextualizada e da identificação com as relações que esta guarda com as subjetivações que se estendem aos sujeitos históricos pelo processo formativo do ensino contextualizado através do lugar social da escola como o mais importante ambiente de formação cultural.
Ciente de que a maioria dos professores precisava pensar sua própria formação, a pesquisa, em análise, procurou contribuir de forma significativa para a formação pedagógica dos Educadores, propiciando oportunidades para o debate das questões propostas à atividade docente, fundamentalmente no Ensino Básico, de forma a aproximar o Ensino das Línguas às propostas interdisciplinares, sendo este o grande ponto da reflexão: pensar novos leitores como atores que saibam se posicionar diante das questões que aparecem no cenário de cada contexto real.
Outro importante incentivo da referida pesquisa para os Educadores foi elaborar a produção de uma semana para se comemorar o Dia da Leitura com palestras, exposições, cinema e apresentações de manifestações ligadas à cultura literária. A proposta previa eventos, marcados por apresentações culturais e exposições de trabalhos desenvolvidos pelos estudantes. Enfim, a pesquisa se desenvolveu objetivando compreender os processos que caracterizam as ressignificações da representação dos Educadores em seu contexto de sala de aula pela ampliação dos diversos olhares práticos do Ensino de Literatura e pelo desenvolvimento das práticas educacionais como elementos transformadores da realidade escolar, tendo como parâmetro a habilitação e o pleno desenvolvimento das competências dos futuros leitores.
Muito embora certas habilidades para o exercício da leitura só cheguem a ser alcançadas, de fato, com as experiências de aprendizagens significativas, é evidente que a reflexão das práticas pedagógicas tem um papel decisivo na formação dos novos leitores. Esta pesquisa e seus pesquisadores se preocuparam também com a discussão sobre as novas linguagens e/ou novas tecnologias no Ensino das Línguas, de forma a preparar os estudantes para o uso dos múltiplos recursos pedagógicos.
É preciso salientar que nem sempre a maioria dos docentes estão sintonizados em compreender os deslocamentos que se dão pelas estratégias que se colocam nos caminhos do Fazer Pedagógico; é como se as ações pedagógicas e curriculares não necessitassem desses elementos para uma melhor identificação com o objeto do ensino como fator de transformação. Essas questões também eram levadas em muita consideração quando os pressupostos político-filosóficos da Educação para o Campo eram questionados em sala de aula pelos professores ao procurem os sentidos que o Ensino das Línguas possui para se alcançar, como implicações subjetivas, quando questões outras surgem no ambiente escolar, como a falta de motivação, empenho e relevância social, dados como os principais motivos que os levam a pensar na desmotivação como algo que os desterritorializam para uma produção significativa do conhecimento no mundo real.
O contexto exposto exigia uma atitude que ressignificasse o entusiasmo inicial, a dedicação e a confiança nos trabalhos desenvolvidos pela equipe pedagógica. Se por um lado é difícil pensar as questões que se pontuam pelos aspectos da Formação, por outro lado há quem queira refletir sobre esses aspectos que clamam por profissionais qualificados, atualizados e preparados para enfrentar a realidade e a diversidade cultural. Esse era o horizonte que se tinha, bem como o desafio a ser vencido: produzir atividades de leitura compartilhada para dar um norte qualitativo ao Ensino de Literatura para a Educação oferecida ao Território de Desenvolvimento Econômico em Área Rural.
Muito se fala, atualmente, sobre a nova sociedade que se estrutura para o século XXI e para os seguintes. Aqui assumimos o compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação Básica do Campo, que trazem consigo a necessidade de repensarmos de forma profunda a estrutura de nossas instituições de ensino. Para isso, aborda-se imediatamente o que faz deste inicio de milênio um período tão singular: as simultâneas revoluções tecnológicas e o acesso massificado à informação.
Os primeiros passos dados nesta pesquisa pelos pesquisadores, aconteceram pelas discussões que já estavam ocorrendo entre alguns professores insatisfeitos com questões que envolviam o ensino e os desdobramentos das políticas públicas para a Educação Rural como elemento de transposição didática para uma melhor configuração na Formação e para a Formação.
Essas questões eram pontuadas quando se refletia a Formação dos Professores e a Valorização do Magistério, buscando a melhoria da qualidade do ensino como um dos pontos centrais do Plano Nacional de Educação; era uma cobrança que tinha prazo e que corria ao largo de uma efetiva solução, mas refletia em sala de aula, pois os professores entendem que a valorização do magistério só efetivamente acontecerá quando os atores sociais se doarem para alcançar as metas estabelecidas em cada nível de formação ou através das modalidades de ensino que ao serem pensados na teoria, reflita os anseios impostos pelas políticas globais de Educação. Essa valorização só pode ser obtida simultaneamente quando for pensada como Política de Formação, que trabalhe as condições necessárias tanto para a profissionalização quanto para a produção de uma carreira. Ou seja, trabalho, carreira e salário.
Este é o grande desafio de qualquer docente; superar esse tripé para fortalecer sua estética existencial. Simultaneamente essas três condições aparecem nos anseios da classe professoral, bem como de toda a comunidade escolar. É uma lógica que é extraída pela prática pedagógica: refletir pelas ações do cotidiano.
Neste contexto, chegou-se a conclusão que era necessário criar ambientes de formação para ampliar os esforços e melhorar o Ensino das Línguas. A Lei 10.172 que rege o Plano Nacional de Educação enfatiza claramente essas questões: “(...) Esforços dos sistemas de ensino e, especificamente, das instituições formadoras em qualificar e formar professores têm se tornado pouco eficazes para produzir a melhoria da qualidade do ensino por meio de formação inicial porque muitos professores se deparam com uma realidade muitas vezes desanimadora. Ano após ano, grande número de professores abandona o magistério devido aos baixos salários e às condições de trabalho nas escolas. Formar mais e melhor os profissionais do magistério é apenas uma parte da tarefa. (...).
De fato muita coisa ainda ficou por ser feita, mas os encontros para discutir a realidade do Ensino de Literatura objetivaram compreender o universo professoral pela escuta pedagógica da estética existencial no que diz respeito à transposição didática dos conteúdos adquiridos ao longo da Formação de cada Educador. Nisto materializaram-se os principais anseios dos educadores. Falta muito para se chegar à totalidade e a perfeição, mas também ficou claro que falta vontade política para estreitar laços e produzir outras práticas discursivas. A começar pelo lugar social da fala, que foi de extrema importância nesta pesquisa, pois se concretizou, como reflexão, no lugar social dos acontecimentos, dando outros nortes às representações do Fazer Pedagógico.
Portanto, esta leitura da Educação Como Prática da Liberdade se encerra reconhecendo as frustrações dos docentes, porém realçando esperanças, pois alcançou os objetivos propostos ao reconhecer a importância da diversidade de lócus da formação de professores no Território de Desenvolvimento da Educação do Campo como uma advertência singular que reconhece a totalidade de problemas enfrentados pelos Educadores e sua diversidade de olhares como solução transitória, com tempo definido e validade institucional, visto que a Educação para o Campo não pode ser pensada na ausência de um compromisso político com quem ensina. É preciso que o poder constituído nesta Nação lance outros olhares para as cidades do interior onde estão lotadas as escolas rurais e instale outras proposições para a formação nas séries presenciais, pois do contrário muito do que se configura como educação para a convivência com a realidade rural, nas escolas do campo, irá fechar suas portas por não terem nenhuma condição de trabalho digno, e aqui se coloca a crítica de que os recursos destinados para a Formação Continuada no âmbito da Educação para o Campo são ainda muito escassos e quase nunca se efetivam de forma clara, mas a Formação com Prática Libertadora, vem se configurando como uma eterna luta institucional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Ofício do Arqueólogo: O Currículo em Tempos de Subjetividade e Crise.


 
Gênesis Naum de Farias, Prof.º Esp.ª Do Colegiado de Pedagogia na Universidade Estadual do Piauí – UESPI/ Coordenador do Núcleo de Estudos Foucaultiano; Prof.º Esp.ª Do Colegiado de Ciências da Natureza na Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. E-mail: nucleofoucaultiano@gmail.com


Lennon Oliveira Matos, Estudante de Arqueologia e Preservação Patrimonial na Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF; Membro do Núcleo de Estudos Foucaultiano – Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail: lennon.matos@hotmail.com

 

RESUMO

A discussão deste ensaio crítico assume o compromisso de refletir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas nas últimas décadas na formação do arqueólogo no território do ensino superior, se propondo a compreender os enunciados teóricos que documentam os diferentes olhares que estruturam nossas instituições de ensino, se preocupando em pensar os desafios significativos da profissão do arqueólogo para a contemporaneidade através dos novos rumos que a educação, através do currículo, enfrentará no século XXI, tendo como eixos centrais o domínio técnico numa época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Daí a importância de se repensar o lugar da Universidade como espaço de subjetividade e seus dispositivos de controle instituídos pela Razão Pedagógica. Neste cenário, para que se alcance o objetivo proposto é preciso tornar claro para todos os atores educacionais quais são os pressupostos epistemológicos que norteiam o currículo oficial em tempos de subjetividade e crise.

Palavras-Chave: Arqueologia; Currículo; Práticas Pedagógicas; Subjetivação; Tecnologias de Si.
 
 
Introdução: O Ofício das Contradições.
 
Entre o onírico e o real, o passado é um fantasma que assusta, reacende princípios, exalta valores, se fecha ou se fortalece, mas continua no passado como um problema, para o presente pensar o futuro. Isso ocorre com a trabalhosa profissão do Arqueólogo. Ele carrega nos ombros a matéria da existência, e nesta busca por uma razão esclarecedora suas observações podem redefinir mundos, forjar verdades, fortalecer identidades ou até subjugar homens. Esta questão é pertinente! O que o passado ainda nos reserva? O que ainda precisamos aprender com ele para enfrentarmos o futuro e impor nosso próprio tempo? É bom pensar na hipótese do Arqueólogo Walter Neves quando se debatia com o problema do Povoamento Americano: “De onde teria vindo Luzia? Seria ela remanescente de um povo extinto, que ocupou a América há milhares e milhares de anos e acabou dizimado em guerras e catástrofes naturais?” Hoje a Universidade de Manchester, na Inglaterra, endossa o trabalho do nobre brasileiro que se habilitou a estudar a descoberta de 1975 e que atende pela máxima: “o crânio de Luzia é o mais antigo fóssil já encontrado nas Américas”. Se a ciência tem razão, eis uma questão a se descobrir! Mas o que esse exemplo tem haver com o Ofício do Arqueólogo? Às vezes gosto de pensar a Arqueologia como a ciência da mentira, da impostação, dos feudos diplomáticos, das comiserações, das conveniências... E penso nos serviços prestados por esta ciência para uma humanidade desde sempre desumana, raquítica, pobre, despossuída de beleza e com valores arcaicos e cheios de perversas certezas.
É quando me volto ao trabalho do profissional da Arqueologia e vejo as singularidades nas parcerias com outras disciplinas dentro do discurso da Ciência Moderna e quero ressignificar meus conceitos para voltar a acreditar que a mesma sempre foi entendida como a “ciência que estuda os restos matérias dos povos do passado”. Atualmente, essa é uma área de mercado que vem conhecendo muitas modificações e ganhando novos métodos e amplos objetos de estudo, podendo propor outras formas de empreendimento laboral, frente às demandas regionais e ecológicas, jurídicas e culturais. A Arqueologia ao longo do tempo ampliou conceitos e propôs rupturas, mas nunca perdeu de vista o estatuto do conhecimento que a leva a se preocupar com o estudo das antigas culturas da humanidade. Atrelado a isto, é nominalmente taxada de “velha”, “antiga”, “arcaica” e outros arquétipos mais. No geral, os arqueólogos limitam o entendimento a percebê-la como disciplina a partir do exato instante em que se passou a explicar procedimentos em detrimento apenas de colecionar objetos.
Então, a Arqueologia é definida na maioria das vezes como o “estudo sistemático dos restos materiais da vida humana já desaparecida” (isso quando a definição parte da necessidade do estudo de antiguidades); quando o seu estatuto passa a se preocupar com comportamentos, ela é enfática: “É a reconstrução da vida dos povos antigos”. Há também os que a consideram uma subdisciplina; os que se preocupam apenas com as culturas humanas; os que se cercam das manifestações materiais das ditas culturas; os que vendem suas almas ao dinheiro ou os que se filiam ao “contrato” (câncer para o ensino formal e intelectual). Enfim, há gosto para tudo nesta ciência, porém o importante é nunca perder de vista que se deve ter algum tipo de comprometimento com a seriedade científica.
Veja que mesmo havendo apenas a preocupação com o utensílio como elemento cronológico, esse estudante ou estudioso da área, curioso ou qualquer que seja o termo, deverá pensá-lo como objeto de estudo, quer seja estético ou prático; seu instrumento de trabalho (o pensamento, a lucidez, o compromisso, a missão) deverá atentar-se sempre para o fato de que há naquele objeto mais que pensamento; há valores de uma cultura que precisa do presente para gerir novas culturas e tornar as fronteiras do conhecimento menos amargurante para quem precisa desses valores para se reencontrar com suas incertezas históricas no futuro. Portanto, o estudo é ainda mais sério; passa por investidas intelectuais significativas como ser um estudante que gosta de ler, por exemplo, ─; ler para conhecer, ler para ter um posicionamento, ler para melhor se informar, ler para ser em detrimento do ter somente, como causa e efeito do possuir como poder de uso e desuso para usufruto dos saberes. Como vinha pensando, a Arqueologia Moderna se bricola com outras disciplinas. Trabalha sempre com o horizonte conceitual de que precisa estabelecer cronologias, datar objetos, descrever costumes, escrever histórias... Para tanto, precisa se certificar de outros saberes para chegar a resultados como datações que precedem ora da Física (carbono 14), ora da Geologia (técnicas geológicas), ora da Paleontologia (restos faunísticos), ora da Sociologia, Geografia, Demografia, Economia e Ciências Públicas ─; quando o que se quer for reconstruir formas de vida para pensar a sustentabilidade ou o contrário. E o resultado disso uma Enciclopédia disse-me outro dia: “Na atualidade, os arqueólogos dedicam sua atenção aos materiais recentes e investigam os resíduos e os depósitos urbanos, originando a denominada Arqueologia Industrial”.
É visível que o Ofício do Arqueólogo não é fácil, visto que há uma demasiada preocupação em salvaguardar princípios, preconceitos, relações de poderes e conflitos pessoais que destroem relações e até sonhos muito antigos. Tudo isso aplicando etapas. O Pesquisador Argentino Andrés Zarankin (2002, p. 27) afirma: “Como arqueólogos, criamos um discurso sobre o passado traduzindo objetos em discursos. Para isso os articulamos de modo que essas características do passado tenham coerência e sentidos para nós. Trabalhamos com coisas mortas que ressignificamos continuamente e fazemo-las contemporâneas, para depois matá-las ao congelá-las num discurso estático sobre o passado (...)”. É como estudar por decapagem, mas o trabalho é reconfortante; requer vontade, transcendência, paixão, romantismo, coragem para “matar leões todos os dias. Ou seja, superar diferenças, olhar para frente, conviver e unir inteligência com prudência para se ambientar ao “Mundo Perdido”, que por sinal foi o primeiro grande romance de aventuras arqueológicas de Arthur Conan Doyle ─ criador do Sherlock Holmes ─ a primeira influência romanesca dos grandes exploradores. A Arqueologia é isso, “um museu de grandes novidades”.
Enfim, a proposta deste ensaio crítico foi dirigida e pensada para enfatizar os elementos que fundamentam o Currículo como abordagem para a Formação do Arqueólogo, e está dividida em três seções onde é possível perceber já na Primeira Seção que há uma tentativa em tecer as primeiras ligações teóricas entre os processos que compõe os laços entre o lugar social da Educação como espaço formativo. É aí onde se apresentam as tessituras que enfatizam o Arqueólogo com Intelectual, sendo prioritário pensar os lugares da transformação, para compreendermos a dimensão do território social e discursivo do Currículo e das propostas para a formação do pensamento arqueológico.  Na Segunda Seção pode-se perceber, através da análise das teorias do currículo que abordagens se aplicam ou podem ser aplicadas nos espaços formativos das Universidades para adequar o tempo arqueológico às novas aprendizagens, quando se faz necessário pensar a cultura do homem contemporâneo sem desprezar os conceitos produzidos pela cultura material dos povos do passado, servindo para unir teoria e prática no contexto multicultural onde se localizará o trabalho prático do arqueólogo como cientista na ânsia de alcançar explicações para os dados a serem obtidos em pesquisa de campo, objetivando unir técnicas de interpretação a explicações científicas que servirão para descrever os processos que instrumentalizaram o campo da pesquisa em sala de aula. Na Terceira Seção, são descritos os procedimentos de análise do poder estabelecido no Campo Científico como elemento de contextualização para a reflexão crítica sobre os instrumentos aplicados nestes nichos sociais responsáveis pela transformação da cultura como objeto de análise do passado, tendo em vista o objetivo que trazer é para o presente, elementos que transformem o pensamento do homem contemporâneo. O ensaio se amplia com as Considerações Finais, onde os reflexos práticos do ensaio trazem para o centro da discussão a fundamentação teórica, contemplando as reflexões alcançadas através de conhecimentos adquiridos nesse estudo, fazendo um breve passeio pelo lugar social do arqueólogo com educador, na função que exerce frente aos desafios propostos à Educação para o século XXI. 
 
O Arqueólogo como Intelectual Transformador no Contexto da Formação. 
 
Ao que parece, vivemos numa época de notáveis transformações no modo de pensar, agir e sentir. Modelos teóricos e quadros referenciais norteiam o pensar ordenando-o dentro de sistemas de valores através de um conjunto de normas, elaborados para regimentar o comportamento humano, nem sempre coerente, pautado por valores que se tornam a cada dia obsoletos. Muito se fala, atualmente, sobre a nova sociedade que se estrutura para o século XXI e para os séculos seguintes. Aqui assumimos o compromisso de discutir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas nas últimas décadas, no território da Educação, trazendo consigo a necessidade de repensarmos de forma profunda a estrutura curricular de nossas Instituições de Ensino Superior. Para isso, a abordagem imediata que se faz neste inicio de milênio propõe resultados para um período muito singular: as simultâneas revoluções tecnológicas e o acesso massificado à informação. A seguir, são analisados os efeitos desses fatores nas instituições de ensino, tendo como reflexo as questões que se colocam na ordem dos novos currículos para uma sociedade do conhecimento como razão pedagógica, se propondo a compreender os enunciados teóricos que documentam os diferentes olhares que estruturam nossos currículos em Instituições de Ensino Superior, preocupando-se em pensar os desafios significativos para a contemporaneidade através dos novos rumos que a Educação enfrentará no século XXI, tendo como eixos centrais o domínio técnico numa época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Daí a importância de se repensar o lugar da escola, o lugar do educador e o lugar do fazer pedagógico. Para que se alcance esse objetivo é preciso tornar claro para todos os educadores quais são os pressupostos epistemológicos que fundamentam suas crenças a respeito da Educação. Mas do que defender posições, a delimitação de problemáticas ligadas ao ensino tem tentado estreitar os laços que unem a formação do formador e, neste caso, em especial, os Cursos de Arqueologia enfrentam ao mesmo tempo dilemas que extrapolam os focos de interpretação filosófica, sociológica, antropológica e política, quando questões disciplinares não atingem o campo multidisciplinar.
Vivemos uma época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social. Conceitos como sociedade do conhecimento, economia do conhecimento, gestão do conhecimento e sociedade aprendente são amplamente utilizados para caracterizar a sociedade do século XXI como uma sociedade relativa à informação. Contudo, a Educação Nacional está em crise porque os atores do campo educacional, e diga-se da passagem, muitos educadores não tem se preocupado com as prioridades que servem para elevar a autoestima e ampliar as aprendizagens a um patamar que dê formação e conhecimento suficiente a toda a comunidade acadêmica para enfrentar as dificuldades oriundas da inserção dos novos saberes em uma globalidade de acontecimentos que atende pelas novas tecnologias inseridas no mundo real.
No geral, o que se percebe publicamente é a influencia de economistas que supervalorizam e quantificam dados propostos como políticas educacionais, definindo as metas de projeção, em detrimento da posição política dos educadores quando são deixados de lado, no intuito de pensarem conjuntamente os valores para melhorar o cotidiano nas escolas, através de políticas de inclusão e qualificação. Lacan enfatiza: “(...) Só é ensino verdadeiro aquele que consegue despertar uma insistência naqueles que escutam, este desejo de saber que só pode surgir quando eles próprios tomarem a medida da ignorância como tal – naquilo em que ela é, como tal, fecunda – e isto também vale para aquele que ensina”. (1985. p.260). Portanto, falar de Educação é basicamente trabalhar com o conhecimento. Se nem sempre a Formação prima pela precisão conceitual e rigor analítico, esta mesma Educação deixa claro que seu objetivo não pretende querer explorar uma abordagem curricular que se mistura aos diversos registros propostos pelas profundas marcas impostas pela sociedade contemporânea ao se alicerçar na fluidez dos processos que desterritorializam os sujeitos e suas representações simbólicas.
 
A Formação do Arqueólogo: Uma Abordagem do Currículo. 
 
Por meio do exame conceitual dos diversos campos do saber, a Educação possui um sentido transversal que a ela é proposto para tratar das atuais construções do indivíduo, do sujeito e dos diversos “eus” que se colocam na ordem dos fatores psicológicos. Nisto o Currículo Crítico integra os diferentes campos do Fazer Pedagógico para propor através transdisciplinaridade um ensino não fragmentado, oportunizando os sujeitos aprendentes a pensarem com autonomia a coisa pensada, objetivando formar conceitos a partir de grandes pontos de vista, tendo em foco o surgimento de novas maneiras de sentir. E, para tornar mais evidentes as mudanças por que passam as concepções de eu, de sujeito e de indivíduo, se faz necessário dialogizar os processos, contrastando assim o estudo do ser humano dos dias atuais com o de outros tempos históricos. (MORIN, 1997. p. 165).
O homem necessita de informações para poder sobreviver num mundo gerenciado por tecnologias que a cada novo dia se renova, se aperfeiçoa. Então, como a Educação pode formar homens críticos para enfrentar esse novo padrão de vida? Desde a Revolução Industrial, na Inglaterra, que o ser humano passou a disputar com máquinas um lugar no mercado de trabalho. Estamos na chamada era da revolução tecnológica, onde a máquina se modernizou, foi aperfeiçoada e começa a assumir o lugar de milhares de homens no mercado produtivo. Com isso, os conceitos de Educação tiveram que mudar.  Dilemas são enfrentados todos os dias no ambiente das salas de aula e, um dos mais complexos é o fato do educador muitas vezes não dominar uma prática discursiva coerente com seus anseios políticos, que lhe dê motivação para enfrentar problemas básicos como: pouca familiaridade com o ambiente escolar; falta de prática pedagógica e contato insuficiente com as diversas modalidades de ensino. O processo educativo só se transforma em prática consciente quando o Educador reflete sobre suas concepções e é capaz de justificá-las para a comunidade em que está inserido com uma ação que precede uma reflexão desta mesma ação. (NÓVOA, 2001. p. 174).
Retraçar a história do sujeito através dos processos formativos, apontando os modos pelos quais ele expressa sua vivência existencial, é um dos propósitos teóricos do Currículo Crítico. Ele se propõe a mostrar que os processos formativos podem estreitar a relação conceitual entre realidade e subjetividade, quando por meio do ensino multidisciplinar o educador amplia a visão que se tem da própria condição humana frente às incertezas que se colocam historicamente no tempo das suas próprias contradições, fazendo da Educação um Território de Resistência capaz de alargar os horizontes conceituais para mediar dúvidas, refazer caminhos, reconhecer no mundo complexo as fraquezas do indivíduo quando o mesmo é levado a perceber em que medida certos comportamentos e certas práticas acabam por estruturar certo modo de ser do indivíduo, do sujeito e do eu. O indivíduo hipermoderno é levado também a se dar conta de sua atual condição no meio em que vive porque é cobrado a perceber-se como sujeito que trabalha o intelecto para transformar sua própria relação com a subjetividade. (GUATTARI; RONIK, 1996. p. 27/33).
Nisto, é importante lembrar que o discurso emancipatório da Modernidade Tardia se baseava na apropriação conceitual de dois pilares: a) a vigência da sociedade do trabalho; b) a justificativa da existência do ser social como um sujeito consciente de sua individualidade, que não se priva do convívio em sociedade. Alguns diriam que este projeto de emancipação humana fracassou, por se concentrar apenas no processo técnico, tendo como resultado final a degradação social. As novas competências, lançadas pelos teóricos da nova sociologia da educação expõe a necessidade primordial de se pensar os sujeitos transformadores como intelectuais para enfrentarem a situação exposta com intervenções efetivas que podem ser obtidas a partir da compreensão do desenvolvimento humano e dos processos das aprendizagens significativas que transformam saberes culturais em saberes políticos e sociais, exigindo da sociedade do conhecimento, mais acesso à informação e um constante aprimoramento nas relações entre individuo e sociedade. (GIROUX, 1997. p. 166).
Uma característica fundamental da abordagem do Currículo Crítico como teoria pedagógica no debate contemporâneo na educação, é a preocupação com os sujeitos em situação de aprendizagem. No entanto, ocorre uma profunda incoerência no ato educativo quando educadores, entre espaços públicos e privados, não conseguem atingir os princípios da Educação Humanística e, em decorrência da forte psicologização da chamada sociedade Pós-moderna fazem do ato formativo uma mera reprodução de valores arcaicos e conservadores, assim como reforçam mecanismos e modos de funcionamento coletivos e institucionais, sem se preocupar com a desinstitucionalização que amplia o desencantamento e a ausência da significância. O exposto evidencia que numa sociedade onde o conhecimento é a mola propulsora para o desenvolvimento pessoal, a mudança nos Currículos das Universidades servirá para enfrentar e frear o isolamento e a massificação do indivíduo, sua intensa instabilidade emocional, sua inconsistência humana. (HAROCHE, 2010).
 
As Relações de Poder no Campo Científico. 
 
Sob o efeito da aceleração e da globalização, as maneiras de sentir a subjetividade em tempos de crise, no duplo sentido do termo, transformam-se tanto que sua relação com o presente quanto com o passado ou com o futuro alteram a formação do Arqueólogo para o mercado de trabalho sem a preocupação de formá-lo para a vida. Exemplo disso é o caráter transitório e fugaz dos vínculos que se criam pela formação através dos espaços formais do Campo Científico. Com a diluição das fronteiras entre o mundo real e os mundos vividos nos ambientes virtuais de aprendizagem, multiplicam-se sujeitos individuais, instáveis e efêmeros. (BAUMAN, 1998).
          Por outro lado, a busca de visibilidade, que acaba por se converter em sinônimos de legitimidade, põe em cena indivíduos intercambiáveis e prontos a serem instrumentalizados por uma Educação incoerente que muitas vezes deixa a própria formação à deriva dos próprios sujeitos, sublinhando que a exteriorização do ser humano acarreta o estreitamento da consciência, e as conseqüências variam conforme os interesses, evidenciando o empobrecimento cultural dos espaços formativos.
Elemento central neste debate merece o lugar do desengajamento, pois reforça a visão que se pode ter da crise que se criou no forte jogo de aparências entre os diversos campos do saber arqueológico ligados ao poder e a dominação como mecanismos de alienação e humilhação imposto pelas ações curriculares, constituindo importante implicação para o entrave na reflexão como ação transformadora. (HAROCHE, 2010).
Pensando nisto, a Pedagogia ocupa-se das tarefas de pensar a formação humana em contextos determinados por marcos espaciais e temporais e, neste ensaio crítico se oferece a refletir o Campo Científico investigando-o como objeto, implicado em considerações que se propõe às mudanças significativas da realidade atual que se mostra ao mesmo tempo homogêneo e heterogêneo, afetado pelos sentidos e significados que indivíduos e grupos impõem à criação de múltiplas culturas, múltiplas relações, múltiplos sujeitos. (LIBÂNEO, 2005. p. 15).
Aos que se ocupam da educação como campo científico, é requerido que façam opções pedagogias, ou seja, assumam um posicionamento sobre os objetivos e modos de promover o desenvolvimento e a aprendizagem de sujeitos inseridos em contextos socioculturais e institucionais concretos. Os Arqueólogos, tanto os que se dedicam à pesquisa quanto os envolvidos diretamente na atividade docente, enfrentam uma realidade formativa imersa em perplexidades, crises, incertezas e pressões sociais que dissolvem crenças e utopias. Exigem-se muito do Campo Científico em todos os níveis, grupos e segmentos sociais, mas há cada vez mais dissonâncias, divergências e múltiplas variedades de interesses e pensamentos, envoltos em diagnósticos nem sempre verdadeiros que se fundamentam e se elevam como verdades absolutas através de posicionamentos e soluções nem sempre verificáveis.
O referencial mostra que aos poucos, um novo contexto vai se estabelecendo como uma ponte entre a fantasia e a realidade gerando conceitos atitudinais recorrentes e producentes por meio do campo disciplinar. Edgar Morin amplia a reflexão: 
 
(...) É verdade que os estudantes começam a sair mais de casa e passam a ter outros interesses, mas um dos principais motivos é que os professores tornam a Literatura chata, decupando-a em partes pequenas e analisando minuciosamente o seu vocabulário, em vez de dar mais valor ao sentido do texto, à sua ação. (2003, p. 21).
 
Talvez a ressonância mais problemática disso se dê na sala de aula, onde decisões e conceitos nem sempre convergem para uma reflexão apropriada ao contexto interdisciplinar; também é no ambiente formativo que se efetivam ações imediatas e pontuais, que precisam legitimar a motivação latente ao Fazer Pedagógico pelo Fazer Arqueológico, visando promover mudanças qualitativas no desenvolvimento e na aprendizagem dos sujeitos em situação de formação. Pensar e atuar no Campo Científico de qualquer área nem sempre é favorável aos preceitos do que se acredita, enquanto atuação e atividade social que anseia por mais humanização, implicando novas configurações, responsabilidade social e ética não apenas no ato do fazer, mas no porquê fazer, como fazer, quando fazer.
 
(...) Para uma renovação do ensino, precisamos não só de uma renovação epistemológica dos professores, mas que essa venha acompanhada por uma renovação didático-metodológica de suas aulas. Agora não é só uma questão de tomada de consciência e de discussões epistemológicas, é também necessário um novo posicionamento do professor em suas classes para que os alunos sintam uma sólida coerência entre o falar e o fazer (...). (CARVALHO, 2011. p. 21).
 
Outra questão problemática nas relações de poder no Campo Cientifico, refere-se a conseqüências impostas pelos diferentes grupos quando da acumulação de conhecimentos científicos e técnicos produzidos pela Modernidade. Entre elas, a mais típica foi a constituição de campos disciplinares isolados, fragmentados, ignorando o conjunto de que faz parte e a perda de significação entre o sujeito que aprende e o sujeito que ensina. Com isso, a própria sociedade científica passou a reproduzir essa fragmentação, dissociando a cultura escolar da cultura dos valores que se irmanam pela economia e pela política, formando o grande sistema de valores ao qual todos os agentes de transformação estão bricolados. (LIBÂNEO, 2005. p. 22).
Edgar Morin é tácito em perceber que o Campo Científico e as artimanhas de poder que derivam autoridade, deveriam priorizar mais o ensino das complexidades, que destaca a mudança na forma de pensar, pelo campo transdisciplinar, para ampliar os diversos pontos de vista que se associam aos diferentes “feudos científicos”, pois a construção dos saberes transdisciplinares ampliaria a compreensão da organização social de cada campo ou área de atuação a ser estudada, tendo bastante sintonia com as principais questões políticas de cada contexto abordado em sala de aula através das teorias, tendo em vista a importância do ensino contra-fragmentado. Sua observação vai muito mais longe ao falar ao professor sobre suas responsabilidades:
 
O professor deve ter consciência da importância de sua disciplina, mas precisa perceber também que, com a iluminação de outros olhares, vai ficar muito mais interessante o seu trabalho. O professor pode procurar ter essa cultura menos especializada, enquanto não existir uma mudança na formação e na organização dos saberes. O professor de Literatura precisa conhecer um pouco de história e de psicologia, assim como o de matemática e o de física necessitam de uma formação literária. Hoje existe um abismo entre as humanidades e as ciências, o que é grave para as duas. Somente uma comunicação entre elas vai propiciar o nascimento de uma nova cultura escolar, e essa, sim, deverá perpassar a formação de todos os profissionais da educação. (MORIN, 2009, p.22).
 
Algumas correntes modernas no Campo Científico tentam rearticular seus discursos face às transformações que marcam a contemporaneidade, e nesta sociedade do conhecimento os diversos territórios do referido campo de atuação científica tem construído denominações para falar pelo poder e pelas contradições. Michel Foucault acredita que o pensamento contemporâneo cria um processo de ruptura com a Modernidade, marcado pelas contradições nas relações de poder e admite ser possível, em função das freqüentes crises na formação do pensamento, o homem moderno viver numa condição Pós-moderna. Através das relações de poder, o Filósofo Michel Foucault acredita ser possível a luta contra padrões de pensamento e comportamentos.
Foucault trata as contradições do pensamento principalmente quando estas não estão localizadas em uma instituição, mas quando reprime e produz efeitos de saber e verdade. Ele estudou o poder não para criar uma teoria, mas para identificar os sujeitos atuando sobre outros sujeitos. 
 
(...) Trata-se de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações (...) captar o poder nas suas formas de instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam (...). Em outras palavras, captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu exercício. (FOUCAULT, 1979. p. 182). 
 
No que se refere ao poder, ainda sob a análise de Foucault, existe um triângulo em que cada item mencionado (poder, direito e verdade) se encontra nos seus vértices. Neste triângulo, Foucault vem demonstrar o poder como direito, pelas formas que a sociedade o coloca em pleno movimento, ou seja, se há rei, há também súditos, então há quem opere o controle pela obediência. O poder como verdade vem se instituir, ora pelos discursos, ora pelos movimentos dos quais se tornam vitimados qualquer relação que se constitua pela ordenação a qual se submete um organismo numa organização, que por vezes deriva da consciência e da reflexão.  O próprio Foucault sentencia: 
 
(...) Para assinalar simplesmente, não o próprio mecanismo da relação entre poder, direito e verdade, mas a intensidade da relação e sua constância, digamos isto: somos forçados a produzir a verdade pelo poder que exige essa verdade e que necessita dela para funcionar, temos de dizer a verdade, somos coagidos, somos condenados a confessar a verdade ou encontrá-la. (FOUCAULT, 1999. p. 29). 
 
Michel Foucault normalmente define o poder, ainda sob a análise das relações que marcam o advento da Modernidade, por meio de uma dicotomia entre os dois modelos maiores de funcionalidade das relações que se estabelecem pelo poder: o “bio poder” e a “biopolítica”, um é soberano e o outro é disciplinar. O primeiro ocorre desprovido de centro e é disseminado por parecer vir de todos os lugares, operando em várias direções e atuando em várias instancias e níveis, é o chamado poder horizontal. Por não ter centro, ele aparece como impessoal, como não exercido em nome de alguém, um poder de estruturas que submete a todos sem distinção, daí por que Foucault chama de “poder disciplinar” que constitui o “biopoder”. (FOUCAULT, 2010).
O biopoder interessa a Foucault principalmente devido à sua capacidade individualizadora, o Filósofo tende a pensar que o efeito maior do poder disciplinar é o que poderíamos chamar de remanejamento em profundidade das relações entre singularidade somática e indivíduo. Já a biopolítica pode ser compreendida por entre os impasses que se criam para entender o que se esta em jogo, quando as relações se tornam cada vez mais indissociáveis, mas reflete a compreensão do todo pelo singular. (FOUCAULT, 2010).
É neste contexto que se devem ler as relações de poder que se configuram pelo Campo Científico, pois o que se quer entender é como se desenvolvem as razões governamentais que não estão diretamente vinculadas à razão de qualquer natureza, quer seja a que delibera ou a que opera o sistema de perpetuação dos interesses, mas que, ao contrário, parecem como um peculiar princípio de ordenação. Esta razão será indissociável do desenvolvimento interventor dos mecanismos de vigilância e controle, mesmo quando a pauperização e a desigualdade estejam a favor dos interesses bilatérias. O Campo Teórico precisa mostrar como o desenvolvimento da cientificidade opera em sua própria defesa, estabelecendo fatores que são fundamentais para assegurar a auto-limitação do poder estabelecido. Neste sentido, o Campo Científico cria condições para o pleno funcionamento das técnicas, da aprendizagem e da educação. Ela será maciça no campo social e discreta nos processos diretamente econômicos.
 Nesta perspectiva, pode-se entender o poder como uma ação imposta sobre outras ações. Foucault discorre sobre as relações de poder impostas, seja pelas instituições ou pelos discursos, ambos fortemente marcados pela disciplina que traz consigo uma maneira específica de punir pela vigilância. (FOUCAULT, 2008. p. 149). É pela disciplina que as relações de poder se tornam mais facilmente observável, pois é por meio da mesma que se estabelecem as relações opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivo-persuadido, e tantos quantos se estabeleçam e exprimam relações de comando e comandados. (FOUCAULT, 2008. p. 149).
Nota-se que não se trata de tentar imprimir o óbvio pensando em corrigir efeitos destrutivos no Campo Científico sobre a sociedade da informação. Pretende-se entender como esta mesma sociedade se comporta diante da dinâmica concorrencial e mercantil. Para tanto, será necessária uma verdadeira engenharia social capaz de formalizar todas as tarefas da vida pública a partir da esfera local quando propuser algo para os saberes globais como interferência do singular para o geral, trocando sempre a unidade elementar do enfrentamento pelo aspecto dialógico da intervenção entre o conhecer, o compreender, o humanizar e o transformar. É papel do Campo Científico é estreitar as relações entre os diferentes saberes para valorizar investimentos e garantir sua aplicabilidade no aspecto da Formação de outros modelos, quando a condição humana der efetivamente lugar a uma condição pós-moderna. 
 
Considerações Finais. 
 
A discussão deste ensaio assumiu como finalidade refletir sobre algumas questões que pontuam o Fazer Pedagógico pelo Fazer Arqueológico, quando é necessário pensar a formação dos novos arqueólogos pelo prisma das abordagens críticas que passam pelo Currículo e são definidas no cotidiano da sala de aula pelo Projeto Político Pedagógico de cada Instituição de Ensino ao serem elaborados os eixos centrais do debate formativo que tem na sala de aula o apoio teórico que facilitará as relações de compreensão e aprendizagem para o trabalho de campo.
Neste cenário, para que se alcance o objetivo proposto foi preciso trazer para o campo reflexivo os principais pressupostos epistemológicos que norteiam o Currículo Oficial em tempos em que é preciso atender aos apelos de subjetividade que expressam os sentidos da crise e do colapso nas perspectivas do mundo moderno.
É evidente que quando se propõe compreender os enunciados teóricos que documentam os diferentes olhares que estruturam nossas instituições de ensino, há uma preocupação maior em se fazer entendido sobre o papel que cada educador exerce no ato formativo e, isso, ainda é no Brasil uma questão muito melindrosa, devido ao fato da classe professoral ter pouca tradição no que tange pensar os sujeitos como sujeitos históricos responsáveis pelas suas próprias incertezas. É fato que diferentes olhares sobre o mesmo foco educacional dividem muitos educadores, mas é preciso dar sentido à formação desses diversos olhares para se alcançar os desafios significativos da profissão do arqueólogo para a contemporaneidade entendendo os novos rumos que a Educação se propõe, através do currículo sistematizado, tendo como objetivo o enfrentamento já agora no século XXI, dos problemas que assolam a formação atendendo o que pede os eixos centrais desse debate social, quer seja o domínio técnico numa época em que a produção do conhecimento tornou-se crucial para o desenvolvimento econômico e social, quer seja a própria formação como condição de ascensão. Daí a importância de se repensar o lugar da Universidade como espaço de subjetividade e seus dispositivos de controle instituídos pela Razão Pedagógica, porque esse espaço é fruto da conquista social travada ao longo de décadas, onde o mesmo espaço que demanda subjetividade já foi pensado como espaço de domesticação e hoje cumpre o papel de trazer a realidade para dentro dos seus adornos para falar a ela sobre mudanças em tempos de crise.
Portanto, é função de educadores e sociedade pensar essas questões para inclusive melhorar a forma de atuação dos diversos profissionais que se formam nas Universidades Brasileiras tendo como perspectivas o mercado de trabalho e sua tão almejada ascensão social, que deve ser gerida para contribuir com as diretrizes propostas pelo Plano Nacional de Educação, quando o mesmo enfatiza que a prioridade maior é o desenvolvimento regional com sistematicidade, equidade e potencialidade. O Ofício do Arqueólogo é crucial nesta empreitada que atende pela necessária compreensão do todo em detrimento de uma pequena compreensão do singular e, numa perspectiva educacional, somente o protagonismo e as iniciativas coletivas poderão garantir que subjetividade em tempos de crise possa transformar o presente que é tão contraditório, em um futuro com mais esperanças através da Educação como Prática da Liberdade.
 
 
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