quarta-feira, 28 de março de 2012

Carta Aos Jovens do Mundo.

                                               


Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.




“É preciso entender que está em produção um formato de sociedade que tende a não ser contemporânea de si.”


Como os sábios podem nos consolar da frustração causada por uma era planetária onde a mente ocidental, apegada ao individualismo e a necessidade dos julgamentos de valor e classificações torna tudo relativo? Como a juventude compreende e apreende a realidade se é produto de uma sociedade que não se vê pertencente a uma contemporaneidade? Como a sociedade se vê diante do marasmo, do fatalismo, do fundamentalismo, do terrorismo se possui ainda em pleno século XXI uma identidade indefinida? Perguntas como estas nos reportam à condição de filósofos. Se não somos podemos aprender com eles. A verdade é que o papel da filosofia foi sempre a de produzir idéias novas com o intuito de ajudar as pessoas no caminho da felicidade. E quem não quer ser feliz? O pensador francês Blaise Pascal dizia que até mesmo aquelas pessoas que iam ser enforcados buscavam a felicidade.

A missão essencial da filosofia sempre foi trazer subsídios para a busca da felicidade. Mesmo com tantas adversidades, a juventude precisa buscar sua própria condição filosófica, pretendendo alcançar o pleno caminho da conexão com a realidade. Para tanto, é preciso se preparar para qualquer tipo de situação, onde o fracasso e o êxito escrevam páginas diferenciadas na existência de cada um ¾; não dando lugar a violência nem a banalidade do mal, utilizada pela indústria cultural para uniformizar os comportamentos.

“O homem sábio está preparado para o êxito e para o fracasso”, escreveu o pensador romano Sêneca, “para quem está preparado, a violência de todos os golpes se abranda; e somente acham golpes terríveis aqueles que não tinham diante de si se não perspectivas felizes”. A felicidade proposta por Sêneca não livra a humanidade de sua instabilidade, estando sempre entre quedas e elevações.

A juventude precisa considerar a felicidade como uma arte, e olhar na diversidade o que ainda se conserva como arte. Não somos filósofos, mas mesmo assim fica a pergunta: tínhamos mesmo de sofrer tanto? Podíamos e podemos lidar melhor com episódios como descontrole emocional, seqüestros seguidos de morte, violências contra a mulher, crianças e idosos? A resposta é sim. Não somos filósofos, mas podemos aprender com eles.

A vida tem se mostrado confusa, abstrusa, desconectada da realidade. Sim, é verdade, mas o espírito da mocidade pode tornar esses tempos de Pós-modernidade menos opressores. Basta compreende-los e se esforçar para torná-los suportável.

Aceitar as coisas como elas realmente são é outro conselho filosófico, porém deve-se fazer o possível para tentar intervir na realidade como uma forma de compreensão crítica. Revoltar-se com os resultados dos fracassos só traz mais dozes de aflições para os acontecimentos do presente. Epitecto nos diria: “Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se quere-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”.

“A felicidade pode entrar em toda parte se suportarmos tudo sem queixas”, escreveu o aristocrata e pensador romano Boécio. Não adianta se agastar contra as circunstâncias: elas não se importam. Isso se vê nas pequenas coisas da vida. No trânsito, na escola, diante das injustiças, nos carnavais, nos lares, entre quatro paredes, e no convívio social. Às vezes, os jovens só têm essas misérias humanas para descrever em suas reflexões.

O resultado não importa, e sim a entrega, a dedicação. Por isso, não se deve pensar somente em resultados, mas na possibilidade de se vivenciar outras coisas; novos sonhos, novas filosofias de vida, enfim, se permita ao novo. Diante do exposto, é evidente que a filosofia pode nos ajudar a ver a existência por um ângulo menos aflitivo.

O os jovens precisam entender que a felicidade está tanto no cotidiano como no cinema, nos livros, na poesia, na comunhão com o cosmo. Por isso é importante se doar ao subjetivo, ao eterno, ao encontro com uma espiritualidade nunca antes vista. Basta procura-la nas coisas simples como ler e vivenciar um bom livro, fazer um passeio pelo campo com amigos, desfrutar as grandezas de se estudar com mais afinco as coisas, pensar em uma ética coletiva para reforçar os anseios de mudança da própria realidade, podendo dizer de si como contemporâneo do seu tempo.

Uns se dizem de outros tempos; são mais literários, se encantam mais com o sensível; outros, são de tempos inexistentes, são soberbos, ignorantes, vazios, efêmeros, totalitários, arrogantes e mesquinhos -; mas no fundo de algum recanto de suas almas, suas vidas se propõem a buscar sempre uma forma de felicidade -;que não atrapalhe a do outro e que conviva com sabedoria, humildade e benevolência, ou seja, o que o presente lhes impor para ser suportado. É hora de viver mais o cotidiano, e buscar o outro lado da vida ou o que ela pode lhes oferecer. É sempre bom lembrar que é nas coisas pequenas que habita o melhor dos mundos.

Portanto, o que pode nos consolar diante das frustrações é o trabalho pessoal pelo que há de bom em tudo que se vivencia, somente assim seremos parceiros das modificações do real e nos tornaremos contemporâneos do nosso próprio tempo. O sábio segundo a escola estóica, é aquele que “entende que a vida é instável em sua essência”. Resistir a essas adversidades é o principal atributo do espírito da juventude, por isso é fácil entender que tudo é frágil, tudo é precário, tudo é instável, inclusive a felicidade. Ezequiel Neves disse certa vez ao Poeta Cazuza que “A única perfeição da vida é a alegria”. Eis a essência da vida: “nunca mitigar o efeito dos tropeços que damos no correr dos longos dias”.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Os nós da existência numa experiência de desenvolvimento comunitário.





Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.



Os deuses criam para nós tantas surpresas: o esperado não se cumpre, e, ao inesperado, um deus abre caminho.

Eurípedes (Medeia).


            O que dizer da essência de outrem sem mesmo participar do convívio íntimo, profissional, afetivo, particular? Há pessoas que conseguem transpor esse magnetismo porque vivem em estado zen; transcendem o intelecto pelo desprezo das palavras, garimpam os silêncios, permanecem iluminadas e em comunhão com o cosmo. A essas pessoas o talento (re) inventa o cotidiano para transpor a alegria de um tempo tão cheio de paridades e desassossegos. Eu estou falando da pesquisadora Lorena de Araújo Melo, quando da análise de sua experiência com a vida no processo de singularidades de suas próprias teias de existência.

            Uma obra científica acontece quase fatalmente. “Educação e os nós tecidos na rede de relações sociais numa experiência de desenvolvimento local: o caso de Massaroca” é uma delas. O fato aqui é o instante ou a tentativa de fixar o instante em que as vozes e o pensamento de uma luta de territorialização rural vão compor o perfeito mistério do que chamamos de materialização do pensar escrito. Como, aliás, nunca saberemos o que dá força e sentido à escrita, mas sabemos que se revela. O fato é que a escrita se revela quando o pensamento impulsiona a angústia do instante, rompendo regularidades e todo senso-comum de um caminho nada linear.

            Escrever sobre os processos educativos através de uma experiência in loco e ainda tecer os nós que prendem o singular às leis gerais da aculturação social, isso é realmente possível? Lorena de Araújo Melo tenta essa empreitada em sua experiência de pesquisa como exigência parcial para obtenção do titulo de Mestre. Em “Educação e os nós tecidos na rede de relações sociais...”, ela tenta descrever as idéias de sobrevivência e o pensamento de uma luta viva, quando amplia a intensidade das multiplicidades que se processam, evidenciando as diferenças estabelecidas e estudadas através de uma arqueologia de contexto primada por saberes éticos, estéticos e políticos, por meio da capacidade intelectual, da alteridade, da educação, da abordagem qualitativa, da territorialização e de ações afirmativas centradas nas redes de saberes de uma comunicação rural que atende pelo nome indígena de Massaroca (Tribos Cariris).

            Através de um estudo de caso, a pesquisa vai se interiorizando entre as tensões construídas pela aculturação educativa e os modos de envolvimento e no curso de desenvolvimento comunitário. A idéia é percorrer a tensa multiplicidade traçada pela sistemática relação de poder e saber.

            Essa tese mais parece um “corpus documental” por entre idéias, cujas passagens desde logo revelam os traços intelectuais de uma estudiosa da vida, sempre insatisfeita com a rigidez do lugar comum.

            Acredito que nos tornamos seres históricos quando enfrentamos o lugar comum com ações especializadas, parafraseando Gilles Deleuze, somos frutos do nosso ponto de vista. Por isso a pesquisa em análise, segue a ordem orientada pelas condições históricas de uma comunidade rural que surge de uma luta territorial empreendida pelos deslocamentos impostos como problema da pesquisa, quando são traçadas as linhas e os agenciamentos constituídos pelos modos singulares da existência territorial do processo de desenvolvimento comunitário.

            Quando a pesquisadora demarca cartograficamente o objeto de estudo, essas condições históricas aparecem tratando de reconstruir a identidade funcional dos sentidos estabelecida pelo poder e pelos saberes da educação formal e informal da comunidade, no intenso processo de formalização do Comitê das Associações Agropecuários de Massaroca – CAAM.

            Ao anunciar que “o que se busca é pensar as comunidades rurais, o desenvolvimento local e a educação como conceitos flexíveis, capazes de captar suas variações”. Facilmente se percebe o esboço dinâmico de uma investigação focada, também, nas práticas sociais estabelecidas pelo modo singular de enfretamento, não estanque de focos de resistência constituída por diversos percursos na ânsia de compreender como são articuladas as práticas coletivas e individuais.

            No geral, esse mapeamento especifica os “vetores de inteligência coletiva” dada pela articulada instrumentação desenvolvida pala teias sociais na tassitura das redes locais de poder e saber. Além da cartografia e das condições históricas, o trabalho segue com outros segmentos (capítulos) teóricos que consideram a experiência em movimento, abrindo caminhos idênticos para se perceber que os acontecimentos seguem sua dinâmica existencial no esforço de construçãxistencial no esforçode construçaotos seguem sua dinamica a to, nos saberes da educaçtos impostos como problemada pesquisaas eso, potencializando pelas forças da subjetividade.

            Diante do exposto, fica claro a visão fragmentada de todos os fatos, inclusive os que determinam a própria condição humana, compreendida pela própria fragmentação das esperanças com projetos emancipatários de orientação coletiva.

            Agora, é esperar que os desdobramentos históricos conduzam os resultados do trabalho em questão rumo às expectativas futuras de melhorias no conjunto das ações educativas desenvolvida pela experiência da Escola Rural de Massaroca (ERUM); que contará necessariamente com uma nova avaliação nos resultados do desenvolvimento comunitário como processo de re-significação das diversas trajetórias percorridas pelas populações rurais do Distrito de Massaroca, tendo em vista as marcas sociais desenvolvidos ao longo do tempo.

            Convém pensar que esta dissertação, fruto de uma pesquisa participante, se propõe a referendar uma trajetória de luta na rede de relações sociais; tendo a educação como território de resistência, alteridade e pluralidade.

            Essa pluralidade revela os nós tecidos no entreabrir de uma pesquisa social que apresenta de forma singular e múltiplo, o pensamento de uma jovem pesquisadora que conduziu a alteridade ininterrupta de um trabalho científico no seio de uma comunidade à procura de uma identidade cultural encerrada no coração de um sertão tão vivo e cheio de verdades incontidas no constante caminho por um olhar místico e aberto ao horizonte do método cientifico, frente a um dos muitos mapeamentos empreendidos na ânsia de se entender o desenvolvimento comunitário como algo vivencial.

Oportunamente, é bom lembrar Kafka, quando este dizia que “as coisas do mundo nunca se apresentam desde as suas raízes, mas de um ponto qualquer situado lá pelo seu meio...”. Isto dissolve todo princípio determinista e amplia a importância dessa tese de mestrado para o cenário educacional da região do Grande Vale, afirmando as certezas diante das possibilidades de eliminarmos as incertezas e limites axiomáticos.



sexta-feira, 9 de março de 2012

Carta a Um Jovem Escritor





Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


O despertar de um novo escritor se completa quando os sentidos de sua existência atentam-se para as fronteiras do seu interior, numa intensa repulsa marcada pelas sagas e lendas de suas experiências com a solidão. Esse despertar demarca a sua existência transferindo forças para a grande viagem do conhecimento rumo aos grandes mistérios criados pela realidade. É neste momento que o labor da escrita norteia a vida de quem se entrega a essa mistura de sentimentos valorizada pela autocrítica. E o auto-conhecimento influencia o dissipar sintomático para certa liberdade, conquistada pela coragem de se fazer habitado por muitos mundos.

Neste contexto, o fabulista conjuga a natureza de forma reveladora, para materializar o trágico e o belo no desenrolar de um sofrimento solitário, que ao mesmo tempo é sóbrio e envolvente na contemplação das tristezas do mundo. Esse universo se reúne através da crença nas idéias; entre elas, o poder de sintonia segue colhendo entusiasmos através da introspectiva noção do criar. Afinal, o universo literário segue a ordem vital na coerência de se mostrar deslumbrante, fantástico, mágico.

Impressionei-me ao ver todo este entusiasmo revelado nas imagens do livro O mesmo outro do jovem poeta e também professor universitário Josemar Martins da Silva (Pinzoh), pois vem do próprio punho tal confirmação; seja através das letras, seja na idealização dos desenhos poéticos, na estrutura do livro, seja na certeza de um trabalho com a emoção.

E agora, sobre a própria condição do escritor ao descrever sua busca pela palavra escrita, ele afirma: “(...) não há poesia apenas no poema. Muitas vezes um texto conceitual também tem poesia. A poesia me interessa, não apenas a que escrevo, mas a que consumo. Então o livro mostra também o que sou e o que consumo, é resultado dessa trituração daquilo que eu acesso como poesia”. A solidão acena para o amadurecimento e ressuscita o homem velho. Esse processo requer reflexão, paciência e humildade. Qualquer pessoa que se aventura pelos caminhos da poesia percebe a indizível expressão que se afirma amadurecida no encontro dos mundos; ora habitado pelo silêncio, ora habilitado pela incompreensão.

Em O mesmo outro, esta presente intensamente o sentimento terno do recolhimento, reconhecido mutuamente pelas revelações que surgem na fragilidade infinita do ser que escreve e dá vida a textos com idades diferentes. Pinzoh, como é mais conhecido, tece sua teia como uma cocha de retalhos por entre plagas quase sempre certas “(...) A poesia não é minha atividade rotineira, é meu espaço de evasão. (...) sempre escrevi poemas, quando me apaixonei, quando me entusiasmei, quando me desiludi, quando me cansei, quando me indignei, quando perdi o sono. A poesia e outros formatos de escrita literária são o meu espaço de excedência, (...)  é minha inscrição rupestre no fundo da minha caverna”. 

Parece contraditório que o autor queira uma posteridade tranqüila quando suas potencialidades evidenciam outras virtudes que já nasceram velhas, mas refazem o ser que reverencia sua paz interior com as significações da criação para reinventar os motivos de suas reflexões ao se deparar com o profano e vive-lo com o mesmo afã com que vive as recorrências do sagrado no eterno ir e vir do infinito nos retoques da vida social, fazendo tudo isso coincidir para a mesma órbita de elegância dada às imagens que retocam a tortura e o assombro margeado pela aflição e pela crueldade dos infortúnios das relações humanas.

Pinzoh parece mostrar a outra face do Poeta que adormece isento de badalações, ao tempo em que evidencia uma produção artística derivada de uma busca pessoal pela proclamação da palavra... “(...) A minha expectativa não é a de que este livro vire um Best-Seller. Apenas vou mostrar o que escrevo, não estou preocupado com a critica, principalmente não estou preocupado com a critica ressentida, que sei que há muito por aí. Mas me interessa a recepção, porque isto me dirá até onde o que escrevo pode interessar e pode ser aceito como poesia. Eu sei que existem círculos literários com nomes diversos, muitas vezes restritos, que acham que você tem que pedir a benção a eles. Mas este livro não é um pedido de inscrição nesses círculos. Não estou pedindo licença ou desculpa para escrever e publicar”.

São estes os elementos descobertos nas imagens deste novo iniciado na literatura que precisam ser percebidas ao longo de sua leitura, como estigmas centrais nos desencaminhos a serem enfrentados rumo à consolidação da palavra escrita. Cabe ao próprio Josemar Martins (Pinzoh), a partir de agora, dialogar consigo mesmo para saber empreender novos rumos a sua descoberta poética; onde a percepção do humano possa lhes dar vazão à sinergia da humildade, quando a busca pessoal pela integridade lhe assegurar intima convicção do livre-pensamento, ficando claras suas imperfeições, desejos e suas futuras odisséias nesta nau que o transporta para uma longa viagem pelo tempo, que sejam plenos as suas vontades, mesmo quando se encerra no mesmo eu a procura de si: “(...) eu procuro levar a poesia para outro lugar, onde ainda podemos, talvez, saborear aquilo que a palavra pode oferecer, em seu turbilhão cores, sabores e avessos (...) Acho que, muito longe desta pretensão de explicar qualquer coisa, ou de dar reconhecimento de nada, o livro chama O Mesmo Outro porque expõe, por um lado, um trabalho que muita gente que me conhece não sabe que eu faço, e por outro lado porque, este que se mostra nos poemas, também está em processo de permanente transformação. Por isso é o mesmo, mas é, ao mesmo tempo, outro”.



Para Saber Mais:



FARIAS, Gênesis Naum de Farias. “O Professor Pinzoh revela-se em O mesmo outro”. ─ São Raimundo Nonato/ PI, 07 de Janeiro de 2012. Nota de Entrevista.


PINZOH, Josemar Martins. O mesmo outro. ─ São Paulo: Scortecci Editora, 2011.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Joaquim Nabuco: O Estadista da Abolição.



Gênesis Naum de Farias¹*

¹*Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


RESUMO

O presente artigo pretende apresentar de forma sucinta as circunstancias que fundamentaram a formação do pensamento de Joaquim Nabuco, falecido há 100 anos. Sua existência pública é marcada por incursões parlamentares, tendo sido Diplomata e Escritor. Defensor de causas nobres como a escravidão e autor de obras que retratam um Brasil em transição, suas obras revelam o sistema político funcional no ambiente do Segundo Reinado e deixa um enorme legado para o País.


Palavras-Chave: História; Monarquia; República; Escravidão; Literatura Sociológica.


Introdução


O período que sentencia os ares aristocráticos da Monarquia e os desalinhados progressos da República norteia a história do pensamento desta Nação por ser compreendido como o cenário formativo de um Brasil sem os retoques propositivos que objetivavam definir um projeto claro de cidadão brasileiro como parte de um conjunto de elementos que ressignificavam a identidade de um povo a partir da autonomia. O cenário é transitivo, bem com a ordem discursiva dos acontecimentos. É neste cenário fragmentado, que encontramos o lendário Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo.
Este vulto secular se postergou como um Pensador da Pátria que serviu para ampliar a relação de importância tanto do Império quanto da República, afinal era nas questões fundamentais do País que estava focado suas ideias e ambições.
Ao tempo em que lutava arguidamente para soerguer a soberania social colecionava inimigos em tribunais e palanques; foi do céu para um inferno tramado por outros interesses políticos e intelectuais, onde, às vezes, a vaidade transpunha o lugar comum enumerando o real sentido de uma luta para consolidar um País através das relações diplomáticas que corroboravam para celebrar os princípios democráticos.
Joaquim Nabuco é o exemplo de político que idealizava os nortes dos acontecimentos futuros. A trama dos seus dias já tinha se configurado quando lembrado pelos feitos do Pai, José Tomás Nabuco de Araújo (1813 – 1878), Ministro da Justiça e Conselheiro do Imperador, Dom Pedro II, sendo profundamente significativo quando a tônica era pensar as questões que pontuavam o cenário federativo.
Por esse veio genético se configurou o pensamento do homem que idealizou a libertação dos escravos como bandeira atemporal, de fatos que não cabiam numa reflexão de curto prazo, mas reberverava por séculos, pois a escravidão era parte da estrutura mental do homem daquele tempo. Essa estrutura perversa, que durou quase três séculos e meio foi o objeto maior dos anseios deste nobre pernambucano.
A importância de Nabuco para estes dias de incertezas e de crises significativas para a representação social é parte da crise de referenciais no território da política e serve para que se pense na importância da autoridade política como parte do pragmatismo público que gerencia os interesses do povo brasileiro. Por isso é importante pensar nos feitos de Joaquim Nabuco como o elo para se alcançar o etos de Nação Civilizada.
Os embates que vivenciou na vida pública definiram sua marca no conceito de nacionalidade, tendo em vista que sua atuação na causa da escravidão foi decisiva para formar o pensador, transgressor, das novas narrativas que se consolidavam no seio da sociedade do seu tempo. De formação acadêmica e de círculos literários muito producentes, sua vida pessoal foi bastante movimentada. Integrado na transição do Império à República, formou-se no Direito, desafiou estruturas, amou, sonhou, foi homem de letras. Seu abolicionismo era radical e orgânico.
Com o advento da República, vê-se diante do desafio de articular modernização política e tradição aristocrática. É essa visão de mundo, que transita entre passado e futuro, recheada de decepções, que lapidou o perfil de Nabuco. As tramas da sua existência se elevam simultaneamente entre os contextos de uma época em que se vivia paz interna e prosperidade econômica em um sistema político funcional. Era o ambiente do Período do Segundo Reinado. Período de intenso desgaste nas relações que definiam o primado do capital humano, quando no Brasil se consolidou a noção de unidade nacional.
A prática intelectual trouxe a Nabuco o equilíbrio necessário entre a moral aristocrática (tradição) e as aspirações de motivação social (reformas). Nabuco era público e notório quando a articulação política não alcançava a denominação da promoção do escravo como cidadão, por isso foi golpeado diversas vezes por autoridades políticas e hierarquias sociais.
O porte estético de Nabuco também incomodava; desde cedo recebeu a alcunha de “Quincas o Belo” ─; reacendendo seus dias de criança no Engenho Massangana, no enleio de uma infância primorosa, aos dias de poeta, boêmio, cortesão, apegado à boa vida, nas ruas de Londres ou Paris. O fato é que um homem belo produz muitos inimigos, e quando se atem ao usufruto de unir beleza, literatura e elegância, as boas maneiras transcendem a utilidade prática, porém era indispensável na composição do seu universo de dândi. Era tudo o que faltava nos seus adversários políticos, pois o perfil intelectual dos Republicanos seguia outras orientações ideológicas e estéticas.
O que pensava Nabuco para o Estado Nação? Suas orientações aristocráticas defendiam uma Monarquia Federativa, pretendo manter as tradições numa perspectiva laica que contribuísse para sanar as dividas sociais que o lastro da escravidão deixou; outra ambição era a indenização dos escravos, dando-os muitas terras para trabalhar. O Poder Moderador seria mantido como um pressuposto constitucional independente, dando ao povo o poder de deliberar os rumos democráticos para os novos tempos. Portanto, o projeto idealizado, de emancipação, arrojado e moderno, ficou pela metade e a desigualdade social se reflete nos limiares da contemporaneidade. 
Em meio a tantas turbulências no contexto do liberalismo econômico, o que faz de um ser humano um mito? Alguém poderia dizer que é a sua força de expressão, as obras produzidas, o olhar multicultural ou até a capacidade de reunir forças para se projetar politicamente em meio a tantos enredos macabros no jogo político que governa o povo, deliberando as relações diretas com a opressão ou até com a manutenção de uma prática discursiva que lega a miséria de muitos. Joaquim Nabuco esteve sempre a frente do seu tempo porque reunia todas as grandes virtudes de um aristocrata bem formado, possuindo uma elegância sintomática nas ações de um perfeito cavalheiro, que na posteridade se mantém vivo nos sonhos de liberdade em tempos de censura livre.
E para referendar ainda mais sua obra contra a escravidão – seu legado maior –; o próprio Nabuco proclama: “[...] a escravidão para mim cabe toda em um quadro inesquecido da infância, em uma primeira impressão, que decidiu, estou certo, do emprego ulterior de minha vida”.


Nabuco no Tempo e no Espaço


O itinerário de um homem público quase sempre é cheio de fatos que oscilam entre momentos altos e baixos. O que dizer de Joaquim Aurélio Barreto de Nabuco de Araújo, um intelectual diletante que transformou sua vida num acontecimento político? Filho da elite, pensador do seu tempo, autor de obras que elaboraram uma reflexão sobre o Segundo Reinado com olhos voltados para o futuro, onde procedentemente volta-se contra a classe social onde nasceu para pensar os destinos de uma nação com etos de civilização.
Assim se formou o pensamento de Joaquim Nabuco, filho do Senador e Ministro da Justiça José Tomás Nabuco de Araújo (1813-1878) e de Dona Benigna de Sá Barreto. Ao olhar o Brasil que nascia com a República, produz uma obra que traça grandes reflexões para o futuro desta nação que já nasceu grande, sabedor que o grande problema a ser solucionado naquele período seria também um enorme entrave na solução prática das questões que surgiriam para definir o papel do Estado na condução dos acontecimentos futuros: a escravidão.
A escravidão era o problema do Brasil e por isso foi um intelectual de vigor, quando da Campanha Abolicionista, passando ao desencanto, quando nos primeiros tempos da República via com olhos desfavoráveis os rumos e as decisões políticas tomadas para elevar o tom da nacionalidade cultural brasileira. O resultado do entusiasmo dos primeiros anos deu lugar a renúncia à vida pública passando a um recolhimento pessoal, dedicando-se a vida intelectual.
De combativo ao desencanto, sua militância passa a ser o de analista conservador na maturidade, dando lugar a uma produção acadêmica que legaria de forma nem sempre harmoniosa um lugar significativo a construção histórica do Brasil na posteridade.
Nabuco nasceu numa família influente e era parte de uma geração luminosa e notável que ensaiava os novos rumos com a maestria do contexto do Século XIX. Essa geração incluía nomes como o escritor Machado de Assis (1839-1908), o crítico literário e ensaísta Sílvio Romero (1851-1914), o engenheiro André Rebouças (1838-1898), o diplomata José Maria Paranhos Júnior (o Barão do Rio Branco – 1845-1912), o Poeta Castro Alves (1847-1871), o jurista Tobias Barreto (1839-1889) e tantos outros como o Poeta Álvares de Azevedo e o escritor Raul Pompéia.
A qualidade intelectual dessa geração era tanta que o contexto era favorável a produção intelectual, numa época que já nascia velha, pois ao tempo que tramavam a consolidação do pensamento cultural desta Nação, o jogo político convertia desigualdade em causa sem prioridade. Daí esse ser um dos principais motivos para o desencanto de Nabuco.
O Brasil daqueles primeiros anos de República era um País desprovido de ambições humanísticas, é fato que a escravidão ou a mentalidade escravocrata nunca deixou de permear decisões nem autorizou o espírito inovador deste povo, onde o anseio por reformas sociais desse o tom de notoriedade para a consolidação de valores que estivessem ao nível de um país realmente republicano com inclusão social.
O Brasil que era idealizado por Joaquim Nabuco previa a consolidação da Monarquia Parlamentar, com uma constituição forte, que salvaguardasse a unidade nacional, promovendo a alternância das camadas dirigentes, sob a regência e a mediação do Poder Moderador da Coroa. Outra ambição de Nabuco era a indenização do negro alforriado onde o Estado oferecesse terra para a uma permanência maior do trabalho no campo, evitando com isso o inchaço das cidades maiores e a permanente manutenção das riquezas sendo distribuída de forma a garantir a produção e o progresso com equidade social.
Tudo isso foi deixado de lado quando da Abolição da Escravidão, mesmo sabendo que a economia brasileira se ergueu principalmente com o desenvolvimento da cafeicultura entre 1848-1888. (ALENCAR, 2010).
O Segundo Reinado é marcado por investimentos importantes na área de infra-estrutura, como portos e ferrovias, garantindo rendimentos significativos para a estabilidade monetária, o que contribuiu para criar certo sentimento de segurança, sobretudo entre as elites e as populações das grandes cidades. É nesse período que Joaquim Nabuco consolidará sua formação intelectual e suas motivações políticas.
Nabuco morreu antes de completar 62 anos, em 07 de Janeiro de 1910, em Washington, nos Estados Unidos, onde exercia a função de Embaixador do Brasil naquela nação, já em profícuo processo de desenvolvimento.
Nos 10 anos (os últimos de vida) como Diplomata teve atuação destacada, representando o Brasil em grandes negociações financeiras, culturais e na consolidação do discurso de soberania nacional, pois sua estada nos EUA serviu para orientar e definir outros rumos nas relações diplomáticas, muito pelas habilidades políticas que possuía motivadas principalmente pela erudição intelectual que transitava e ampliava a impressão que se tinha do País em questões de direito territorial, ao tempo em que causava boa impressão nas questões econômicas e políticas que o Estado Brasileiro exercia com outras Nações. (ALONSO, 2007).
Nesse período, o entusiasmo e a força dialética de Nabuco foram de extrema importância, pois de forma bilateral eram discutidas e estreitadas muitas relações, mostrando que o Brasil nunca esteve em posição de comando no cenário mundial, mas influenciava de maneira expressiva na formulação de políticas internacionais. É desse tempo o respeito que os Estados Unidos da América (EUA) passou a ter pelo Brasil como nação forte. A organização da 3ª Conferencia Panamericana no Rio de Janeiro, é um exemplo porque aproximou o Estado Americano da política econômica que se desenvolvia aqui na América do Sul pelo Brasil com prosperidade e econômica e paz interna, sob um sistema funcional. (ALENCAR, 2010).


A Escravidão


A formulação de uma política expressiva manteve o Brasil em posição de acolhimento internacional, dialogando de forma bilateral com os processos econômicos. Esse fator faz do Nabuco Embaixador o porta voz de uma Nação forte e respeitada. Sua distinção intelectual favorecia tais características, haja vista que suas habilidades culturais retratavam a estirpe de um homem possuidor de erudição, fazendo de sua imagem social e política a própria imagem do Brasil numa seqüência ilustre de interpretação e respeito.
A escravidão foi sempre a mácula que a história do Brasil deixava para a posteridade e foi também a grande luta do Nabuco amadurecido que negociava de igual essas relações culturais quando o foco era refletir o passado e propagar as grandezas culturais do povo brasileiro.
Ao se afastar da vida pública durante a década de 1890, ele escreve textos que denunciam a dramática narrativa dos cativos ou o comportamento da sociedade brasileira diante do horror da escravidão.
Durante o período de militância abolicionista, Nabuco foi não apenas o tribuno combativo, mas também um dos primeiros intelectuais a colocar sua obra a serviço da reflexão. “Ele apontou o caráter orgânico do sistema escravagista, sua simbiose com a sociedade brasileira como um todo, seus efeitos deletérios sobre o desenvolvimento econômico e a forma de apropriação da natureza. Enfim, tudo aquilo que se tornaria o senso comum de boa parte da literatura sociológica atual sobre o assunto foi antecipado por ele em um pequeno livro de 1883, O abolicionismo”. (ALENCAR, 2010. p. 38).
No Abolicionismo Joaquim Nabuco denuncia o caráter predatório e a natureza economicamente estanque que caracterizava o regime servil. Era o aparecimento de uma luta humanística que serviria para pensar o Brasil em toda a sua extensão dando rumos novos ao reverso que a política escravagista permeava por meio da escravidão, tornando o tecido social fragmentado diante dos interesses hierárquicos que contextualizava os desmandos sócio-políticos da aristocracia reinante.
Era o anúncio e a denúncia de que a escravidão corria no sangue da nação brasileira, mas que não devia ser percebida de forma determinante. O Brasil se abria à reflexão e projetava tempos de modernidade econômica numa perspectiva tardia que somente se consolidaria com o fim do trabalho cativo. Era o prenúncio de uma revolução na estrutura mental e cultural da Nação para unir diversidade, tradição e reformas como etos de civilização.
A análise de Nabuco foi muito além, prevendo o diagnóstico que caracterizava as relações entre a sociedade brasileira e a sua cultura perante a modernidade que se fazia urgente: sanar dívidas sociais com equidade e justeza.

O Estadista


Ao se afastar da vida pública, Joaquim Nabuco ressignifica sua lenda pessoal e se projeta como o escritor da memória nacional. Os passos se refazem com o exílio em Botafogo nos idos de 1890, quando de fato foge do burburinho social e passa a analisar de forma histórica os descaminhos e as próprias decepções existenciais. Seus escritos trazem a pretensão de um estudioso do Brasil, marcando os efeitos dos primeiros anos republicanos, mas suas reflexões são maiores que os lugares dos acontecimentos, pois demarcam ares de saudosismo relatando inúmeras formas de continuísmo com reformas nacionais de forma pontual, frente ao horror à sociedade da desigualdade e o temor de uma nação sem tradição nem a construção de nacionalidade que resultasse num esforço de civilidade sem os arranjos formativos que resultariam num povo sem referencias, vítimas do regime escravista.
O conjunto de sua obra se impõe diante da disposição para o restabelecimento de uma historiografia nacional que unisse liberdade de expressão, funcionamento do regime parlamentar com um sistema político-administrativo forte, tratando os desiguais com o cuidado que o Estado de Direito provém como garantia a uma cidadania inclusiva. Essa linha de pensamento delinearia os eixos maiores para a narrativa da história nacional.
Nesta fase saudosista e mesmo memorialista, Nabuco escreve o livro Um Estadista do Império, onde se oferece para dialogar sobre o ambiente político do Segundo Império tendo o Pai como objeto de análise em seu tempo histórico. A tarefa se proponha a redigir o pensamento de um dos pilares do regime que sucumbia: José Tomás Nabuco de Araújo. Nesta obra, procura demonstrar a estreita simbiose que unia a Coroa aos homens de talento saídos do Parlamento. (ALENCASTRO, 1997).
O fato é que a análise proposta confrontava ambições e incoerências, dando vida a um regime com propostas necessárias, configurando os aspectos condicionantes da realidade política oitocentista, ao tempo em que salvaguardava a memória do Pai, confrontava o pensamento oligárquico com a descrição nem sempre parcial da história política do Império. Esse enfoque desembocava numa interpretação conservadora, porém altamente significativa para retratar uma situação histórica inconsistente. Nabuco permanece um adepto da grande política nacional e narra de forma inteligente os eventos regionais daquele período, fazendo um paralelo crítico daquela reflexão anteriormente elaborada pelo Pai quando analisou eventos como o da Revolução Praieira (1848-1849). Desse ponto de vista, Nabuco, ao fazer a biografia do Pai, escreve, verdadeiramente, a história política do Império. (ALENCASTRO, 1997).
O livro expressa ainda a nostálgica reflexão sobre a unidade nacional, quer quando pensa o jeito de fazer política que se desmoronava na República Federativa, quer quando insere as questões fundantes dessa nacionalidade frente a globalização anunciada. Na verdade, o livro anuncia uma reconciliação e uma retirada na vida e no pensamento de Nabuco, pois refaz o Homem Maduro, quando escreve, e aqui a análise é do próprio Joaquim Nabuco, quando corta arestas entre uma e outra geração, um e outro regime para notificar de forma prudente as bases genéricas da continuidade que pretende historiar.



Considerações Finais


O conjunto da obra de Joaquim Nabuco amplia o pensador que ele foi para o seu tempo e espreita qualquer observação que não seja a de que pensou a política brasileira com a sincera convicção de que a história necessitaria. Sua radicalidade em O abolicionismo anunciava o que de mais importante precisava ser denunciado: a escravidão. O recuo conservador veio com o livro Um Estadista do Império, recuo necessário para assegurar a continuidade da sua história e da história do País ─; mais tarde eternizada de forma poética no livro Minha Formação, onde ele afirmará seus valores, pretensões, anseios, decepções e ambições.
Uma de suas últimas ambições, partilhadas com os amigos mais próximos como o escritor Graça Aranha, era a pretensão de ser nomeado Ministro de Estado, anseio que nunca se concretizou devido ao fato de não ter aceitado de imediato os prenúncios republicanos. O sonho de ser Ministro não se consolidou, mas fez do Nabuco Maduro um perfeito Embaixador participando em outras áreas da consolidação do Estado Brasileiro. Nabuco chegou a reconhecer os impactos da indenização no orçamento do Império, mas nunca abriu mão da causa da emancipação imediata dos cativos como ação do Estado para garantir liberdade ao povo sofrido das senzalas.
Nabuco enfatizava no livro Minha Formação que “(...) os escravos, para ser livres, teriam de esperar que as finanças do Brasil se consertassem? Não há nada que nos obrigue a continuar uma prática reputada criminosa pelo mundo inteiro, somente porque não temos dinheiro para desapropriá-la... O Brasil não é bastante rico para pagar o seu crime!”.
Seu último posto no exterior foi o de primeiro Embaixador do Brasil na capital norte-americana. Morreu republicano em 1910, e é considerado o Pai da Pátria. Deixou um legado como pensador, ao descrever o Brasil a partir de um diagnóstico doloroso e vivo ─; a noção de que o país estava condenado a permanecer como nação de segunda classe enquanto não resolvesse seu problema com as mentalidades escravocratas. Deixou escrita uma profética afirmação: “(...) a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.
Suas idéias se destinaram a renascer na obra de outros pensadores que porventura nasceriam no futuro, defendendo causas tão nobres quanto as que o mesmo defendeu e, sabemos que outros autores deram continuidade ao seu legado quando acima de todos os desafios, outros Nabucos nasceram sonhando com um Brasil cívico, ilustre, sincrético, miscigenado, forte, dono de um retrato esplendoroso, sobre o qual repousa o Herói da Abolição.


Para Saber Mais:


ALENCAR, José Almiro de. “O Pensamento de Joaquim Nabuco”. In: Ciência Hoje, 2010. p. 35-39.

ALENCASTRO, Luiz Filipe de. “Um Estadista do Brasil de Sempre”. In: Revista Veja, 1997. p. 142-144.

ALONSO, Ângela. Joaquim Nabuco: os salões e as ruas. − São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BONAFÉ, Luigi. “O Demorado Adeus a Nabuco”. In: Revista de História, 2010. p. 44-48.

LEITE, Paulo Moreira. “Ideias de Um Século”. In: Revista Veja, 1999. p. 146-148.