quarta-feira, 21 de março de 2012

Os nós da existência numa experiência de desenvolvimento comunitário.





Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.



Os deuses criam para nós tantas surpresas: o esperado não se cumpre, e, ao inesperado, um deus abre caminho.

Eurípedes (Medeia).


            O que dizer da essência de outrem sem mesmo participar do convívio íntimo, profissional, afetivo, particular? Há pessoas que conseguem transpor esse magnetismo porque vivem em estado zen; transcendem o intelecto pelo desprezo das palavras, garimpam os silêncios, permanecem iluminadas e em comunhão com o cosmo. A essas pessoas o talento (re) inventa o cotidiano para transpor a alegria de um tempo tão cheio de paridades e desassossegos. Eu estou falando da pesquisadora Lorena de Araújo Melo, quando da análise de sua experiência com a vida no processo de singularidades de suas próprias teias de existência.

            Uma obra científica acontece quase fatalmente. “Educação e os nós tecidos na rede de relações sociais numa experiência de desenvolvimento local: o caso de Massaroca” é uma delas. O fato aqui é o instante ou a tentativa de fixar o instante em que as vozes e o pensamento de uma luta de territorialização rural vão compor o perfeito mistério do que chamamos de materialização do pensar escrito. Como, aliás, nunca saberemos o que dá força e sentido à escrita, mas sabemos que se revela. O fato é que a escrita se revela quando o pensamento impulsiona a angústia do instante, rompendo regularidades e todo senso-comum de um caminho nada linear.

            Escrever sobre os processos educativos através de uma experiência in loco e ainda tecer os nós que prendem o singular às leis gerais da aculturação social, isso é realmente possível? Lorena de Araújo Melo tenta essa empreitada em sua experiência de pesquisa como exigência parcial para obtenção do titulo de Mestre. Em “Educação e os nós tecidos na rede de relações sociais...”, ela tenta descrever as idéias de sobrevivência e o pensamento de uma luta viva, quando amplia a intensidade das multiplicidades que se processam, evidenciando as diferenças estabelecidas e estudadas através de uma arqueologia de contexto primada por saberes éticos, estéticos e políticos, por meio da capacidade intelectual, da alteridade, da educação, da abordagem qualitativa, da territorialização e de ações afirmativas centradas nas redes de saberes de uma comunicação rural que atende pelo nome indígena de Massaroca (Tribos Cariris).

            Através de um estudo de caso, a pesquisa vai se interiorizando entre as tensões construídas pela aculturação educativa e os modos de envolvimento e no curso de desenvolvimento comunitário. A idéia é percorrer a tensa multiplicidade traçada pela sistemática relação de poder e saber.

            Essa tese mais parece um “corpus documental” por entre idéias, cujas passagens desde logo revelam os traços intelectuais de uma estudiosa da vida, sempre insatisfeita com a rigidez do lugar comum.

            Acredito que nos tornamos seres históricos quando enfrentamos o lugar comum com ações especializadas, parafraseando Gilles Deleuze, somos frutos do nosso ponto de vista. Por isso a pesquisa em análise, segue a ordem orientada pelas condições históricas de uma comunidade rural que surge de uma luta territorial empreendida pelos deslocamentos impostos como problema da pesquisa, quando são traçadas as linhas e os agenciamentos constituídos pelos modos singulares da existência territorial do processo de desenvolvimento comunitário.

            Quando a pesquisadora demarca cartograficamente o objeto de estudo, essas condições históricas aparecem tratando de reconstruir a identidade funcional dos sentidos estabelecida pelo poder e pelos saberes da educação formal e informal da comunidade, no intenso processo de formalização do Comitê das Associações Agropecuários de Massaroca – CAAM.

            Ao anunciar que “o que se busca é pensar as comunidades rurais, o desenvolvimento local e a educação como conceitos flexíveis, capazes de captar suas variações”. Facilmente se percebe o esboço dinâmico de uma investigação focada, também, nas práticas sociais estabelecidas pelo modo singular de enfretamento, não estanque de focos de resistência constituída por diversos percursos na ânsia de compreender como são articuladas as práticas coletivas e individuais.

            No geral, esse mapeamento especifica os “vetores de inteligência coletiva” dada pela articulada instrumentação desenvolvida pala teias sociais na tassitura das redes locais de poder e saber. Além da cartografia e das condições históricas, o trabalho segue com outros segmentos (capítulos) teóricos que consideram a experiência em movimento, abrindo caminhos idênticos para se perceber que os acontecimentos seguem sua dinâmica existencial no esforço de construçãxistencial no esforçode construçaotos seguem sua dinamica a to, nos saberes da educaçtos impostos como problemada pesquisaas eso, potencializando pelas forças da subjetividade.

            Diante do exposto, fica claro a visão fragmentada de todos os fatos, inclusive os que determinam a própria condição humana, compreendida pela própria fragmentação das esperanças com projetos emancipatários de orientação coletiva.

            Agora, é esperar que os desdobramentos históricos conduzam os resultados do trabalho em questão rumo às expectativas futuras de melhorias no conjunto das ações educativas desenvolvida pela experiência da Escola Rural de Massaroca (ERUM); que contará necessariamente com uma nova avaliação nos resultados do desenvolvimento comunitário como processo de re-significação das diversas trajetórias percorridas pelas populações rurais do Distrito de Massaroca, tendo em vista as marcas sociais desenvolvidos ao longo do tempo.

            Convém pensar que esta dissertação, fruto de uma pesquisa participante, se propõe a referendar uma trajetória de luta na rede de relações sociais; tendo a educação como território de resistência, alteridade e pluralidade.

            Essa pluralidade revela os nós tecidos no entreabrir de uma pesquisa social que apresenta de forma singular e múltiplo, o pensamento de uma jovem pesquisadora que conduziu a alteridade ininterrupta de um trabalho científico no seio de uma comunidade à procura de uma identidade cultural encerrada no coração de um sertão tão vivo e cheio de verdades incontidas no constante caminho por um olhar místico e aberto ao horizonte do método cientifico, frente a um dos muitos mapeamentos empreendidos na ânsia de se entender o desenvolvimento comunitário como algo vivencial.

Oportunamente, é bom lembrar Kafka, quando este dizia que “as coisas do mundo nunca se apresentam desde as suas raízes, mas de um ponto qualquer situado lá pelo seu meio...”. Isto dissolve todo princípio determinista e amplia a importância dessa tese de mestrado para o cenário educacional da região do Grande Vale, afirmando as certezas diante das possibilidades de eliminarmos as incertezas e limites axiomáticos.



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