quinta-feira, 1 de março de 2012

Joaquim Nabuco: O Estadista da Abolição.



Gênesis Naum de Farias¹*

¹*Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


RESUMO

O presente artigo pretende apresentar de forma sucinta as circunstancias que fundamentaram a formação do pensamento de Joaquim Nabuco, falecido há 100 anos. Sua existência pública é marcada por incursões parlamentares, tendo sido Diplomata e Escritor. Defensor de causas nobres como a escravidão e autor de obras que retratam um Brasil em transição, suas obras revelam o sistema político funcional no ambiente do Segundo Reinado e deixa um enorme legado para o País.


Palavras-Chave: História; Monarquia; República; Escravidão; Literatura Sociológica.


Introdução


O período que sentencia os ares aristocráticos da Monarquia e os desalinhados progressos da República norteia a história do pensamento desta Nação por ser compreendido como o cenário formativo de um Brasil sem os retoques propositivos que objetivavam definir um projeto claro de cidadão brasileiro como parte de um conjunto de elementos que ressignificavam a identidade de um povo a partir da autonomia. O cenário é transitivo, bem com a ordem discursiva dos acontecimentos. É neste cenário fragmentado, que encontramos o lendário Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo.
Este vulto secular se postergou como um Pensador da Pátria que serviu para ampliar a relação de importância tanto do Império quanto da República, afinal era nas questões fundamentais do País que estava focado suas ideias e ambições.
Ao tempo em que lutava arguidamente para soerguer a soberania social colecionava inimigos em tribunais e palanques; foi do céu para um inferno tramado por outros interesses políticos e intelectuais, onde, às vezes, a vaidade transpunha o lugar comum enumerando o real sentido de uma luta para consolidar um País através das relações diplomáticas que corroboravam para celebrar os princípios democráticos.
Joaquim Nabuco é o exemplo de político que idealizava os nortes dos acontecimentos futuros. A trama dos seus dias já tinha se configurado quando lembrado pelos feitos do Pai, José Tomás Nabuco de Araújo (1813 – 1878), Ministro da Justiça e Conselheiro do Imperador, Dom Pedro II, sendo profundamente significativo quando a tônica era pensar as questões que pontuavam o cenário federativo.
Por esse veio genético se configurou o pensamento do homem que idealizou a libertação dos escravos como bandeira atemporal, de fatos que não cabiam numa reflexão de curto prazo, mas reberverava por séculos, pois a escravidão era parte da estrutura mental do homem daquele tempo. Essa estrutura perversa, que durou quase três séculos e meio foi o objeto maior dos anseios deste nobre pernambucano.
A importância de Nabuco para estes dias de incertezas e de crises significativas para a representação social é parte da crise de referenciais no território da política e serve para que se pense na importância da autoridade política como parte do pragmatismo público que gerencia os interesses do povo brasileiro. Por isso é importante pensar nos feitos de Joaquim Nabuco como o elo para se alcançar o etos de Nação Civilizada.
Os embates que vivenciou na vida pública definiram sua marca no conceito de nacionalidade, tendo em vista que sua atuação na causa da escravidão foi decisiva para formar o pensador, transgressor, das novas narrativas que se consolidavam no seio da sociedade do seu tempo. De formação acadêmica e de círculos literários muito producentes, sua vida pessoal foi bastante movimentada. Integrado na transição do Império à República, formou-se no Direito, desafiou estruturas, amou, sonhou, foi homem de letras. Seu abolicionismo era radical e orgânico.
Com o advento da República, vê-se diante do desafio de articular modernização política e tradição aristocrática. É essa visão de mundo, que transita entre passado e futuro, recheada de decepções, que lapidou o perfil de Nabuco. As tramas da sua existência se elevam simultaneamente entre os contextos de uma época em que se vivia paz interna e prosperidade econômica em um sistema político funcional. Era o ambiente do Período do Segundo Reinado. Período de intenso desgaste nas relações que definiam o primado do capital humano, quando no Brasil se consolidou a noção de unidade nacional.
A prática intelectual trouxe a Nabuco o equilíbrio necessário entre a moral aristocrática (tradição) e as aspirações de motivação social (reformas). Nabuco era público e notório quando a articulação política não alcançava a denominação da promoção do escravo como cidadão, por isso foi golpeado diversas vezes por autoridades políticas e hierarquias sociais.
O porte estético de Nabuco também incomodava; desde cedo recebeu a alcunha de “Quincas o Belo” ─; reacendendo seus dias de criança no Engenho Massangana, no enleio de uma infância primorosa, aos dias de poeta, boêmio, cortesão, apegado à boa vida, nas ruas de Londres ou Paris. O fato é que um homem belo produz muitos inimigos, e quando se atem ao usufruto de unir beleza, literatura e elegância, as boas maneiras transcendem a utilidade prática, porém era indispensável na composição do seu universo de dândi. Era tudo o que faltava nos seus adversários políticos, pois o perfil intelectual dos Republicanos seguia outras orientações ideológicas e estéticas.
O que pensava Nabuco para o Estado Nação? Suas orientações aristocráticas defendiam uma Monarquia Federativa, pretendo manter as tradições numa perspectiva laica que contribuísse para sanar as dividas sociais que o lastro da escravidão deixou; outra ambição era a indenização dos escravos, dando-os muitas terras para trabalhar. O Poder Moderador seria mantido como um pressuposto constitucional independente, dando ao povo o poder de deliberar os rumos democráticos para os novos tempos. Portanto, o projeto idealizado, de emancipação, arrojado e moderno, ficou pela metade e a desigualdade social se reflete nos limiares da contemporaneidade. 
Em meio a tantas turbulências no contexto do liberalismo econômico, o que faz de um ser humano um mito? Alguém poderia dizer que é a sua força de expressão, as obras produzidas, o olhar multicultural ou até a capacidade de reunir forças para se projetar politicamente em meio a tantos enredos macabros no jogo político que governa o povo, deliberando as relações diretas com a opressão ou até com a manutenção de uma prática discursiva que lega a miséria de muitos. Joaquim Nabuco esteve sempre a frente do seu tempo porque reunia todas as grandes virtudes de um aristocrata bem formado, possuindo uma elegância sintomática nas ações de um perfeito cavalheiro, que na posteridade se mantém vivo nos sonhos de liberdade em tempos de censura livre.
E para referendar ainda mais sua obra contra a escravidão – seu legado maior –; o próprio Nabuco proclama: “[...] a escravidão para mim cabe toda em um quadro inesquecido da infância, em uma primeira impressão, que decidiu, estou certo, do emprego ulterior de minha vida”.


Nabuco no Tempo e no Espaço


O itinerário de um homem público quase sempre é cheio de fatos que oscilam entre momentos altos e baixos. O que dizer de Joaquim Aurélio Barreto de Nabuco de Araújo, um intelectual diletante que transformou sua vida num acontecimento político? Filho da elite, pensador do seu tempo, autor de obras que elaboraram uma reflexão sobre o Segundo Reinado com olhos voltados para o futuro, onde procedentemente volta-se contra a classe social onde nasceu para pensar os destinos de uma nação com etos de civilização.
Assim se formou o pensamento de Joaquim Nabuco, filho do Senador e Ministro da Justiça José Tomás Nabuco de Araújo (1813-1878) e de Dona Benigna de Sá Barreto. Ao olhar o Brasil que nascia com a República, produz uma obra que traça grandes reflexões para o futuro desta nação que já nasceu grande, sabedor que o grande problema a ser solucionado naquele período seria também um enorme entrave na solução prática das questões que surgiriam para definir o papel do Estado na condução dos acontecimentos futuros: a escravidão.
A escravidão era o problema do Brasil e por isso foi um intelectual de vigor, quando da Campanha Abolicionista, passando ao desencanto, quando nos primeiros tempos da República via com olhos desfavoráveis os rumos e as decisões políticas tomadas para elevar o tom da nacionalidade cultural brasileira. O resultado do entusiasmo dos primeiros anos deu lugar a renúncia à vida pública passando a um recolhimento pessoal, dedicando-se a vida intelectual.
De combativo ao desencanto, sua militância passa a ser o de analista conservador na maturidade, dando lugar a uma produção acadêmica que legaria de forma nem sempre harmoniosa um lugar significativo a construção histórica do Brasil na posteridade.
Nabuco nasceu numa família influente e era parte de uma geração luminosa e notável que ensaiava os novos rumos com a maestria do contexto do Século XIX. Essa geração incluía nomes como o escritor Machado de Assis (1839-1908), o crítico literário e ensaísta Sílvio Romero (1851-1914), o engenheiro André Rebouças (1838-1898), o diplomata José Maria Paranhos Júnior (o Barão do Rio Branco – 1845-1912), o Poeta Castro Alves (1847-1871), o jurista Tobias Barreto (1839-1889) e tantos outros como o Poeta Álvares de Azevedo e o escritor Raul Pompéia.
A qualidade intelectual dessa geração era tanta que o contexto era favorável a produção intelectual, numa época que já nascia velha, pois ao tempo que tramavam a consolidação do pensamento cultural desta Nação, o jogo político convertia desigualdade em causa sem prioridade. Daí esse ser um dos principais motivos para o desencanto de Nabuco.
O Brasil daqueles primeiros anos de República era um País desprovido de ambições humanísticas, é fato que a escravidão ou a mentalidade escravocrata nunca deixou de permear decisões nem autorizou o espírito inovador deste povo, onde o anseio por reformas sociais desse o tom de notoriedade para a consolidação de valores que estivessem ao nível de um país realmente republicano com inclusão social.
O Brasil que era idealizado por Joaquim Nabuco previa a consolidação da Monarquia Parlamentar, com uma constituição forte, que salvaguardasse a unidade nacional, promovendo a alternância das camadas dirigentes, sob a regência e a mediação do Poder Moderador da Coroa. Outra ambição de Nabuco era a indenização do negro alforriado onde o Estado oferecesse terra para a uma permanência maior do trabalho no campo, evitando com isso o inchaço das cidades maiores e a permanente manutenção das riquezas sendo distribuída de forma a garantir a produção e o progresso com equidade social.
Tudo isso foi deixado de lado quando da Abolição da Escravidão, mesmo sabendo que a economia brasileira se ergueu principalmente com o desenvolvimento da cafeicultura entre 1848-1888. (ALENCAR, 2010).
O Segundo Reinado é marcado por investimentos importantes na área de infra-estrutura, como portos e ferrovias, garantindo rendimentos significativos para a estabilidade monetária, o que contribuiu para criar certo sentimento de segurança, sobretudo entre as elites e as populações das grandes cidades. É nesse período que Joaquim Nabuco consolidará sua formação intelectual e suas motivações políticas.
Nabuco morreu antes de completar 62 anos, em 07 de Janeiro de 1910, em Washington, nos Estados Unidos, onde exercia a função de Embaixador do Brasil naquela nação, já em profícuo processo de desenvolvimento.
Nos 10 anos (os últimos de vida) como Diplomata teve atuação destacada, representando o Brasil em grandes negociações financeiras, culturais e na consolidação do discurso de soberania nacional, pois sua estada nos EUA serviu para orientar e definir outros rumos nas relações diplomáticas, muito pelas habilidades políticas que possuía motivadas principalmente pela erudição intelectual que transitava e ampliava a impressão que se tinha do País em questões de direito territorial, ao tempo em que causava boa impressão nas questões econômicas e políticas que o Estado Brasileiro exercia com outras Nações. (ALONSO, 2007).
Nesse período, o entusiasmo e a força dialética de Nabuco foram de extrema importância, pois de forma bilateral eram discutidas e estreitadas muitas relações, mostrando que o Brasil nunca esteve em posição de comando no cenário mundial, mas influenciava de maneira expressiva na formulação de políticas internacionais. É desse tempo o respeito que os Estados Unidos da América (EUA) passou a ter pelo Brasil como nação forte. A organização da 3ª Conferencia Panamericana no Rio de Janeiro, é um exemplo porque aproximou o Estado Americano da política econômica que se desenvolvia aqui na América do Sul pelo Brasil com prosperidade e econômica e paz interna, sob um sistema funcional. (ALENCAR, 2010).


A Escravidão


A formulação de uma política expressiva manteve o Brasil em posição de acolhimento internacional, dialogando de forma bilateral com os processos econômicos. Esse fator faz do Nabuco Embaixador o porta voz de uma Nação forte e respeitada. Sua distinção intelectual favorecia tais características, haja vista que suas habilidades culturais retratavam a estirpe de um homem possuidor de erudição, fazendo de sua imagem social e política a própria imagem do Brasil numa seqüência ilustre de interpretação e respeito.
A escravidão foi sempre a mácula que a história do Brasil deixava para a posteridade e foi também a grande luta do Nabuco amadurecido que negociava de igual essas relações culturais quando o foco era refletir o passado e propagar as grandezas culturais do povo brasileiro.
Ao se afastar da vida pública durante a década de 1890, ele escreve textos que denunciam a dramática narrativa dos cativos ou o comportamento da sociedade brasileira diante do horror da escravidão.
Durante o período de militância abolicionista, Nabuco foi não apenas o tribuno combativo, mas também um dos primeiros intelectuais a colocar sua obra a serviço da reflexão. “Ele apontou o caráter orgânico do sistema escravagista, sua simbiose com a sociedade brasileira como um todo, seus efeitos deletérios sobre o desenvolvimento econômico e a forma de apropriação da natureza. Enfim, tudo aquilo que se tornaria o senso comum de boa parte da literatura sociológica atual sobre o assunto foi antecipado por ele em um pequeno livro de 1883, O abolicionismo”. (ALENCAR, 2010. p. 38).
No Abolicionismo Joaquim Nabuco denuncia o caráter predatório e a natureza economicamente estanque que caracterizava o regime servil. Era o aparecimento de uma luta humanística que serviria para pensar o Brasil em toda a sua extensão dando rumos novos ao reverso que a política escravagista permeava por meio da escravidão, tornando o tecido social fragmentado diante dos interesses hierárquicos que contextualizava os desmandos sócio-políticos da aristocracia reinante.
Era o anúncio e a denúncia de que a escravidão corria no sangue da nação brasileira, mas que não devia ser percebida de forma determinante. O Brasil se abria à reflexão e projetava tempos de modernidade econômica numa perspectiva tardia que somente se consolidaria com o fim do trabalho cativo. Era o prenúncio de uma revolução na estrutura mental e cultural da Nação para unir diversidade, tradição e reformas como etos de civilização.
A análise de Nabuco foi muito além, prevendo o diagnóstico que caracterizava as relações entre a sociedade brasileira e a sua cultura perante a modernidade que se fazia urgente: sanar dívidas sociais com equidade e justeza.

O Estadista


Ao se afastar da vida pública, Joaquim Nabuco ressignifica sua lenda pessoal e se projeta como o escritor da memória nacional. Os passos se refazem com o exílio em Botafogo nos idos de 1890, quando de fato foge do burburinho social e passa a analisar de forma histórica os descaminhos e as próprias decepções existenciais. Seus escritos trazem a pretensão de um estudioso do Brasil, marcando os efeitos dos primeiros anos republicanos, mas suas reflexões são maiores que os lugares dos acontecimentos, pois demarcam ares de saudosismo relatando inúmeras formas de continuísmo com reformas nacionais de forma pontual, frente ao horror à sociedade da desigualdade e o temor de uma nação sem tradição nem a construção de nacionalidade que resultasse num esforço de civilidade sem os arranjos formativos que resultariam num povo sem referencias, vítimas do regime escravista.
O conjunto de sua obra se impõe diante da disposição para o restabelecimento de uma historiografia nacional que unisse liberdade de expressão, funcionamento do regime parlamentar com um sistema político-administrativo forte, tratando os desiguais com o cuidado que o Estado de Direito provém como garantia a uma cidadania inclusiva. Essa linha de pensamento delinearia os eixos maiores para a narrativa da história nacional.
Nesta fase saudosista e mesmo memorialista, Nabuco escreve o livro Um Estadista do Império, onde se oferece para dialogar sobre o ambiente político do Segundo Império tendo o Pai como objeto de análise em seu tempo histórico. A tarefa se proponha a redigir o pensamento de um dos pilares do regime que sucumbia: José Tomás Nabuco de Araújo. Nesta obra, procura demonstrar a estreita simbiose que unia a Coroa aos homens de talento saídos do Parlamento. (ALENCASTRO, 1997).
O fato é que a análise proposta confrontava ambições e incoerências, dando vida a um regime com propostas necessárias, configurando os aspectos condicionantes da realidade política oitocentista, ao tempo em que salvaguardava a memória do Pai, confrontava o pensamento oligárquico com a descrição nem sempre parcial da história política do Império. Esse enfoque desembocava numa interpretação conservadora, porém altamente significativa para retratar uma situação histórica inconsistente. Nabuco permanece um adepto da grande política nacional e narra de forma inteligente os eventos regionais daquele período, fazendo um paralelo crítico daquela reflexão anteriormente elaborada pelo Pai quando analisou eventos como o da Revolução Praieira (1848-1849). Desse ponto de vista, Nabuco, ao fazer a biografia do Pai, escreve, verdadeiramente, a história política do Império. (ALENCASTRO, 1997).
O livro expressa ainda a nostálgica reflexão sobre a unidade nacional, quer quando pensa o jeito de fazer política que se desmoronava na República Federativa, quer quando insere as questões fundantes dessa nacionalidade frente a globalização anunciada. Na verdade, o livro anuncia uma reconciliação e uma retirada na vida e no pensamento de Nabuco, pois refaz o Homem Maduro, quando escreve, e aqui a análise é do próprio Joaquim Nabuco, quando corta arestas entre uma e outra geração, um e outro regime para notificar de forma prudente as bases genéricas da continuidade que pretende historiar.



Considerações Finais


O conjunto da obra de Joaquim Nabuco amplia o pensador que ele foi para o seu tempo e espreita qualquer observação que não seja a de que pensou a política brasileira com a sincera convicção de que a história necessitaria. Sua radicalidade em O abolicionismo anunciava o que de mais importante precisava ser denunciado: a escravidão. O recuo conservador veio com o livro Um Estadista do Império, recuo necessário para assegurar a continuidade da sua história e da história do País ─; mais tarde eternizada de forma poética no livro Minha Formação, onde ele afirmará seus valores, pretensões, anseios, decepções e ambições.
Uma de suas últimas ambições, partilhadas com os amigos mais próximos como o escritor Graça Aranha, era a pretensão de ser nomeado Ministro de Estado, anseio que nunca se concretizou devido ao fato de não ter aceitado de imediato os prenúncios republicanos. O sonho de ser Ministro não se consolidou, mas fez do Nabuco Maduro um perfeito Embaixador participando em outras áreas da consolidação do Estado Brasileiro. Nabuco chegou a reconhecer os impactos da indenização no orçamento do Império, mas nunca abriu mão da causa da emancipação imediata dos cativos como ação do Estado para garantir liberdade ao povo sofrido das senzalas.
Nabuco enfatizava no livro Minha Formação que “(...) os escravos, para ser livres, teriam de esperar que as finanças do Brasil se consertassem? Não há nada que nos obrigue a continuar uma prática reputada criminosa pelo mundo inteiro, somente porque não temos dinheiro para desapropriá-la... O Brasil não é bastante rico para pagar o seu crime!”.
Seu último posto no exterior foi o de primeiro Embaixador do Brasil na capital norte-americana. Morreu republicano em 1910, e é considerado o Pai da Pátria. Deixou um legado como pensador, ao descrever o Brasil a partir de um diagnóstico doloroso e vivo ─; a noção de que o país estava condenado a permanecer como nação de segunda classe enquanto não resolvesse seu problema com as mentalidades escravocratas. Deixou escrita uma profética afirmação: “(...) a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.
Suas idéias se destinaram a renascer na obra de outros pensadores que porventura nasceriam no futuro, defendendo causas tão nobres quanto as que o mesmo defendeu e, sabemos que outros autores deram continuidade ao seu legado quando acima de todos os desafios, outros Nabucos nasceram sonhando com um Brasil cívico, ilustre, sincrético, miscigenado, forte, dono de um retrato esplendoroso, sobre o qual repousa o Herói da Abolição.


Para Saber Mais:


ALENCAR, José Almiro de. “O Pensamento de Joaquim Nabuco”. In: Ciência Hoje, 2010. p. 35-39.

ALENCASTRO, Luiz Filipe de. “Um Estadista do Brasil de Sempre”. In: Revista Veja, 1997. p. 142-144.

ALONSO, Ângela. Joaquim Nabuco: os salões e as ruas. − São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BONAFÉ, Luigi. “O Demorado Adeus a Nabuco”. In: Revista de História, 2010. p. 44-48.

LEITE, Paulo Moreira. “Ideias de Um Século”. In: Revista Veja, 1999. p. 146-148.






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