sexta-feira, 9 de março de 2012

Carta a Um Jovem Escritor





Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


O despertar de um novo escritor se completa quando os sentidos de sua existência atentam-se para as fronteiras do seu interior, numa intensa repulsa marcada pelas sagas e lendas de suas experiências com a solidão. Esse despertar demarca a sua existência transferindo forças para a grande viagem do conhecimento rumo aos grandes mistérios criados pela realidade. É neste momento que o labor da escrita norteia a vida de quem se entrega a essa mistura de sentimentos valorizada pela autocrítica. E o auto-conhecimento influencia o dissipar sintomático para certa liberdade, conquistada pela coragem de se fazer habitado por muitos mundos.

Neste contexto, o fabulista conjuga a natureza de forma reveladora, para materializar o trágico e o belo no desenrolar de um sofrimento solitário, que ao mesmo tempo é sóbrio e envolvente na contemplação das tristezas do mundo. Esse universo se reúne através da crença nas idéias; entre elas, o poder de sintonia segue colhendo entusiasmos através da introspectiva noção do criar. Afinal, o universo literário segue a ordem vital na coerência de se mostrar deslumbrante, fantástico, mágico.

Impressionei-me ao ver todo este entusiasmo revelado nas imagens do livro O mesmo outro do jovem poeta e também professor universitário Josemar Martins da Silva (Pinzoh), pois vem do próprio punho tal confirmação; seja através das letras, seja na idealização dos desenhos poéticos, na estrutura do livro, seja na certeza de um trabalho com a emoção.

E agora, sobre a própria condição do escritor ao descrever sua busca pela palavra escrita, ele afirma: “(...) não há poesia apenas no poema. Muitas vezes um texto conceitual também tem poesia. A poesia me interessa, não apenas a que escrevo, mas a que consumo. Então o livro mostra também o que sou e o que consumo, é resultado dessa trituração daquilo que eu acesso como poesia”. A solidão acena para o amadurecimento e ressuscita o homem velho. Esse processo requer reflexão, paciência e humildade. Qualquer pessoa que se aventura pelos caminhos da poesia percebe a indizível expressão que se afirma amadurecida no encontro dos mundos; ora habitado pelo silêncio, ora habilitado pela incompreensão.

Em O mesmo outro, esta presente intensamente o sentimento terno do recolhimento, reconhecido mutuamente pelas revelações que surgem na fragilidade infinita do ser que escreve e dá vida a textos com idades diferentes. Pinzoh, como é mais conhecido, tece sua teia como uma cocha de retalhos por entre plagas quase sempre certas “(...) A poesia não é minha atividade rotineira, é meu espaço de evasão. (...) sempre escrevi poemas, quando me apaixonei, quando me entusiasmei, quando me desiludi, quando me cansei, quando me indignei, quando perdi o sono. A poesia e outros formatos de escrita literária são o meu espaço de excedência, (...)  é minha inscrição rupestre no fundo da minha caverna”. 

Parece contraditório que o autor queira uma posteridade tranqüila quando suas potencialidades evidenciam outras virtudes que já nasceram velhas, mas refazem o ser que reverencia sua paz interior com as significações da criação para reinventar os motivos de suas reflexões ao se deparar com o profano e vive-lo com o mesmo afã com que vive as recorrências do sagrado no eterno ir e vir do infinito nos retoques da vida social, fazendo tudo isso coincidir para a mesma órbita de elegância dada às imagens que retocam a tortura e o assombro margeado pela aflição e pela crueldade dos infortúnios das relações humanas.

Pinzoh parece mostrar a outra face do Poeta que adormece isento de badalações, ao tempo em que evidencia uma produção artística derivada de uma busca pessoal pela proclamação da palavra... “(...) A minha expectativa não é a de que este livro vire um Best-Seller. Apenas vou mostrar o que escrevo, não estou preocupado com a critica, principalmente não estou preocupado com a critica ressentida, que sei que há muito por aí. Mas me interessa a recepção, porque isto me dirá até onde o que escrevo pode interessar e pode ser aceito como poesia. Eu sei que existem círculos literários com nomes diversos, muitas vezes restritos, que acham que você tem que pedir a benção a eles. Mas este livro não é um pedido de inscrição nesses círculos. Não estou pedindo licença ou desculpa para escrever e publicar”.

São estes os elementos descobertos nas imagens deste novo iniciado na literatura que precisam ser percebidas ao longo de sua leitura, como estigmas centrais nos desencaminhos a serem enfrentados rumo à consolidação da palavra escrita. Cabe ao próprio Josemar Martins (Pinzoh), a partir de agora, dialogar consigo mesmo para saber empreender novos rumos a sua descoberta poética; onde a percepção do humano possa lhes dar vazão à sinergia da humildade, quando a busca pessoal pela integridade lhe assegurar intima convicção do livre-pensamento, ficando claras suas imperfeições, desejos e suas futuras odisséias nesta nau que o transporta para uma longa viagem pelo tempo, que sejam plenos as suas vontades, mesmo quando se encerra no mesmo eu a procura de si: “(...) eu procuro levar a poesia para outro lugar, onde ainda podemos, talvez, saborear aquilo que a palavra pode oferecer, em seu turbilhão cores, sabores e avessos (...) Acho que, muito longe desta pretensão de explicar qualquer coisa, ou de dar reconhecimento de nada, o livro chama O Mesmo Outro porque expõe, por um lado, um trabalho que muita gente que me conhece não sabe que eu faço, e por outro lado porque, este que se mostra nos poemas, também está em processo de permanente transformação. Por isso é o mesmo, mas é, ao mesmo tempo, outro”.



Para Saber Mais:



FARIAS, Gênesis Naum de Farias. “O Professor Pinzoh revela-se em O mesmo outro”. ─ São Raimundo Nonato/ PI, 07 de Janeiro de 2012. Nota de Entrevista.


PINZOH, Josemar Martins. O mesmo outro. ─ São Paulo: Scortecci Editora, 2011.

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