sábado, 12 de maio de 2012

O Silêncio do Monge




Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.


O Budismo é uma filosofia de vida que está intimamente ligado aos problemas do dia-a-dia, por isso o caminho ascético fulgura uma presente nova vida ─; longe dos grandes debates e dos enfadonhos dilemas existênciais, o silêncio, a oração, o jejum e a meditação tornam suportáveis a realidade. Por isso, muitos destes homens de fé são autorizados pelo silêncio a se refugiarem na torre de si mesmos para fugirem da mediocridade torpe do mundo. No silêncio da meditação, trabalham o espírito numa tentativa de comunicação com o Cosmo buscando comunhão. O Cristianismo é outra forma de religiosidade que prega que quem caminha na vida não anda sozinho,  basta viver em comunhão. E comunhão é tudo.

Dizem os antigos que os místicos falam com Deus sem precisar de interceptores, chegando a ouvi-lo dentro de si. É importante frisar este fenômeno para demarcar a caminhada espiritual. Os confessos eremitas do deserto se prestam a um serviço solitário para a humanidade porque oram pela paz no mundo, no arduo caminho de suas atribulações. Como querem os velhos sábios, a vida é uma eterna descoberta de si e, já não há tendências filosóficas que não demarquem seus territórios na construção da vida que segue sua atribulada manutenção de sobrevivência. A mesma tem se mostrado clara quando seus descaminhos franqueiam interesses, compensações, depurações e incertezas.

Do exposto, fica a breve certeza de que a mudança interior tem que começar em cada ser humano. Ou seja, é preciso aprimorar-se por dentro para alcançar os resultados de que o mundo precisa. Dito isto, tudo fica mais explícito quando se pensa nas escolhas que provocam a existência a mudar a realidade de todos. É preciso fundir esses aprimoramentos para efetuar avanços significativos na doce e mágica verdade da vida; que traz o trágico e o belo como elementos paradoxais.

Já dizia o Poeta Pernambucano Manoel Bandeira: estou cansado de lirismos comedidos. O que queria era o lirísmo dos bêbados e toda a poesia circunstancial do improvável, do impagável e das coisas feitas de silêncio e luz. É de se esperar dos homens que aumejem: o silêncio dos sábios, a certeza das coisas vãs, a liberdade dos loucos, a beleza dos céus, a caridade dos homens, a humanidade dos incultos, a grandeza dos fracos.

O grande Poeta Francês Charles Baudelaire dizia em versos que o homem devia ser maior que as circunstancias. Por isso, da realidade e suas tragédias, se deve apenas colher o que ela tem de mais aparente, pois já não há como fugir dela e de seus efeitos. A clausura e o isolamento que emana dos problemas da própria realidade tem se tornado dona de muitas crises pelo mundo a fora, passando a se pensar que a ordem dos discursos por ela elucidados é implacável com os que falam e vivem uma verdade ou a publicam nos jornais.

Enfim, toda verdade é fruto de muitas inverdades e, para os homens sinceros, suas reais individualidades já não podem mentir para si mesmos. No fundo a humanidade não dá crédito às suas próprias verdades como metanarrativas prontas porque continua cada vez mais apodrecida, infiel, imprudente, intolerante, carrasca, escravagista, doente, feia, perversa e incoerente. É sempre bom lembrar as palavras do filósofo Francês Jean Paul Sartre quando se efetuar perguntas à efêmera realidade em seus territórios de desumanidade: “o essencial não é o que foi feito do homem, mas o que ele faz daquilo que fizeram dele”.

Para entender a força que tem o silêncio na evolução dos seres humanos como elemento de virtude e sabedoria, é sempre bom recordar o que o filósofo Plutarco deixou para a posteridade: “ A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir. Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só causa sede como confere um traço de nobreza”.

Há um ditado Chinês que diz; “Quando as tropas inimigas invadem, os generais combatentes resistem. Quando chegam às águas, a terra as contém...”. Portanto, é imperativo que todos desenvolvam o ato da bondade e da humildade, porque ninguém está isento da lei universal do Carma e da Casualidade.

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